Eugênio CunhaDivulgação

"Quem estará nas trincheiras ao teu lado é o que importa”. Essa advertência, atribuída ao escritor americano Ernest Hemingway, vale como reflexão diante do dilema histórico que permeia a educação em nosso país. A frase, certamente não se refere objetivamente aos profissionais da educação, mas à guerra. Porém, podemos aplicá-la ao nosso ofício, pois educar tem sido lutar e, educar plenamente, é sobreviver permanentemente na resistência, entrincheirado, diante das inúmeras questões contemporâneas.
Educar não é somente uma luta, é também uma arte, porque demanda uma fecunda subversão. Educar também é um desejo, porque está ligada à arte de sobreviver, viver e vencer o medo. O medo do cotidiano, cada vez mais intimidante. O medo de não subjugar as frustrações, de não superar as desilusões e de achar que podemos não conseguir.
O medo de não suplantar o pior para tudo ficar melhor. O medo de não dar conta da matéria, que não é apenas o conteúdo, mas o humano que se transfigura em absurdo e violência contra sua integridade, seu trabalho.
Essa reflexão nasce pelo Dia Nacional dos Profissionais da Educação, que é celebrado em seis de agosto. A data foi estabelecida pela Lei nº 13.054/14. O objetivo, mais que apenas homenagear os educadores, é reconhecer sua importância na formação de uma nação.
Todavia, poucos jovens, que estão hoje concluindo o ensino médio e que se encaminham para a universidade, desejam trabalhar na educação. As preferências, obviamente, são para uma profissão que não pague salários baixos e ofereça condições adequadas de trabalho. É notório que a educação não traz essa perspectiva, pelo menos em nosso país. Por isso, tende a não despertar interesse entre as gerações mais jovens. Como resultado dessa conjuntura, algumas instituições e redes de ensino já enfrentam dificuldades em contratar professores. Ademais, muitos “entrincheirados” já quiseram abandonar seus postos.

Entre os motivos estão o baixo retorno financeiro, a falta do reconhecimento profissional, a carga horária excessiva, a falta de interesse dos alunos e o abandono. Reverter esta tendência exige uma série de ações por parte do Poder Público e da sociedade, incluindo inevitavelmente as famílias dos estudantes.
Além de todas as objeções levantadas neste pequeno artigo, pouco se tem falado da saúde mental e emocional do profissional da educação. Cada vez mais a sociedade o vê como responsável para a solução de impasses que vão além dos muros da escola. São as tensões da vida, da criação dos filhos, dos conflitos sociais e familiares e, obviamente, da aprendizagem humana. Querelas que se avolumam junto aos dilemas profissionais. Para sobreviver, é preciso estar em trincheiras. É ali que as sementes da coragem são plantadas. Resta saber quem estará ao nosso lado.
Eugênio Cunha é professor e doutor em educação