A cidade do Rio, e sobretudo os mais pobres e vulneráveis, se despediram de uma mulher forte, corajosa e que em toda a sua vida enfrentou desafios.
Mariangeles Maia foi a Primeira Dama da cidade do Rio e Presidente da Obra Social por 12 anos: entre 1993 e 1996 e, posteriormente, entre 2001 e 2008. Acumulava as duas funções e uma completava a outra. Não gostava de entrevistas, mantinha uma discrição total de seu trabalho.
Não sentia qualquer necessidade ou desejo de ser notícia; o importante era a missão que esteve em suas mãos por 12 anos.
Durante o 1º mandato de Cesar Maia à frente da Prefeitura do Rio, Mariangeles se dedicou a construir creches. O Prefeito havia decidido que daria total importância para a primeira infância e romperia com as creches que apenas cuidavam e "guardavam" crianças. A decisão era implantar uma rede de educação infantil.
E foi além.
Mariangeles era uma mulher atenta às dificuldades da cidade e, em 1993, soube que Lucinha Araújo precisava de uma casa para a Sociedade Viva Cazuza cuidar de muitas crianças nascidas com o HIV. Não perdeu tempo. Entregou a então sede da Obra Social para ser esse lar, em Laranjeiras.
Ela era assim. O que tinha importância eram as crianças e não o local que ela iria trabalhar. Em seus quatro primeiros anos na Obra Social, foi uma facilitadora social e colaborou com entidades, associações de moradores e equipamentos públicos.
A partir de 2001 retomou a presidência da Obra Social com o retorno de Cesar Maia à Prefeitura. Dessa vez ficaria mais oito anos. Trabalhou com coragem em cinco frentes: qualidade de vida para os idosos, segurança alimentar para os pobres, capacitação profissional para os desempregados e proteção aos animais, além de um permanente pronto socorro social que funcionava na Obra e recebia dezenas de pessoas todos os dias precisando de apoio.
Muito antes da Leis Maria da Penha e do Feminicídio, criou um abrigo seguro para as mulheres vítimas de violência doméstica e seus filhos, que a partir de então poderiam fazer a denúncia da violência, pois estariam protegidas do agressor.
Cuidou com capricho das obras e da implantação do Centro de Cidadania Rinaldo de Lamare, em frente à Rocinha. Um prédio multi social que em seus 13 andares havia creche, centro de referência da Assistência Social, centro de reabilitação para pessoas com deficiência, escola de hotelaria e de gastronomia, unidade de saúde bucal. Foi um avanço extraordinário para a comunidade da Rocinha e adjacências.
Nos 12 anos de muito trabalho silencioso deixou 13 Cozinhas Comunitárias, 25 creches, dezenas de hortas comunitárias, oito Casas e um Centro-Dia para a Convivência dos idosos, 10 Casas de Capacitação com diversos cursos, uma escola de gastronomia, uma escola de hotelaria e o primeiro abrigo municipal de animais que foi referência para o Brasil.
Uma certeza todos tinham: se Mariangeles estava comandando a ação, o cuidado seria a marca. A melhor tradução sobre ela? Era uma protetora de vidas!!
Mariangeles Maia seguirá viva em seu legado, em seu exemplo e em sua absoluta sinceridade com tudo o que fazia.
Marcelo Reis Garcia é ex- secretário municipal de Assistência Social
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