Isa Colli é escritora e jornalista Divulgação
Isa Colli: O caso do metanol e o valor da vida
Há quanto tempo o ser humano deixou de respeitar a vida e passou a colocar o lucro acima de tudo? Essa é uma pergunta que ecoa nas esquinas do mundo moderno — e, talvez, dentro de cada um de nós. Vivemos numa sociedade em que a pressa por resultados imediatos e o fascínio pelo poder econômico parecem justificar tudo: da degradação ambiental à manipulação de produtos que chegam à mesa e à saúde das pessoas.
O caso do metanol em bebidas é apenas mais uma face desse problema. Não é uma questão de fé, nem um debate moral sobre quem bebe ou deixa de beber. É sobre responsabilidade. É sobre o quanto nos tornamos tolerantes com práticas que colocam em risco a vida humana. Quando uma substância é utilizada sem transparência, quando a saúde do consumidor é tratada como um detalhe, estamos diante de algo muito mais grave do que uma simples escolha de produção — estamos diante de um colapso ético.
Quem é capaz de ignorar o risco do outro por dinheiro também é capaz de envenenar o alimento que você consome, de manipular matérias-primas de medicamentos, de saturar produtos com conservantes e princípios ativos nocivos à saúde. Tudo em nome de uma falsa ideia de progresso. Um progresso que enriquece poucos, adoece muitos e empobrece o planeta. Isso quando o objetivo não é simplesmente o lucro a qualquer custo.
É triste perceber que a lógica do lucro se infiltrou até nas decisões de quem deveria proteger a população. Quando governos se omitem diante de práticas abusivas, ou, pior, se tornam cúmplices de políticas que priorizam o mercado em detrimento da vida, a confiança se rompe. Um governo não é de um grupo, de um partido ou de uma empresa. É — ou deveria ser — de todos. E isso significa cuidar da integridade física e emocional de cada cidadão, garantindo que o interesse coletivo prevaleça sobre qualquer ambição individual.
Mas onde foi que nos perdemos? Quando o ser humano passou a achar que a vida tem preço? A pressa em produzir, vender e lucrar transformou o planeta num grande laboratório de riscos. Estamos respirando o ar contaminado das indústrias, comendo veneno disfarçado de alimento, bebendo substâncias sem saber exatamente o que há nelas. Tudo isso é resultado de uma engrenagem movida por ganância e falta de compaixão.
O caso do metanol nas bebidas é, portanto, um alerta vermelho. Ele nos convida a despertar — a questionar o que consumimos, quem lucra com isso e a que custo. É hora de exigir transparência, ética e humanidade nas relações de produção. Porque progresso de verdade não é aquele que destrói silenciosamente, mas o que constrói com responsabilidade.
A vida precisa voltar ao centro das decisões. Antes que seja tarde demais.
Isa Colli é jornalista e escritora

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