O sol esquentava o dia no dia próximo ao natal. O sol é metáfora da luz. A luz está no nome e nos olhos de Maria Clara.

Era o dia do seu batizado. A Igreja, o Liceu Coração de Jesus, no centro de São Paulo. No centro da celebração, o amor. O amor de Mariana e Tony, os pais. O amor como símbolo das águas do batismo. As águas que nascem em fontes e que alimentam a vida de vida.

O padre Pedro explicava. Os sacramentos são sinais visíveis da graça invisível. É preciso ver além. Vidas que vivem o que veem apenas vivem pouco. Vidas que veem o sagrado sacralizam o viver.

Maria Clara é Maria, como a mãe de Jesus. E é Clara, como a santa de Assis, que seguiu Francisco, que viu o sagrado do viver vivendo para cuidar de amar a humanidade inteira presente em cada irmão naquela cidade.

Fui o padrinho com a minha sobrinha e afilhada, Gabrielle, que tem dentro de si a semente de uma vida que se nutre do amor da mãe para estar inteira no nascer para o mundo grande. Será Gabriel, como o anjo que disse à Maria que o Amor a havia escolhido.

O Amor escolheu Maria Clara para ser amada e para amar. Como toda criança. Toda vida que explica que a humanidade continua nascendo. E que as fontes trazem água limpa para dar esperanças de dias melhores.

Depois do natal, vem o ano novo. É assim nos calendários. Há orações e festejos mundo afora. Há lágrimas, também. Há emoções que querem elevar, que querem dizer que tudo será melhor. Que o novo ano pode clarear os caminhos e fazer do viver a arte de encontrar a felicidade.

Maria Clara ainda não sabe de saber o que é a felicidade. Sabe de sentir. De sentir o amor que a prepara para os dias em que estará só. Decidindo a vida. A sua e a dos outros. É para isso que nos preparamos desde sempre. Para decidirmos a vida. Para experimentarmos a liberdade de ver o visível e o invisível. E de oferecer o que vemos para a humanidade inteira, na humanidade que nos cerca.

Nas cercanias de Assis, Clara e Francisco ofereceram ao mundo um jeito lindo de oferecer a vida a quem mais sofria na vida. E é por isso que permaneceram. E, também, Maria, a mãe do Amor, a que compreendeu o silêncio que a fez ouvir Gabriel, o anjo, e guardar em seu coração o que precisava ser guardado. E aceitar o sofrimento e a felicidade. E chorar o choro da dor de ver a injustiça no mundo e se elevar por saber que a claridade do dia vence o medo da noite.

Com Maria Clara no colo, lembrei do colo que já foi meu. Minha mãe, as outras mães que quando sabem, embalam seus filhos nos sonhos do amor. Que quando sabem, cuidam. E sonham. E fazem sonhar.

Um batizado é um dia de sonhos. É no que acredito. É um dia de entrar para a comunidade de fé.

Um ano novo também é uma entrada. E, também, é uma experiência de fé. Os abraços dos festejos poderiam significar abraços nos dias que se seguem. O ano novo seria novo. Os abraços demitiriam os ódios, os preconceitos, as insignificâncias que roubam o amor.

Quantos males causam as ausências de abraços, as ausências de amor. Quando digo às mães que sabem, não excluo os pais nem os outros que cercam os inícios de uma vida.

Quando digo os que sabem, insisto que é preciso saber. Que as ausências de amor vêm das ausências do saber amar. uma criança sem amor é um erro difícil de consertar.

Uma nascente que não se sabe nascente, uma nascente, sem caminho para correr, não corre para o mar. O mar é para onde vamos. Amar é o que precisamos. Para clarear a vida. Para ser um pouco Maria. A que ensina o bonito do amar.

Ainda ontem, esperávamos com ela o menino nascer. Meninas e meninos nascem todos os dias. Ainda ontem, olhávamos a manjedoura e olhávamos para o que não se vê. E víamos.

Que possamos ver o que não vemos para prosseguir sabendo e sentindo que o amor é que nos batiza para a água da comunhão.

Somos nascentes e somos mar. No meu sentimento de amor por Maria Clara, pelo seu sorriso, pelos seus dias por nascer, pelo nascer dos seus dias que o novo ano seja novo na gente, nas gentes. Que nos batizemos do amor que movimenta o movimento mais bonito das nascentes, alimentar de vida a vida.

Feliz 2026.