O final de ano chega com promessas de reencontros, abraços e mesas cheias de histórias. Mas, todos os anos, milhares dessas histórias são interrompidas no caminho de volta para casa. É tempo de celebrar e brindar à vida. Porém, esse período também concentra um aumento no consumo de bebidas alcoólicas associado à direção — uma combinação que eleva o risco de sinistros e mortes no trânsito.
Nesse contexto, a Lei Seca ganha ainda mais relevância: não como obstáculo à celebração, mas como instrumento essencial de proteção, lembrando que o verdadeiro sentido das festas está em chegar bem e preservar quem importa.
Quando propus a Lei Seca, em 2008, nunca se tratou de restringir liberdades. A iniciativa teve origem na Medida Provisória nº 415/2007, editada em no contexto das festas de fim de ano, que restringia a venda de bebidas alcoólicas nas rodovias federais diante do aumento das mortes no trânsito nesse período. Ao analisar essa realidade, ficou claro que era preciso ir além: nenhum índice de álcool é seguro no trânsito. Foi dessa compreensão que nasceu a Lei nº 11.705 — como um compromisso claro com a vida no trânsito. Qualquer quantidade de álcool compromete reflexos e julgamento e, no trânsito, isso pode ser fatal. Em 2026, a Lei Seca completará 18 anos de vigência — uma legislação que alcança a maioridade mantendo intacto seu propósito original e reafirmando sua maturidade como política pública essencial para a segurança viária no Brasil.
Ao longo dos anos, os resultados se tornaram evidentes. Estudos estimam que a Lei Seca evitou a morte de mais de 60 mil pessoas desde sua implementação em 2008, consolidando-se como uma das políticas públicas mais importantes de segurança viária do país, e reforça seu princípio central: nenhuma morte no trânsito é aceitável.
Faço questão de dizer: esses números não são estatísticas frias. Eles representam pais que voltaram para casa, mães que continuaram criando seus filhos, famílias que não precisaram viver o luto de uma perda evitável. Cada vida preservada reafirma que o caminho escolhido foi o correto. O fim do ano é um convite à confraternização. Beber pode fazer parte da celebração, desde que acompanhado de consciência. Se for dirigir, não beba. Chegar em casa com segurança é tão importante quanto aproveitar a festa.
Cuidar da vida também é olhar para o outro. Se alguém próximo pretende dirigir após beber, ofereça alternativas: motorista da rodada, transporte por aplicativo, táxi ou qualquer meio seguro.
A Lei Seca não existe apenas para punir. Ela educa, conscientiza e muda comportamentos. Hoje, especialmente entre as novas gerações, cresce a percepção de que álcool e direção não combinam.
Neste ano, aprovamos no Congresso a criação do Dia Nacional da Lei Seca, reconhecendo que essa legislação ajudou a reduzir riscos e a construir uma cultura de responsabilidade no trânsito. Mais do que um marco legal, tornou-se símbolo de cuidado coletivo e compromisso permanente com a segurança de todos. No fim das contas, o que importa nas festas não é apenas brindar, mas o motivo: a vida, os reencontros e as pessoas ao nosso lado. Quando escolhemos não beber e dirigir, ou optamos por transporte seguro, fazemos um brinde silencioso — mas poderoso — à vida.
Hugo Leal é deputado federal (PSD/ RJ), autor da Lei Seca e presidente da Frente Parlamentar do Trânsito Seguro
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