Flordelis e mais quatro réus são julgados pela morte do pastor Anderson do CarmoBrunno Dantas/TJRJ
Publicado 13/11/2022 14:02
Rio - A fase final do julgamento da ex-deputada federal Flordelis, condenada a 50 anos e 28 dias de prisão, e de outros quatro réus pela morte do pastor Anderson do Carmo, aconteceu neste sábado (12) no Fórum de Niterói. A sessão foi marcada pelos interrogatórios da pastora, de sua filha biológica Simone Santos, de seus filhos adotivos André Luiz de Oliveira e Marzy Teixeira da Silva, e de sua neta biológica Rayane dos Santos de Oliveira, além de debates entre acusação e defesa.
Ao final da audiência, que durou quase 22 horas, Flordelis foi sentenciada por homicídio triplamente qualificado - motivo torpe, emprego de meio cruel e recurso que impossibilitou a defesa da vítima -, tentativa de homicídio duplamente qualificado, uso de documento falso e associação criminosa armada em regime fechado. Simone recebeu uma pena de 31 anos, quatro meses e 20 dias de prisão por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio duplamente qualificado e associação criminosa armada. Marzy, Rayane e André foram absolvidos das acusações.
Durante todo o julgamento, os réus responderam apenas perguntas da defesa e dos jurados. O primeiro a ser interrogado foi André, filho afetivo de Flordelis. Ele negou sua participação na morte do pastor Anderson do Carmo e comentou que o pai era uma pessoa rígida. Contudo, ele revelou que nunca viu uma agressão física cometida pelo pastor contra Flordelis. Anderson do Carmo, inclusive, seria a pessoa que cuidava da imagem da ex-deputada, que só fazia coisas que o pastor recomendasse.
O filho afetivo do casal ainda afirmou que não houve abuso sexual na casa antes da morte de Anderson. Ele também disse que só soube dos supostos casos após a morte do pastor. No dia do crime, o filho adotivo contou que estava em casa, ouviu os disparos e viu o pai já caído.

A segunda interrogada foi Flordelis, que afirmou não ter mandado matar o pastor. A ré chorou durante as perguntas e reafirmou que sofreu agressões e abusos sexuais cometidos por Anderson. Segundo a pastora, ela aceitava as agressões porque a mãe dela a ensinou assim e que deveria resolver as coisas depois. Perguntada por uma jurada, ela afirmou que seu choro era verdadeiro e que nunca pensou em se separar de Anderson. Flordelis encerrou sua fala em direção aos jurados alegando inocência.
"Eu só queria dizer que, em momento algum, mandei ou pensei em matar o meu marido. Eu estou na cadeia pagando por algo que não fiz. Eu amava o meu marido e eu jamais faria isso. Está sendo muito difícil a vida para mim", disse com a voz embargada.

Após a parlamentar, sua neta Rayane, filha biológica de Simone, foi ouvida pelos jurados. Durante o interrogatório, ela afirmou que sofreu abusos sexuais cometidos por Anderson. Em seu depoimento, Rayane informou que não relatou os casos porque tinha medo de perder o emprego que o pastor conseguiu para ela em Brasília. A mulher citou que o avô tinha o hábito de passar mão nas partes íntimas das mulheres da família.

A neta de Flordelis revelou que o pastor obrigava todos os filhos a trabalhar na igreja. Isso teria gerado um descontentamento entre os familiares. Anderson, segundo Rayane, tinha um perfil controlador quando o assunto era a ex-deputada. A mulher também relatou que viu a avó com hematomas, mas não desconfiava o que podia ser.
Depois do almoço, réus falaram mais sobre o crime

Após a pausa de uma hora para o almoço, os interrogatórios foram reiniciados com Marzy, que confessou que combinou com Lucas Cezar dos Santos, filho adotivo da pastora e acusado de ajudar na compra da arma do crime, de matar o pastor Anderson do Carmo. Os constantes abusos sexuais e agressões sofridas foram as justificativas dadas por ela.

Segundo a ré, o plano surgiu depois dela ter conversado com Lucas sobre o pastor abusar de uma outra filha do casal. No momento, ainda de acordo com ela, o irmão disse que iria resolver o problema, tendo seu consentimento. Ela confessou para o tribunal que idealizou o plano, para que tudo fosse orquestrado como um latrocínio, mas não permitiu que o irmão seguisse com a ideia. Mesmo confessando, a mulher alegou que as acusações contra ela são falsas porque ela não deixou que o planejamento seguisse.

Por último, Simone foi interrogada e mudou sua versão sobre os fatos ocorridos. A filha biológica de Flordelis contou ao júri que a morte de Anderson aconteceu depois que ela desabafou com o irmão Flávio dos Santos Rodrigues, já condenado pelo crime, sobre os abusos sexuais cometidos pelo pastor contra ela e suas filhas. Anteriormente, a ré havia contado que pagou pela contratação de um pistoleiro para executar a vítima.

A ré afirmou ainda que o crime foi motivado pelo desespero. "Não foi uma coisa planejada. Se fosse planejado, não seria assim. Uma coisa que foi dentro de casa, prejudicou a família inteira". Ainda de acordo com ela, os celulares foram descartados por medo de que as mensagens e ligações sobre o planejamento para o crime fossem descobertas.
Debates

Depois do fim dos interrogatórios, foi iniciada a fase de debates. Os promotores de Justiça do Ministério Público do Rio (MPRJ) utilizaram seu tempo para afirmar que houve tentativa de transformar Anderson em um dos réus no julgamento. A fala se referiu as acusações de abuso sexual contra a vítima feitas pela ex-deputada; filhas biológica e afetiva, Simone e Marzy; a neta Rayane; além de testemunhas de defesa que prestaram depoimento.

Durante o debate, que teve início às 18h40, a defesa de Flordelis pediu a dissolução do Conselho de Sentença, alegando que não tiveram acesso aos depoimentos de Raquel dos Passos Silva e Rebeca Vitória Rangel Silva, netas da ex-deputada, ao Conselho Tutelar, documento que foi exibido pelo Ministério Público nas alegações de que a ré pode ter usado uma ex-funcionária de gabinete para manipular as oitivas durante a investigação do crime.
A defesa afirmou neste domingo (13), após a decisão dos jurados informada pela juíza Nearis Carvalho Arce, da 3ª Vara Criminal de Niterói, que vai recorrer da condenação de Flordelis em tribunais superiores.
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