Ex-deputada Flordelis durante o julgamento no Tribunal do Júri, em Niterói, na Região Metropolitana do RioBrunno Dantas/TJRJ
Neta de Flordelis afirma em interrogatório que foi abusada por Anderson do Carmo
Rayane dos Santos de Oliveira negou envolvimento no crime
Rio - A neta de Flordelis, Rayane dos Santos de Oliveira, afirmou durante depoimento que sofreu abusos sexuais cometidos pelo pastor Anderson do Carmo. A mulher é a terceira a responder as perguntas dos advogados de defesa e dos jurados durante a fase final de julgamento realizada neste sábado (12) no Fórum de Niterói.
Em seu depoimento, Rayane informou que não relatou os casos porque tinha medo de perder o emprego que Anderson conseguiu para ela em Brasília. A mulher citou que o avô tinha o hábito de passar mão nas partes íntimas das mulheres da família.
"Hoje eu entendo que era abuso. No mesmo ano, em 2019, eu tinha feito massagem no cabelo. Eu lavei a cabeça e deitei de toalha. De manhã, quando eu acordei, o pastor estava em cima de mim passando a mão. Quando eu senti que a mão dele estava chegando perto da minha vagina, eu virei para ele parar", disse.
Rayane ressaltou que contou sobre os abusos para a mãe, Simone Santos, logo após a morte do avô porque, segundo ela, como ele não estava mais vivo, poderia falar.
"Jamais acreditaria que ele faria isso comigo, com meus filhos em casa, com meu marido presente. Antes disso, ele sempre me tratou muito bem. Eu era o quindim dele. Ele sempre me chamava para sentar no colo dele e eu evitava. Eu nunca fiquei sozinha com ele. Não me sentia a vontade", complementou Rayane.
A neta de Flordelis revelou que o pastor obrigava todos os filhos a trabalhar na igreja. Isso teria gerado um descontentamento entre os familiares. Anderson, segundo Rayane, tinha um perfil controlador quando o assunto era a ex-deputada. A mulher também relatou que viu a avó com hematomas, mas não desconfiava o que podia ser.
De acordo com Rayane, Lucas Cézar dos Santos, filho de Flordelis e Anderson, a envolveu no crime por não gostar da sobrinha. Ela negou as acusações dizendo que ela procurou um criminoso para matar o avô e também disse que não presenciou nenhuma cena de envenenamento. Segundo ela, a família errou e deveria ter se unido contra os supostos abusos cometidos.
"Se eu soubesse que algo estava sendo planejado, ou a vontade de alguém que isso fosse feito, eu tentaria fazer algo para tentar mudar isso com certeza", afirmou.
A mulher foi a terceira a ser interrogada neste sábado (12). O dia começou com o interrogatório de André Luiz de Oliveira. Flordelis, bastante emocionada, foi a segunda a responder os questionamentos. Marzy Teixeira e Simone dos Santos Rodrigues, filhas da pastora, também vão ser interrogadas após o intervalo do almoço.
Advogados divergem sobre acusação
O advogado de acusação Ângelo Máximo disse que não viu nenhuma defesa dos acusados até o momento, mostrando uma certa culpabilidade dos réus. De acordo com Máximo, Rayane teve uma contradição em sua fala.
"Até agora não vi ninguém se defender dos fatos. Os réus foram interrogados e ninguém se defendeu. Essa é a posição da assistência de acusação. A Rayane disse que estava arrependida porque tudo poderia ser conversado e evitado. Evitado o que se a família nega a prática do crime? O que vai se evitar? Mostra que os acusados que depuseram até agora se negam a aceitar as imputações descritas na denúncia. Mostra total culpabilidade", disse o advogado.
O Rodrigo Faucz, advogado de defesa, criticou o posicionamento do advogado de acusação sobre os réus não estarem se defendendo. Ele ainda alega que a acusação não tem provas para buscar uma condenação de seus clientes.
"As pessoas que são abusadas tem um coquetel de emoções entre amor e ódio do acusador. Isso é natural. Elas são seres humanos. Obviamente que elas ainda demonstram carinho, mas não quer dizer que ela não foi abusada. É um absurdo falar que as pessoas não estão se defendendo quando quem deveria vir aqui comprovar a responsabilidade é a acusação. Eles vem aqui e não trazem nenhuma prova. A defesa espera que seja de absolvição. Se for um julgamento justo e baseado em provas, não em achismo da acusação, o resultado justo é a absolvição", rebateu a defesa.
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