Marcelo Sarquis, da loja AbaMarcelo Wance

Rio - Mudam-se as épocas, os países, mas um acessório chama a atenção sempre que aparece adornando a cabeça de homens e mulheres: é o chapéu Panamá. Produzido no Equador e conhecido mundialmente, seu charme versátil acabou sendo muito associado ao Brasil – especialmente, ao Rio – por causa da proteção aos dias de sol. E a cidade ganhou, esta semana, uma loja física do produto.
“É a primeira loja física do Brasil que vende o chapéu original, com certificado. E ser no Rio tem uma simbologia: sou do time que acredita no reerguimento da cidade. Sou um carioca apaixonado, e tenho fé que aqui voltará a ser a Cidade Maravilhosa”, comenta Marcelo Sarquis, 56 anos, que há 20 comercializa o produto, por site, e distribui para algumas grifes.
Localizada no também charmoso Shopping Cassino Atlântico, em Copacabana, a loja ABA Chapéu Panamá oferece o produto a partir de R$ 375, mas pode ultrapassar dez vezes esse valor, “dependendo da qualidade da palha: quanto mais fina, mais valorizada”, explica Marcelo. A peça acaba virando um investimento, porque ela pode compor um look dos mais refinados até os mais descolados.
“Algumas pessoas me procuram porque ‘herdaram’ um Panamá do avô, por exemplo, e querem saber a melhor forma de cuidar para que ele continue bonito. É uma peça que valoriza com o tempo”, comenta o proprietário da ABA. Existem muitas cópias do Panamá, feitos de celulose. Mas a maciez, leveza e caimento que a palha original oferece, ninguém conseguiu ainda imitar.
Antes de Colombo
O verdadeiro chapéu Panamá é feito de uma palha retirada da planta Carludovica palmata (palmeira-bombonaça), original do Equador. Existem registros de que os povos pré-colombianos já utilizavam a palha da Carludovica para se proteger do forte sol equatoriano. O povo quíchua fazia a peça em formato de touquinha, e os Incas, que dominaram a região, mantiveram a tradição, que acabou sendo conhecida pelos espanhóis. Por causa do formato de séculos passados, até hoje a planta é conhecida na região também pelo nome de ‘palla toquilla’.
No interior da planta ficam as palhas, finas e longas. E quanto mais fininhas, mais valiosas e mais delicadas de serem manuseadas. Até hoje, são povos indígenas da região que tecem essas tramas, e os chapéus mais caros são feitos pelos mais idosos. Cada peça pode levar até seis meses para ficar pronta. As gerações mais novas, segundo Marcelo, não estão ocupando esse espaço deixado pelos anciãos: preferem manusear as palhas ‘padrão’.
Curiosidades
• O chapéu acabou conhecido como Panamá por causa do presidente norte-americano Theodore Roosevelt. No início do século XX, Roosevelt foi acompanhar as obras do Canal do Panamá, na América Central, e voltou para os Estados Unidos com a novidade – que protege até 97% dos raios solares –, e o objeto passou a ser referido como se fosse do Panamá;
• O modelo mais clássico é o branco com fita preta, mas no mercado existem mais de 40 cores de chapéus e diversos padrões de fitas – que são elásticas, para se moldarem à cabeça;
• Os chapéus nas cores branca, palha natural e tabaco são as mais vendidas, e são as únicas que não levam tingimento: adquirem essas cores de acordo com a época do ano em que a palha é colhida e cozida;
• As abas podem ser de três tamanhos. A maior é de 11 cm, e dá um ar mais luxuoso ao visual, especialmente às mulheres.
Charme brasileiro
Alguns brasileiros se celebrizaram em imagens ostentando o acessório, como Tom Jobim e Santos Dumont. Aliás, o Pai da Aviação ficou eternizado pelo visual chapelão com um dos lados da aba levemente caído por causa de um incidente: o motor de uma de suas aeronaves começou a pegar fogo e o inventor, rapidamente, tirou o chapéu para abanar até conseguir controlar a chama. O movimento brusco e o calor deixaram a aba do Panamá com aquele aspecto de ‘charme aéreo’. Ou seja, até quando tudo dá errado, um Panamá pode salvar a situação e garantir a elegância de seu dono.
Alguns outros famosos dessas terras que não tiram a ‘palla toquilla’ da cabeça são: os músicos Diogo Nogueira e Djavan, a apresentadora Ana Maria Braga e o ator Antônio Pitanga. Enfim, o Panamá combina com rodas de samba, praia, dias de sol ou nublados e até com a noite. Sim! No último caso, os mais jovens optam pelos de abas curtas, para ganharem aquele ar de malandro carioca – e fazer o maior sucesso por aí.