Para mim, o lugar na plateia virou o sofá de casa e eu senti a força de ‘Lady Laura’, composição de Roberto Carlos para a sua mãeArte: Kiko

Quando a orquestra comandada pelo maestro Eduardo Lages tocou os primeiros acordes na noite do sábado retrasado, numa casa de shows da Barra da Tijuca, os meus olhos ficaram marejados. Roberto Carlos, o anfitrião, nem havia aparecido ainda no palco, mas eu já sabia que aquele momento seria de muitas memórias da minha mãe, que era uma fã declarada do cantor. Felizmente, ela teve a chance de assistir a dois shows dele e, no primeiro, ganhou a tão sonhada rosa do Rei, numa história contada e recontada na família.
Como eu esperava, a noite foi de muitas emoções, como eternizou Roberto em canção. Logo no início do show, ele perguntou, em forma de música, “como vai você?”, e era como se eu e a minha mãe estivéssemos conversando a sós naquela imensa plateia. Mesmo de outro plano, sinto que ela já sabe muito bem da minha vida. E bastou olhar ao meu redor para perceber que, assim como eu, familiares de outras pessoas se faziam presentes através dos seus pensamentos. “Preciso mandar mensagem para a minha tia para falar que estou vendo o Roberto”, disse um rapaz ao meu lado, pegando o celular. E é exatamente assim: o Rei, mesmo com o seu status, é íntimo de todos.
Certa vez, aliás, ouvi uma definição da sua apresentação que achei mágica: os fãs que vão assisti-lo sabem exatamente o que encontrarão e é justamente por isso que eles continuam indo aos seus shows todos os anos. Afinal, em alguns momentos, tudo o que a gente quer é voltar ao nosso lugar-comum acolhedor e de paz, como o sofá de casa em que eu conversava com a minha mãe, ou como a sala onde tantas vezes assistimos em família ao tradicional especial de fim de ano do cantor. Saber que as nossas memórias afetivas estão no mesmo cantinho é algo que apazigua a alma.
Assim, prestando atenção ao Rei e ouvindo os comentários ao meu redor, eu entendi que muita gente ali estava acompanhada de histórias embaladas pelas canções que ele fez para a gente. Afinal, é assim que sentimos. Quando os inconfundíveis acordes de ‘Detalhes’ surgiram, uma moça comentou: “Essa música é o meu pai todinho”.
Enquanto Roberto se apresentava, muitas vidas iam sendo relembradas ali, dentro de tantos corações. “Eu cantei essa música no Dia das Mães no colégio”, revelou a amiga que me acompanhava, quando tocou ‘Como é grande o meu amor por você”. Já os versos de “você é meu amigo de fé, meu irmão camarada” ganharam uma emoção ainda maior com a lembrança do grande parceiro do Rei, Erasmo Carlos, que nos deixou recentemente.
Para mim, o lugar na plateia virou o sofá de casa e eu senti a força de ‘Lady Laura’, composição de Roberto Carlos para a sua mãe. Por mais que a gente cresça, a vontade de sermos novamente meninos persiste. Sorte a nossa que as canções do Rei têm o poder mágico de nos levar para casa e nos contar uma história. Suas músicas, vejam só, até nos abraçam bem forte.