Avós de Matheus Bruno dos Santos, Denilson Ferreira Lima e Maria Teresa da Conceição Rogério pediram justiça pela morte do netoMarcos Porto/Agência O Dia

Rio - Familiares e amigos de Matheus Bruno dos Santos realizaram um ato, nesta sexta-feira (23), em protesto pela morte do dançarino, na porta da Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSGI). O jovem, de 23 anos, foi baleado com três tiros na comunidade da Engenhoca, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio, na última segunda-feira (19). Parentes acusam a Polícia Militar de ter atirado contra a vítima. Já a corporação diz que ele participou, junto com comparsas, de um ataque contra equipes do 12º BPM (Niterói). 
Durante o protesto, os familiares e pessoas próximas voltaram a dizer que não ocorria confronto na região no momento em que Matheus foi morto e afirmaram que já sabem quem foi o policial militar que fez os disparos contra ele. O grupo reivindica rigor nas investigações da especializada e que os policiais militares envolvidos na ação sejam afastados do serviço nas ruas. Além disso, os manifestantes também pediram por uma nova perícia para comprovar que o dançarino não participou da troca de tiros. 
"Cadê a perícia? Não foi troca de tiro. Cadê a perícia que não comprova que foi troca de tiro? Não foi troca de tiro, assassinaram por ruindade, porque era negro, pobre e periférico. Sobe na favela para vocês verem o que a gente passa. Ele não era marginal, não era. (...) Você assassinou o homem da minha vida. Eu não estudei para ser perita, nem para ser 'polícia', mas sobe na favela que é um preparatório", declarou a namorada de Matheus, a maquiadora Adriele Alexandre, de 23 anos. O casal estava junto há oito anos e fazia planos para morar juntos.
"Nós queremos da DH, agora, a investigação e justiça. Nós queremos que o coronel do 12º Batalhão tire vocês das ruas, não precisa expulsar, não, porque vocês precisam dos salários de vocês, mas tirar vocês das ruas. Vocês não têm o direito de tirar a vida de pessoas inocentes, vocês não têm esse direito, vocês não podem fazer isso. Eu estou cobrando reparo do Estado para essa família que está dilacerada. O Estado tem que ser responsável por isso, tem que parar de matar. Agora tem lei de matar no Brasil? Tem lei de extermínio?", questionou a sogra de Matheus, a servidora pública Cláudia Alexandre, 52.
De acordo com a Polícia Militar, no dia do crime, uma equipe do 12ºBPM (Niterói) foi à Avenida Professor João Brasil, no Fonseca, após receber informação de que criminosos realizariam roubo na região. Chegando ao local, os policiais avistaram "indivíduos armados" na Travessa Otto e, ao tentar realizar abordagem, foram atacados a tiros, dando início a um confronto. Após os disparos, os militares encontraram um homem ferido, que foi socorrido ao Hospital Estadual Azevedo Lima, em Niterói. Uma pistola e um rádio comunicador foram apreendidos. 
No ato, que também contou com a presença de motociclistas, o grupo se queixou da tentativa de, segundo eles, descredibilizar a inocência de Matheus, por meio de publicação, nas redes sociais, de fotos em que o ator aparece portando armas. Os parentes afirmam que as imagens são verdadeiras, mas que o armamento é falso e é utilizado na websérie "Sem ocupação", em que a vítima atua e é ambientada em uma favela. Para o fundador da produção, Carlos Marques, 27, a intenção é justificar a ação dos policiais militares. 
"As armas que são apresentadas são todas de Airsoft, são todas armas falsas. Algumas estão com a ponta laranja pintada de preto, para aparentar mais realidade nas filmagens. Todas as armas que estão nas fotos, são armas falsas, réplicas. O que estão fazendo é uma maldade, uma crueldade com o jovem, estão querendo colocar armas falsas para poder livrar eles (PMs) desse crime que eles cometeram. Isso é muito errado. As fotos que foram postadas, são todas da websérie", explicou Carlos. 
De acordo com o padrasto de Matheus, Dayfson Luiz, de 32 anos, o Natal da família perdeu o sentido sem a presença do dançarino. "O que me deixa mais triste e indignado é como esses caras (PMs) matam um inocente com três tiros, de frente, e ainda vão para suas casas como se nada tivesse acontecido. O Estado matou o Matheus. Eles vão ter ceia de Natal, não vão? Eles compraram as coisinhas deles, agora, todo mundo aqui, vai ficar sem Natal. Acabaram com a ceia de Natal de todo mundo. Acabou com a vida da gente", lamentou Dayfson, que pediu por justiça.
"Eles mataram um inocente e eles têm que pagar no rigor da lei (...) Isso não pode ficar impune, o Matheus não vai entrar para a estatística. Ele era ator, trabalhava cuidando de cachorro, ele era dançarino, ele não era bandido. Ele era trabalhador, ele tinha sonhos que foram interrompidos por ser negro. Queremos justiça". 
O corpo da vítima foi enterrado na tarde da última quarta-feira (21), no Cemitério do Maruí, em Niterói. "Meu irmão não era bandido, ele era trabalhador, não é só porque ele estava dentro de uma favela que ele tem que ser bandido. Eu quero justiça, porque se fosse com a família deles, eles não iam gostar", disse a irmã de Matheus, Andriele dos Santos Correia, 15. 
 
* Colaborou: Marcos Porto