Rio – O aposentado José Ferreira saiu de casa, na tarde desta quarta-feira (28), para uma viagem curta de ônibus, mas ainda assim desagradável por conta do calor dentro do coletivo. Morador de Rio Comprido, na Zona Norte, ele desembarcou na Praça Afonso Pena, na mesma região, após um trajeto de cerca de sete minutos no 426, linha que faz o percurso Usina-Jardim de Alah. José contou que o ônibus estava sem ar condicionado. "Foi uma porcaria, uma péssima viagem", disse à reportagem do DIA.
"Eu li que o prefeito quer que os ônibus ano que vem circulem com ar condicionado, mas os ônibus são um lixo, alguns nem saída de ar têm. Não sei como isso será possível", completou José.
O aposentado se refere ao decreto sancionado pelo prefeito Eduardo Paes (PSD), publicado no Diário Oficial nesta terça-feira (27). De acordo com o decreto, sensores serão instalados nos ônibus para monitorar as temperaturas nos coletivos. Os sensores devem ser instalados pelas próprias empresas até 31 de julho de 2023.
Segundo a deliberação, "as concessionárias do Sistema de Transporte Público por Ônibus (SPPO) deverão operar com ar condicionado ligado e em bom estado de manutenção em todos os veículos licenciados com o referido equipamento, em conformidade com obrigação assumida no Termo de Conciliação firmado entre com o município do Rio de Janeiro em 24 de maio de 2018".
A reportagem do DIA permaneceu nos pontos da Praça Afonso Pena e na Rua Haddock Lobo, ambos na Tijuca, na Zona Norte, das 11h10 às 13h10 e flagrou coletivos das linhas 220, 507, 415, 607, 409, 302, 415, 426, 433, 238, 410, 750, 229 sem o equipamento de ar condicionado ligado ou funcionando.
Ivan Mello, morador do Alto da Boa Vista, desceu do coletivo 220 na Rua Haddock Lobo sentindo bastante calor e disse que reclamou com a empresa de ônibus, há três semanas, a falta de ar condicionado, mas nada mudou na situação: "Eu falei com a moça da empresa, ela disse que anotou a minha demanda e iria repassá-la, mas nada foi feito. Todo dia é esse calor dentro do ônibus".
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A psicóloga Patrícia Barbosa, que mora na Tijuca, descreveu como "sensação horrível" sua experiência no 433 sem ar condicionado. "Chega a me dar mal estar, ainda mais porque vou para o Centro e para Madureira a trabalho. E nunca tem ar condicionado. O único que tem é o que vai para Duque de Caxias, mas nenhum outro conta com ar".
A reclamação da administradora hospitalar Maria Virgínia Nobre é sobre os ônibus fechados para ter ar condicionado, mas ainda assim não funcionam e as janelas permanecem cerradas, causando ainda mais calor aos passageiros: "O 426 que peguei hoje da prefeitura para a Tijuca estava fechado, pois foi feito para ter equipamento de ar condicionado, mas não tinha, então foi ainda pior", contou. "Só hoje eu fui de Nova Iguaçu para Duque de Caxias em um coletivo sem ar e, depois, da Avenida Brasil para a prefeitura em um ônibus também sem ar. É horrível e é todo dia assim", desabafou.
Tânia da Glória mora em Nova Iguaçu, mas viaja todos os dias para a Praça Afonso Pena para vender doces no semáforo do local. Ela desembarcou, na praça, do coletivo 220 sem ar condicionado e expressou que "Só Jesus" para conseguir fazer o percurso de forma confortável.
Já a veterinária Ana Paula Rimola, que mora no Centro e trabalha na Tijuca e todos os dias faz o trajeto de 30 minutos pelo 433 elogiou que a frota é nova, mas ainda assim constantemente sem ar condicionado.
A fiscalização da nova determinação da prefeitura será realizada pela Secretaria Municipal de Transporte (SMTR). Ao DIA, a pasta afirmou que será publicada uma resolução estabelecendo como deverão ser enviados à secretaria os dados sobre a climatização nos ônibus. Caso os dados não sejam enviados à SMTR, o consórcio receberá menos IRK (Indicador de Receita por Quilômetro), que será reduzido a R$ 7,07 e o subsídio tarifário a ser pago por quilômetro será reduzido a R$ 1,08 nas viagens realizadas sem climatização. Os valores normais praticados são R$ 9,17 e R$ 3,18, respectivamente.
Ainda de acordo com o órgão, desde janeiro deste ano foram aplicadas cerca de 800 multas por falta de ar-condicionado nos ônibus. E, desde a criação do canal exclusivo para denúncias sobre ar-condicionado desligado na Central 1746, no início de novembro de 2022, a SMTR intensificou a fiscalização e a quantidade de multas mais do que dobrou com relação ao restante do ano. Atualmente, a multa é de R$ 531,98.
Linhas com mais reclamações, segundo a SMTR:
232 (Lins x Castelo) 249 (Água Santa x Carioca) 363 (Vila Valqueire x Candelária) 606 (Engenho de Dentro x Rodoviária) 422 (Grajaú x Cosme Velho) 247 (Camarista Méier x Passeio) 457 (Abolição x Copacabana) 321 (Bancários x Castelo) 324 (Ribeira x Candelária) 639 (Jardim América x Saens Peña)
Em nota, o consórcio Rio Ônibus afirmou que "está analisando o decreto publicado e segue em negociação permanente com a prefeitura, como tem feito desde maio de 2022, com objetivo de cumprir o acordo estabelecido com o Ministério Público".
Questionado sobre as linhas flagradas sem ar condicionado, o Rio Ônibus não se manifestou. O espaço está aberto.
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