Falta d'água dificulta tarefas domésticas simples, como lavar a louçaFabiana Pifano / Leitora

Rio – Abrir a torneira e encontrar água tem sido questão de sorte para quem mora na Vila Residencial, na Cidade Universitária, Zona Norte, desde a última quarta-feira (18). Moradores enfrentaram quatro dias seguidos de caixas d’águas vazias, mas, nem mesmo com o retorno da água na manhã de domingo (22), a estabilidade no abastecimento das casas, repúblicas estudantis e estabelecimentos, tem sido a mesma, impactando diretamente nas rotinas de trabalho e estudo. O local fica localizado no mesmo endereço do maior campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). 

No começo, a Fabiana Pifano, de 30 anos, chegou questionar se a secura das torneiras não seria problema de alguma encanação da sua república, localizada na Rua Papoulas. A jovem é licenciada em Educação Física e voltou à UFRJ para cursar a modalidade bacharel do mesmo curso. "Cheguei a achar que estava com ar na bica, por isso sempre ficava perguntando no grupo da vila (grupo de WhatsApp criado para comunicação entre os estudantes que moram no local) se tinha normalizado, mas pelo visto não era, era problema na água mesmo", lembrou.

Na Vila Residencial moram cerca de 4.500 pessoas, entre moradores e alunos, já que muitas casas viraram república – algumas acomodam até 30 ou 40 estudantes. Além disso, o local conta com igrejas, lanchonetes, bares e restaurantes, salão de beleza, mercados, farmácias e lojas de conveniências. Todas as residências e estabelecimentos, desde o dia 1º de novembro de 2021, são abastecidas pela Águas do Rio.

"Já tem mais ou menos umas duas semanas que nos encontramos com instabilidade na rede. Tem água na bica na parte da manhã, mas na parte da tarde já não temos água. Nunca sofremos tanto com a falta d’água como agora. Passei quatro dias sem água, zerado. É algo que não temos nem retorno da Águas do Rio para saber o que está acontecendo e ficamos à mercê, sem saber até quando ficaremos nesta situação", explicou a estudante.

Nas redes, a empresa informou que o abastecimento foi interrompido em alguns pontos da Maré e na Cidade Universitária para um reparo emergencial, na quarta-feira (18), por conta de um vazamento numa tubulação de grande porte na Avenida Brasil, na altura de Manguinhos. A previsão de normalização gradual seria para quinta-feira (19), o que, segundo os relatos, não aconteceu.

Para driblar o calor e seguir com a rotina, Fabiana, que trabalha em uma academia no Leblon, na Zona Sul, contou que toma banho no trabalho. Porém, as tarefas domésticas, como fazer comida, lavar roupa e louça, ficaram comprometidas. "O pouquinho de água que temos, às vezes cai em uma bica que fica na praça, a gente traz e vamos nos virando. Lava uma louça daqui, outra ali", disse.

Reclamações e problemas que se repetem

Apesar de a empresa informar que segue à disposição dos clientes e disponibilizar um número para contato, a estudante de Terapia Ocupacional, na UFRJ, Vitória Gama, de 22 anos, relata dificuldades na assistência prestada pela concessionária e para cumprir os prazos estipulados para a normalização da situação. "Eu liguei na segunda-feira (23) e eles falaram que viriam aqui verificar, mas não vieram", apontou.
A jovem, que mora em uma quitinete com a namorada Jéssika Resende, de 23, estudante de gastronomia na mesma Universidade, relatou que o problema tem sido constante desde o final do ano passado e lembrou de um evento, em dezembro, em que enfrentaram cinco dias seguidos sem água.

"Liguei no dia que a água acabou e eles falaram que ia voltar no outro dia, às 22h. Só que a gente tem caixa e não temos bomba. Então ficamos mais dois dias sem, porque até a água voltar de vez, demorou. Eles não dão assistência, falam que vai voltar tal dia, mas a água não volta no dia que falam. Eles ofereceram o caminhão pipa, mas era cinco dias para chegar. Ou seja, ficamos cinco dias sem água, de qualquer forma", constatou.

A falta d’água afetou as aulas e os compromissos. Vitória e Jéssika precisaram então se deslocar para a casa de colegas, em Niterói, na Região Metropolitana, para conseguir tomar banho, lavar roupa e estudar.

"Foi um desafio, principalmente porque está calor. Talvez, se estivesse mais fresco, estivesse mais tranquilo para não precisar tomar banho toda hora. Mas estava mais de 30ºC, muito quente. Não conseguíamos assistir aula. Tive até problemas para fazer uma prova. Tínhamos que pedir comida na rua, porque não dava para cozinhar. A louça ficava cada vez maior", lembrou.

Também nas redes, a empresa escreveu, no dia 10 de dezembro, que houve a necessidade de reparo emergencial de um vazamento na Subadutora da Maré e que por isso foi necessário interromper o fornecimento em algumas áreas da Zona Norte. A conclusão teria acontecido no dia 12 e o retorno da água aconteceria de forma gradativa, podendo levar até 48h.

Antônio José Avelino, de 56 anos, é presidente da Associação de Moradores da Vila Residencial. Ele explicou que, toda vez que há falta de água, em todos os bairros o fornecimento normaliza, mas na região demora entre duas e três semanas para estabilizar a situação. Avelino disse que uma reunião está marcada para a quinta-feira (26), por volta das 10h, com representantes da Águas do Rio.

"Espero que amanhã eu possa resolver essa situação para saber o que está acontecendo. Amanhã a direção vem e vamos tentar desenrolar isso da melhor forma possível, porque do jeito que está, não dá para ficar. Ficar sem água é impossível. É impossível você viver sem água", frisou o presidente da associação.

A Águas do Rio informou, por meio de nota, que enviará uma equipe ao local ainda nesta quarta-feira (25). Sobre a reunião, a concessionária informou que o encontro faz parte do programa "Afluentes", que busca criar uma interlocução da concessionária com líderes comunitários. Informou que, a princípio, "não está na pauta dessa conversa, agendada para amanhã, dia 26, questões como falta de água. É uma reunião para orientações do setor comercial."
*Reportagem da estagiária Beatriz Coutinho sob supervisão de Flávio Almeida