Em três dias, traficantes sequestram 23 ônibus em São Gonçalo
Sindicato dos Rodoviários pediu aumento do policiamento na região. Atualmente, 500 profissionais estão afastados das atividades por conta da violência urbana
Motoristas foram obrigados a mandar os passageiros desembarcarem, enquanto criminosos apontavam armas - Reprodução
Motoristas foram obrigados a mandar os passageiros desembarcarem, enquanto criminosos apontavam armasReprodução
Rio - Traficantes do Jardim Catarina, na cidade de São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, sequestraram 23 ônibus entre o domingo (29) e a terça-feira (31), para usarem os veículos como barricadas improvisadas e transportarem criminosos feridos em confrontos. A região é ocupada pela Polícia Militar desde meados de 2022 e o policiamento segue reforçado nesta quarta-feira (1º). Nas redes sociais, moradores do local compartilharam imagens dos coletivos abandonados e atravessados em diversos pontos do bairro.
Jardim Catarina
Muitos moradores enviando mensagens informando sobre ônibus atravessados nas ruas do bairro.
Nesta terça-feira (31), o Sindicato dos Rodoviários de Niterói a Arraial do Cabo (Sintronac) enviou um ofício ao Governo do Estado, à Prefeitura de São Gonçalo, às secretarias de Estado de Polícia Militar e Polícia Civil, além de para o 7º BPM (São Gonçalo), pedindo o aumento no policiamento no município, especialmente no bairro do Jardim Catarina, como forma de conter a escalada da violência, que se intensificou há cerca de duas semanas, por conta de uma disputa entre traficantes de facções rivais. Atualmente, a região é dominada pelo Comando Vermelho.
No documento, o Sintronac relata que os motoristas foram obrigados a mandar os passageiros dos ônibus desembarcarem, enquanto criminosos apontavam armas para os profissionais. Em seguida, os condutores ainda tiveram que parar os veículos em cruzamentos das principais vias do Jardim Catarina, para impedir a circulação de outros automóveis. Segundo o sindicato, a violência urbana ainda é a principal causa de afastamento de rodoviários do trabalho por problemas psicológicos.
Em 2022, o Departamento Médico do Sintronac atendeu 4.321 trabalhadores nos setores de neuropsiquiatria e psicologia. Deste total, pelo menos 90% são de vítimas de assaltos, agressões, sequestros de veículos, intimidações de bandidos, ficaram encurralados em tiroteios ou testemunharam crimes, inclusive homicídios. Atualmente, 500 rodoviários estão em tratamento permanente no sindicato, sem condições de retorno às suas atividades profissionais.
"Recomendamos veementemente aos rodoviários que não arrisquem suas vidas. Se há locais perigosos, nenhuma lei os obriga a entrar lá. Lamentamos pela população, mas cabe às autoridades públicas agirem para garantir a segurança de todos, inclusive dos trabalhadores. Não somos super-heróis, mas apenas trabalhadores que lutam diariamente para garantir o sustento de suas famílias e, por isso, merecemos voltar para casa em pleno estado físico e mental", afirmou o presidente do Sintronac, Rubens dos Santos Oliveira.
De acordo com a PM, ontem, o 7º BPM (São Gonçalo) prendeu o traficante Magno da Costa Maciel, conhecido como MG, uma das lideranças do tráfico do Jardim Catarina. Informações do setor de inteligência do Batalhão apontam que o criminoso comandou os sequestros aos ônibus. Com ele foram apreendidos um veículo de luxo roubado e diversas chaves dos coletivos usados como barricadas. Ainda segundo a polícia, os ataques foram uma represália às ações de remoção de obstáculos das vias. Contra o criminoso havia um mandado de prisão em aberto.
Nos últimos dez dias, a Polícia Militar desobstruiu mais de 50 ruas do Jardim Catarina e, na segunda-feira (30), prenderam três homens, apreenderam dois rádios comunicadores, drogas e removeram barreiras físicas de dez vias do bairro. A PM também ressaltou que de acordo com o Instituto de Segurança Pública (ISP), o número de roubo de veículos, entre janeiro e dezembro de 2022, apresentou uma redução de 26,3%, se comparado ao mesmo período de 2021. Já o roubo de cargas teve queda de 81,9% de casos, no mesmo período.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.