Vídeo mostra traficantes em frente à pixação em homenagem a líder de facção rivalReprodução

Rio - Surgiu um novo capítulo na guerra entre facções que assola o Rio de Janeiro. Na noite desta terça-feira (7), traficantes do Terceiro Comando Puro (TCP) invadiram os morros do Divino e da Menezes, entre o Campinho e a Praça Seca, que estavam sendo comandados pelo Comando Vermelho (CV).

Após a tomada, integrantes do TCP gravaram um vídeo e divulgaram nas redes sociais. Nas imagens, homens aparecem fortemente armados e mostra um muro com pixações ao traficante Urso, também conhecido como Doca, apontando como um dos principais líderes da facção rival.

No vídeo, os suspeitos dizem "Terceirou, 'tá' três. Bala no Doca, bala do Urso. Estamos no miolo, miolo é a gente. Muita bala". Veja:

Segundo a plataforma Onde Tem Tiroteio, na noite de ontem, por volta das 23h20, foram registrados disparos na região. Além disso, pouco depois, às 23h27, houve disparos na Chacrinha, na Praça Seca.

Na Zona Oeste, Gardênia Azul, em Jacarepaguá, é um dos principais pontos de conflitos. A região acumulou nove tiroteios em janeiro, sendo dois deles provocados pela briga por território entre tráfico e milícia, outros três foram em ações e operações policiais e os outros quatro não tiveram a motivação identificada. Moradores da Gardênia Azul relatam que traficantes impuseram o toque de recolher e famílias estão preocupadas com a volta às aulas na rede pública de ensino.

A Cidade de Deus, ao lado da Gardênia Azul, também foi afetada pela invasão. Dominada há anos pelo Comando Vermelho, a comunidade concentrou sete tiroteios em janeiro, um deles em disputas entre grupos armados. A Muzema, escolhida há um ano para receber o programa de segurança pública Cidade Integrada, do governo do estado, acumulou em janeiro deste ano quatro tiroteios, sendo dois deles em disputas. Em Curicica, foram quatro tiroteios, um deles em confronto entre grupos armados.
Para o Presidente do Instituto de Criminalística e Ciências Policiais da América Latina e da Comissão de Segurança Pública da Associação Nacional de Imprensa, o professor José Ricardo Bandeira, de 56 anops, a maior causa desse aumento na disputa de territórios no Rio de Janeiro é o enfraquecimento da milícia em áreas onde antes prevalecia.

"Sem dúvida a pandemia certamente teve uma interferência direta ocasionando essa aparente calmaria em relação ao confronto entre as facções, paralelo a isso tivemos algumas ações por parte do governo do estado que de alguma forma enfraqueceu a atuação das milícias na zona oeste, tornando o território propício para a expansão das facções criminosas, tendo em vista que por falta de uma política de segurança pública não foram implementadas medidas para conter essa situação que já era prevista", explicou.

Bandeira ainda destacou ser possível dar um fim a guerra por disputa de terriórios, mas é preciso que haja um planejamento público a longo prazo.

"É necessário a elaboração de um planejamento e uma política de segurança pública que contemple o investimento em inteligência e investigação, única forma eficiente de se realizar operações policiais e de se reduzir a criminalidade e a violência, além logicamente do investimento em políticas públicas como a geração de emprego e renda para que o estado possa retomar essas áreas que foram sitiadas pelas facções criminosas. Agora para um efeito imediato é necessário a ocupação policial e tomada do território por parte das forças policiais visando a garantia da paz e a proteção dos moradores, até que o estado tome medidas eficazes para a erradicação do problema", disse.

Ainda segundo o professor, a atuação das polícias hoje no enfrentamento à violência e ao tráfico de drogas vem sendo feita de uma maneira onde não há resultados além do aumento da violência armada em todo o estado.

"O estado, por falta de uma política de segurança pública, utiliza a polícia como única ferramenta de combate à violência, jogando os policiais para o enfrentamento nas comunidades sem qualquer estratégia para a redução dos índices de violência e criminalidade o que faz com que os confrontos aumentem e a polícia atue somente para 'enxugar gelo' quando a situação sai de controle".
Segundo a Polícia Militar, somente em 2023, a corporação fez mais de 70 prisões e apreendeu 10 fuzis, 28 pistolas e mais de duas toneladas de drogas, além de ter removido mais de dez toneladas de barricadas. 
Ainda de acordo com a corporação, agentes do batalhão da área, o 18ºBPM (Jacarepaguá) e de outras unidades tem sido direcioados para coibir as movimentações criminosas que afetam esta parte da Zona Oeste da cidade e segue atuando em ações de inteligência com a Polícia Civil, os dados produzidos proporcionam avaliações e ajustes nas mais diversas estratégias e ações realizadas. Além disso, o Batalhão de Polícia de Choque (BPChq) vem mantendo equipes atuando diariamente no bairro Gardênia Azul. O Batalhão de Ações com Cães (BAC) e do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) também são empenhados como reforço operacional para combater possíveis empreitadas criminosas na região

Mapa da violência armada

Em janeiro, a capital concentrou 66% dos tiroteios mapeados na Região Metropolitana do Rio em janeiro, Entre os municípios que fazem parte da área, os cinco mais afetados pela violência armada foram:

Rio de Janeiro: 194 tiroteios, 39 mortos e 43 feridos

Duque de Caxias: 23 tiroteios, 7 mortos e 4 feridos

Niterói: 14 tiroteios, 7 mortos e 10 feridos

São Gonçalo: 13 tiroteios, 6 mortos e 8 feridos

Nova Iguaçu: 10 tiroteios, 3 mortos e 3 feridos

Entre os bairros do Grande Rio, os cinco mais afetados foram:

Vicente de Carvalho: 11 tiroteios e 4 mortos

Praça Seca: 11 tiroteios e 1 ferido

Vila Kennedy: 10 tiroteios, 2 mortos e 2 feridos

Gardênia Azul: 9 tiroteios, 2 mortos e 3 feridos

Anchieta: 8 tiroteios e 1 morto

Em janeiro, 16 tiroteios ocorreram em áreas de Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Ao todo, sete pessoas foram baleadas: duas morreram e cinco ficaram feridas. As unidades afetadas pelos tiroteios foram:

Complexo de Manguinhos: 5 tiroteios e 2 feridos

Andaraí: 2 tiroteios

Jacarezinho: 2 tiroteios

Borel: 1 tiroteio, 1 morto e 3 feridos

Rocinha: 1 tiroteio e 1 morto

Complexo da Penha, Macacos, Mangueira, São João e Vidigal concentraram um tiroteio cada.

A distribuição da violência armada entre as seis regiões que compõem o Grande Rio ficou da seguinte forma:

Zona Norte (capital): 104 tiroteios, 20 mortos e 20 feridos

Zona Oeste (capital): 75 tiroteios, 15 mortos e 19 feridos

Baixada Fluminense: 66 tiroteios, 24 mortos e 18 feridos

Leste Metropolitano: 34 tiroteios, 18 mortos e 22 feridos

Centro (capital): 8 tiroteios, 3 mortos e 2 feridos

Zona Sul (capital): 7 tiroteios, 1 morto e 2 feridos