Rio - Dezenas de mulheres lotaram o Campo de Santana, no Centro, nesta quarta-feira (8), com o objetivo de mudarem suas vidas por meio do trabalho e da qualificação profissional. Em celebração ao 8 de março, a Prefeitura do Rio promove hoje o evento 8M, que oferece oito mil vagas de emprego, cursos e oficinas exclusivamente para o público feminino. A ação também acontece no calçadão de Campo Grande, na Zona Oeste da cidade.
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Desde às 7h, uma grande fila se formou no Campo de Santana, com mulheres em busca de recolocação no mercado de trabalho, mudança de carreira e que pretendem aprimorar suas habilidades profissionais, além de empreender. Aos 48 anos, Taís de Oliveira acabou de deixar um trabalho temporário e está à procura de estabilidade e segurança financeira, por meio de um emprego fixo de carteira assinada. A mulher conta que apesar de ter bastante experiência, especialmente nos setores do comércio e atendimento ao público, sua idade tem sido um empecilho no momento da contratação.
"Precisam dar mais oportunidades para pessoas que já estão em uma faixa etária, mulheres, não só jovens, abrir mais o leque. Tem empresas que já colocam no anúncio a faixa etária de até 35 anos, que é para você já descartar. É complicado, porque passou dos 40, mas você ainda não é tão velho, você tem experiência, maturidade, sabe lidar com as pessoas. Tem muitas vantagens que as empresas não conseguem enxergar. As empresas precisam ser mais inclusivas. As pessoas precisam disso, se não precisassem não estariam em busca", desabafou Taís, que chegou a ficar nove meses desempregada.
"Eu passei quase um ano sem trabalho, porque depois da covid-19, foi bem difícil arrumar um trabalho. Foram nove meses até conseguir um emprego temporário. Foi muito difícil, porque nesse período a gente veio acompanhando o aumento do preço das coisas, da alimentação, teve que cortar coisas, tinha que me virar, vender alguma coisa informalmente, um salgado. Minha expectativa é conseguir um emprego o mais breve possível, porque estar com a carteira assinada é uma segurança", contou ela.
Com uma formação tecnóloga em radiologia, uma pós-graduação em Gestão de Saúde e Administração Hospitalar, além de experiência como coordenadora de unidade hospitalar em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, Ana Paula da Silva, de 46 anos, procurou por cursos na área para acrescentar ao seu currículo e poder voltar ao mercado de trabalho. Ela está desempregada há um ano por conta de um problema de saúde e também pontuou que sua idade tem sido um fator que vem dificultando sua recolocação.
"Venho procurar uma oportunidade de emprego, mas estou aqui aguardando para ver se tem algum curso que eu possa estar acrescendo no meu currículo. Estou sem trabalhar, fiz uma cirurgia de coluna vai fazer um ano, tive que botar uma prótese, então, estou tentando me recolocar. A idade não ajuda muito, porque as pessoas acham que porque a gente tem idade, a gente não tem qualificação. Tenho, tenho bastante qualificação, bastante experiência. Eu tinha 600 funcionários e coordenava isso durante 24 horas, sete dias por semana", relatou Ana Paula.
Técnica em Segurança do Trabalho, Jeane Melo Rodrigues, de 53 anos, também relata que sua idade é a razão pela qual não consegue emprego há três anos. "Estou desempregada há três anos, não consigo mais trabalhar na minha profissão devido à minha idade e por isso estou em busca de uma oportunidade. Eu quero qualquer coisa, porque pela minha idade, na minha área não estou mais conseguindo", se queixou ela.
De acordo com o prefeito do Rio, Eduardo Paes, que esteve no local, o objetivo do evento da Secretaria Municipal de Políticas e Promoção da Mulher é fazer a intermediação entre as empresas e pessoas que têm dificuldades em conseguir emprego, além de promover a emancipação feminina.
"Quando a mulher tem trabalho, tem emprego, ela consegue, de fato, a sua emancipação. É óbvio que é um conjunto importante de políticas, mas é bom celebrar isso dizendo para a mulher ir para o mercado de trabalho, para lutar, porque ela pode ser tudo o que ela quiser (...) Esse é o nosso esforço, fazer essa intermediação entre o mercado de trabalho e essas pessoas que têm mais dificuldades. Aqui a gente também oferece curso de treinamento, capacitação, e acho que tem e existe espaço para todo mundo", disse Paes.
Para Tálita Cláudia Marciano, de 28 anos, a conquista de um emprego é sinônimo de voltar a conviver com os filhos. Desempregada há dois anos, e atualmente vivendo nas ruas com o marido, ela conta que as cinco crianças estão morando com sua mãe e só consegue vê-las por chamada de vídeo. Segundo a mulher, que antes trabalhava como faxineira em uma creche, seu maior desejo é voltar a sustentar sua família por meio do seu trabalho.
"É uma sensação horrível, de muita tristeza. Eu estou desempregada há dois anos e morando na rua desde o Carnaval com meu esposo. Meus filhos ficaram com a minha mãe e eu estou doida para pegar eles, mas preciso desse emprego para ficar com eles de novo. Eu pretendo trabalhar para poder sustentar minha família. Qualquer emprego que aparecer, eu estou indo. Está sendo muito difícil ficar longe dos meus filhos, só vejo eles por chamada de vídeo", lamentou Talita.
A iniciativa também oferece vagas nos cursos Mulheres.Tech, Elas na Indústria, Elas no Comércio e Mulheres Bilíngues, que oferecem bolsa-auxílio e ajuda para o pagamento da passagem, entre outros, bem como, palestras e workshops das Naves do Conhecimento e serviços gratuitos da Secretaria Municipal de Saúde. Para a secretária municipal de Ciência e Tecnologia, Tatiana Roque, primeira mulher a comandar a pasta, é preciso incentivar que o público feminino se capacite para o novo mercado de trabalho, em especial o da tecnologia.
"É fundamental que mais mulheres ocupem postos na área tecnológica, que são as áreas mais valorizadas e que vão estar na frente da transformação que a nossa sociedade está vivendo. Por isso, precisamos incentivar e oferecer cursos de capacitação profissional tecnológica para mulheres para que elas não fiquem para trás nesse novo mercado de trabalho que está surgindo", apontou a secretária.
Morando no Rio de Janeiro há 12 anos, assim como muitas outras mulheres, a baiana Fabiana Almeida Cruz ficou desempregada durante a pandemia de covid-19 e precisou recorrer ao trabalho autônomo para conseguir se sustentar. Mas, o que era para ser apenas uma solução temporária, se tornou um negócio que ela pretende expandir por meio de cursos de capacitação.
"No período da pandemia, como muitos brasileiros e, principalmente, as mulheres, eu fiquei desempregada e resolvi empreender. Hoje eu costuro, trabalho com costura criativa e vim em busca de um curso profissionalizante para eu me desenvolver ainda mais na profissão que eu resolvi seguir. Querer é poder e o lugar de nós mulheres é onde a gente quiser. Como somos mulheres poderosas, a gente pode chegar longe", afirmou Fabiana.
A pedagoga Andrea Xavier, de 52 anos, viu na iniciativa a oportunidade para mudar de carreira. "Eu vim atrás de cursos de aperfeiçoamento, para reciclagem mesmo, e tentar uma mudança de carreira, eu quero mudar a rota da minha carreira. Eu estou procurando curso de operação de câmera ou fotografia. A maioria das mulheres aqui veio em busca de trabalho, mas até para você entrar no mercado de trabalho, retornar ao mercado de trabalho, você precisa estar sempre se reciclando e se qualificando, então, essa ação é muito importante", destacou.
Outras ações
Desde às 8h, a Secretaria de Esportes realiza um evento no Clube Municipal, na Tijuca, Zona Norte, com aulas de meditação, ioga, fit dance e defesa pessoal. Já a Secretaria Municipal de Cultura promove atividades em Bangu, no dia em que o bairro faz 350 anos, com oficinas, peças, exposições e outras atrações, para falar de respeito e igualdade de gênero. A programação completa está disponível no Instagram @cultura_rio.
Já a Secretaria Municipal do Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida faz passeios nesta semana com as frequentadoras de projetos da pasta, enquanto a Secretaria Especial da Juventude Carioca oferece serviços de beleza, das 10h às 15h, na Casa da Juventude do Centro. Por fim, a Secretaria do Ambiente e Clima está lançando o programa Guardiãs das Matas, para que lideranças comunitárias femininas ajudem na preservação da Mata Atlântica em 25 territórios cariocas.
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