Entulhos estão acumulados dentro do Jardim de AlahReginaldo Pimenta / Agência O Dia

Rio - A Secretaria de Coordenação Governamental (SMCG) publicou na edição desta quinta-feira (9) do Diário Oficial do Município do Rio, o aviso de licitação da concessão de uso e gestão do Jardim de Alah. A concorrência pública será realizada no próximo dia 26 de abril e a empresa que vencer o certame será responsável pela revitalização, operação e manutenção da área, que fica entre os bairros de Ipanema e Leblon, na Zona Sul da cidade. 
De acordo com o edital, o valor do contrato é estimado em R$ 112,6 milhões, que correspondem ao investimento a ser feito pela concessionária ao longo do prazo estipulado para a concessão, que é de 35 anos. As empresas interessadas em assumir a gestão do parque poderão participar da concorrência individualmente ou como consórcio. A licitação será técnica e de preço, quando são avaliados tanto o plano de ocupação quanto o valor oferecido. O valor mínimo da ourtoga é de R$ 2.351.531,04.
O vencedor deverá ampliar a área de parque, transformar os estacioncom entrada amentos atuais em subterrâneos e dar novos usos como instalação de lojas e restaurantes, além da promoção de eventos e exposições. Em contrapartida, poderá explorar áreas delimitadas nos 7 mil m² para atividades de serviços privados. A proposta é que o Jardim de Alah continue sendo um parque público, com entrada gratuita, com ainda mais áreas verdes onde hoje ficam carros estacionados.
Em janeiro de 2022, a Prefeitura do Rio iniciou a avaliação dos estudos para concessão, após receber duas propostas privadas para revitalização do espaço dos grupos Magus Investimentos e Accioly Participações. Ambos são investidores que apresentaram Manifestação de Interesse Privado (MIP), procedimento comum na implementação de Parcerias Público-Privadas e concessões. 
No início do ano, houve uma audiência pública, em Ipanema, onde a maioria dos moradores se mostrou favorável à concessão. No encontro também foi elaborado o documento que serviu de base para o edital de licitação. Para as Associações de Moradores (Amaleblon) e Comercial (Acleblon) do Leblon, a medida é a única solução para uma revitalização do parque.

"Nós somos a favor da concessão, ela atende a maioria das exigências dos moradores, acreditamos em uma gande melhora. O Jardim de Alah hoje está tomado por moradores de rua e usuários de droga, então, não tem como continuar como está, é super perigoso passar por ali. Tudo isso vai mudar quando essa concessão for dada, para que a gente possa ter todas a melhoras que eles prometem e são obrigados a fazer pelo contrato de concessão", afirmou a representante da presidente da Amaleblon, Virgínia Fernandes, que destacou a segurança como principal preocupação.

"Infelizmente, nós não temos condições, nem o Batalhão, nem a PM, nem o Leblon Presente, ninguém tem efetivo necessário para fornecer a segurança para o Jardim de Alah em toda a extensão, como vai ser o projeto. Somente segurança particular. Além de um uso super adequado às condições do local, uma segurança para que o local possa ser usufruído pela população, que atualmente é impossível."
Carlos Monjardim, presidente da Associação de Moradores e Amigos de Ipanema (Amai), também disse que é a favor da concessão do espaço. De acordo com ele, o Jardim de Alah irá virar um atrativo para os turistas que querem aproveitar a noite e a revitalização ainda irá fomentar o comércio local.
"Primeiro, vamos ser práticos: o Jardim virou uma cracolândia, está largado e abandonado, além de estar sujo e sem conservação. Achamos que é uma iniciativa muito inteligente do prefeito Eduardo Paes. Em vez de aplicar o dinheiro público em uma área nobre, ele pode ser aplicado em áreas mais necessitadas. Acreditamos que o espaço vai se tornar o grande atrativo da cidade do Rio. Não vai ter um turista que não vai querer ir lá jantar com segurança e estacionamento. Também temos a expectativa de que o espaço seja o fomentador do comércio de bairro", contou Carlos.
Morador do Leblon por 53 anos, o empresário Ricardo Amaral, dono de bares e boates famosas do Rio e conhecido como "Rei da Noite" carioca, compartilhou um vídeo em seu perfil nas redes sociais em que diz ser favorável à concessão. "Eu tenho uma pena louca de toda vez, nessas décadas que eu vivi aqui e passo pelo Jardim de Alah, de ver aquilo totalmente desaproveitado e abandonado. Eu estou muito entusiasmado com a ideia de haver uma ocupação, e uma ocupação, pelo que eu vi por desenhos publicados, muito interessante, que vai dar uma vida louca a aquele local", comentou.
Entretanto, comentários na publicação do empresário se mostraram preocupados com a criação de estabelecimentos comerciais no espaço, por conta do barulho e do aumento no tráfego na região. Alguns chegaram a dizer que temem que o parque se transforme em uma nova versão da Rua Dias Ferreira, uma das mais movimentadas do Leblon, por conta dos bares e restaurantes.

"Aquele parque merece ser apenas revitalizado. Jardins cuidados e devolverem à regiao a paz que nos foi tirada e um paisagismo maravilhoso que foi destruído. Não queremos comércio, trânsito, nem barulho. Queremos verde e o espelho d'água com sossego e respeito aos qur moram ao redor", disse uma pessoa. "Como moradora do Jardim de Alah, sou contra. Leblon e Ipanema estão cheios de restaurantes e bares, e muitos deles estão fechados. Esse empreendimento vai trazer mais barulho de noite, caminhões de lixo de madrugada, shows noturnos e etc... Corremos o risco de ter uma nova Dias Ferreira", se queixou outra.
Moradores que são contra a concessão já mostraram a vontade de cuidar do parque com as próprias mãos, inclusive colocando cartazes sobre o posicionamento no espaço.
Outras concessões
Em janeiro deste ano, a empresa Lagoa Aventuras assumiu a gestão do Parque da Catacumba, na Lagoa, também na Zona Sul, por 25 anos. Antes, o espaço era administrado pela Secretaria do Ambiente e Clima. A concessionária agora é responsável por investimentos em melhorias, com valor total de no mínimo R$ 2,5 milhões, mantendo o acesso gratuito para a população. Este foi primeiro de uma série de parques da cidade que estão em estudo pela prefeitura para serem revitalizados por concessão.