Jovem de 24 anos teve a mão amputada após dar à luz no Hospital NotreDame Intermédica Jacarepaguá, na Zona Oeste do RioReprodução

Rio - A defesa de Gleice Kelly, de 24 anos, que teve a mão e o punho esquerdos amputados após ir ao Hospital da Mulher Intermédica de Jacarepaguá, na Zona Oeste, dar à luz, em outubro do ano passado, questiona a demora na análise do exame de corpo de delito que reúne o prontuários da paciente. O exame foi realizado no dia 16 de janeiro deste ano e, desde então, está em análise no Instituto Médico Legal (IML) do Centro, impossibilitando que o inquérito avance na 41ª DP (Tanque).
Paciente teve o braço amputado, mas não sabe o que levou a perda do membro - Arquivo pessoal
Paciente teve o braço amputado, mas não sabe o que levou a perda do membroArquivo pessoal
A advogada de Gleice, Monalisa Gagno, compareceu nesta quinta-feira (9) à distrital para conversar com os investigadores. Segundo ela, a análise do exame de corpo de delito está totalmente sob sigilo.
"Nós não estamos tendo acesso ao andamento do laudo. Isso nos preocupa porque essa fase é muito importante para o processo. Trata-se do prontuário que narra tudo que a Gleice passou no hospital, essa apuração do IML é o ponto principal para o andamento de todos os processos. Se tem tudo documentado, que é o caso, não precisa de mais prova nenhuma. Agora, se o IML invocar que tudo que foi feito no prontuário cumpriu com todos os protocolos, teremos que recorrer e isso leva mais tempo", disse.
Monalisa também conta que foi informada na unidade policial que o perito responsável pela análise do corpo de delito mudou. "A gente fica sem saber como está o processo, falta informação. Pretendo nos próximos dias entrar com uma petição na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para tentar contornar essa situação", afirmou.
Vítima tenta refazer a vida
Gleice, vítima de uma possível imprudência do hospital, está há cinco meses vivendo a angústia de não saber se verá a justiça sendo feita. Aos 24 anos e com um bebê para cuidar, a jovem buscou ajuda psicológica para seguir em frente.
"Sigo mais indignada do que nunca, mas estou me refazendo. Para eu conseguir alguma informação eu precisei ir no IML presencialmente. Fiquei sabendo que mudou até o perito. A gente sofre de agonia porque não sabe se tudo isso vai durar um ou dois anos. Acho um absurdo essa demora, não sei se isso é normal, mas quando fui fazer o exame de corpo de delito me foi informado que o resultado sairia em até 15 dias, mas até agora nada", desabafou. Legalmente, o prazo de entrega do resultado do laudo é de 90 dias. Nesta quinta-feira (9), completou-se 53 dias desde a realização do exame.
A demora no andamento do processo fez com que Gleice tentasse outras formas de seguir em frente. Ela criou uma vaquinha online a fim de arrecadar dinheiro para a reabilitação do braço e para comprar uma prótese. "Já comecei a usar uma meia que vai proteger meu membro para que ele possa aceitar bem a prótese. Criei essa vaquinha para pagar os serviços de fisioterapia", diz. A meta de arrecadação é de R$ 250 mil. Acesse a vaquinha online de Gleice. 
A defesa de Gleice conta que o hospital envolvido na amputação ofereceu em janeiro o valor de R$ 250 mil para que a cliente retirasse a queixa e encerrasse o processo. No entanto, a paciente recusou a proposta e disse que seguirá com a denúncia até que a justiça seja feita. 
Procurada para comentar sobre a oferta feita à Gleice Kelly, o Hospital da Mulher Intermédica de Jacarepaguá ainda não se pronunciou. A reportagem também entrou em contato com a Polícia Civil para questionar a demora no resultado do laudo, mas também não houve resposta até o momento.
O que diz o Cremerj
O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro informou, nesta quinta-feira (9), que a sindicância sobre este caso está em andamento e corre em sigilo, seguindo todos os ritos do Código de Processo Ético-Profissional. Ressaltou ainda que o Cremerj e o IML são instituições distintas e o procedimento, que vem sendo apurado pelo Conselho, ocorre unicamente na autarquia, não tendo a ver com outras instituições.