Paciente teve o braço amputado, mas não sabe o que levou a perda do membroArquivo pessoal

Rio – Gleice Kelly, jovem de 24 anos que teve a mão e o punho esquerdos amputados após dar à luz no Hospital da Mulher Intermédica de Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, em outubro de 2022, fez exame de corpo de delito, nesta segunda-feira (16), na 41ª DP (Tanque), para apuração de lesão corporal culposa cometida pela unidade de saúde. O inquérito policial foi aberto na última quinta-feira (12).
Segundo Monalisa Gagno, advogada da vítima, os prontuários médicos do Hospital da Mulher Intermédica de Jacarepaguá e de São Gonçalo, na Região Metropolitana, para onde ela foi transferida em seguida, foram levados para o Instituto Médico Legal (IML), nesta segunda-feira, por conta do pedido da Polícia Civil. Assim que o exame for concluído, é possível dar continuidade ao inquérito e fazer a apuração criminal. Ainda de acordo com a advogada, a parte cível do processo ainda não foi aberta porque precisa da conclusão da perícia feita no IML.
Monalisa afirmou que não medirá esforços para fazer justiça à vítima: "Eu vou fazer tudo que for possível para ver o direito dela reestabelecido. Eu vou entrar na esfera administrativa, judicial, na esfera cível e criminal também", esclareceu a advogada ao DIA.
À reportagem, Gleice Kelly afirmou que espera que os médicos paguem pelos seus erros: "Espero que os médicos sejam punidos da maneira que deve ser feita. Mudaram a minha vida em todas as áreas, o meu psicológico, meu trabalho, o cuidado com os meus filhos. Não quero apenas um benefício para tentar compensar um erro que eles cometeram", desabafou a fiscal de caixa.
Gleice Kelly disse ainda que tudo é muito difícil, até cuidar dos filhos: "Não fico me vitimando, a questão é que eu era perfeita e agora eu preciso me refazer completamente. O meu caso é um em um milhão. A gente vai para a maternidade sabendo dos riscos, mas não imaginava perder um membro", finalizou.

Ela ainda contou que se planejou financeiramente para ter o parto em um lugar com boa estrutura, mas não foi o que aconteceu: "Me organizei para ter o bebê em uma rede particular, esperava algo melhor do que o SUS (Sistema Único de Saúde), para ter algo mais organizado. E eu fiquei com trauma", acrescentou.
Gleice demorou dois meses para procurar uma advogada e entrar com processo jurídico por conta de medo de sofrer retaliação no hospital: "Eu esperei para procurar uma advogada, o que eu fiz em dezembro, porque eu sempre tive medo de hospital. Depois de tudo o que aconteceu, eu ainda precisava ir à unidade de saúde fazer umas avaliações e me internar novamente. Tive medo de precisar deles novamente e sofrer algum tipo de maltrato por já ter dado entrada no processo".
Segundo Monalisa, a mão de Gleice sumiu e ninguém do hospital sabe onde o membro está: "A mão dela sumiu, não teve direito do sepultamento da mão dela, ninguém sabe aonde foi parar a mão, eles falaram que iam levar para estudo, mas ninguém deu o paradeiro de onde foi parar o membro”.