Alípio Guedes e sua cachorrinha Zoe morreram na hora com o impacto do acidenteArquivo Pessoal

Rio - O caso do idoso Alípio Guedes Filho, 69 anos, que morreu atropelado no dia 25 de julho do ano passado, enquanto levava sua cadela Zoe para passear no Leblon, na Zona Sul, foi reaberto pela Polícia Civil após solicitação do Ministério Público depois que a defesa da família da vítima apresentou falhas nas investigações. As informações foram confirmadas neste domingo (12) pelo advogado criminalista Luis Felipe Sene.

O inquérito havia sido concluído dois meses após a morte, com a vítima sendo considerada a única culpada pelo acidente. Na decisão, a autoridade policial ressaltou ainda que o idoso havia ingerido álcool antes de ser atropelado e estava fora da faixa de pedestres.

"Considerando a oitiva dos envolvidos, bem como laudo pericial indicando o consumo de álcool pela vítima, e que ainda a envolvida prestou socorro no momento do atropelamento, deixo de proceder o indiciamento, não tendo condições de prever o atropelamento, pois estava pista reversível. Indicando culpa exclusiva da vítima", diz um trecho da decisão.

Em entrevista ao DIA, o advogado defendeu que o próprio laudo do perito indica que Alípio não havia ingerido bebida alcoólica, além de apontar outras falhas na investigação, como a ausência de perícia no local do acidente e no veículo da condutora, e falta de análise das imagens de câmeras de segurança que gravaram o atropelamento.

Em relação ao exame de alcoolemia, a defesa conta que no dia do acidente, que ocorreu por volta das 9h, o idoso tinha apenas tomado café com a mulher e filha, e como de costume foi passear com a cachorrinha.

"A vítima era um senhor de quase 70 anos. Neste dia ele tinha tomado café com a esposa e a filha que estava de férias da faculdade e saído para passear com a cachorrinha dele, o que ele fazia todos os dias, no mesmo trajeto, e esse relatório foi contrário a uma prova que a própria autoridade policial fez, de alcoolemia, para ver se ele tinha ingerido álcool antes do acidente e outra coisa curiosa é que foi feito isso na vítima, mas o exame não foi feito na condutora", contou.

A defesa explicou ainda que de acordo com o perito, o que tinha no sangue da vítima um índice de álcool encontrado no seu sangue estava de acordo com o que o corpo humano produz em seu próprio metabolismo. "Isso soa até desrespeitoso, a delegada disse também que ele estava fora da faixa, mas não é só por isso que o condutor não tem responsabilidade", disse.

Luis disse que a própria equipe de advogados da família juntou as imagens de dois prédios bem em frente ao local do acidente. Nas imagens, é possível ver o momento em que o carro vem de longe e atinge a vítima, que rodopia no ar e cai mais a frente. De um outro ângulo, é possível ver ainda que a condutora do veículo não para imediatamente próximo ao local onde o corpo ficou caído no chão. O idoso e sua cachorrinha morreram na hora com o impacto.

"O senhor Alípio e a cachorrinha dele faziam aniversário no mesmo dia, 10 de fevereiro, eram grudados, e ambos faleceram juntos", comentou o advogado.

A motorista do veículo, a advogada Tatiana Saboya, em depoimento, relatou que estava a 40km/h com sua família no carro a caminho do aeroporto e que não viu a vítima. Ela relatou ainda que prestou atendimento imediatamente e esperou a chegada dos policiais e Corpo de Bombeiros, e que depois compareceu à delegacia para prestar depoimento.

O advogado da família da vítima, no entanto, contesta essa versão, e acredita que a condutora estivesse em alta velocidade.

"Quando a gente analisa o vídeo a gente ver que a condutora do veículo mentiu no depoimento quando ela diz que está a 40km/h e quando ela diz que não viu a vítima porque pelas imagens ela estava com uma visão limpa, então ela agiu de forma imprudente, claro que não foi doloso, mas ela tem uma parcela de culpa. O local do impacto para o que ele foi arremessado fica em uma distância de mais de 7 metros", diz.
"Quando o carro bate nele, ele gira três vezes no ar e cai no chão. Ele era um homem pesado, é inocência acreditar que ela estivesse devagar. Acontece que a polícia não fez o levantamento dessas imagens, eles pegaram imagens de outro prédio que não tinha a mesma visão. Além disso, testemunhas não foram ouvidas. A vítima fazia esse trajeto todos os dias, ele morava perto do local do acidente. Então os porteiros, todo mundo conhecia ele, e quando o teve o acidente muita gente viu", conclui Sene.

O Ministério Público pediu a reabertura do caso em outubro do ano passado. "Quando veio esse arquivamento repentino entramos em contato com o MP e fizemos uma representação, mostrando ponto a ponto do que achávamos da investigação. Eu tive uma reunião com o promotor que concordou com os pontos e mandou reabrir a investigação e acatou nossos pedidos", explicou o defensor.

O advogado contou ainda que espera que testemunhas sejam ouvidas e seja feita a análise dos vídeos obtidos no dia do acidente. De acordo com a Polícia Civil, diligências estão em andamento na 14ª DP (Leblon). 

Procurada, Tatiana Saboya ainda não se pronunciou sobre o caso. O espaço segue aberto para inclusão de um posicionamento.