A menina foi resgatada nesta terçaReprodução
Antonio Carlos Marques Fernandes, especialista em direito digital, alerta que todos os usuários estão sujeitos a golpes, mas que os cuidados devem ser redobrados com crianças e adolescentes, principalmente nas redes sociais.
"Dentre os problemas mais comuns, são reportados acesso a conteúdo malicioso e inapropriado para idade; contato com pessoas abusivas e/ou mal-intencionadas; falta de zelo para uso de aplicativos inseguros em dispositivos móveis; e a rede social para crianças. Nesse nicho pode ser acessado todo tipo de conteúdo, não é incomum acesso a itens maliciosos e links que possam colocar a pessoa em estado de vulnerabilidade por esse meio (rede social)", disse.
O advogado salientou também que a sociedade deve procurar se educar tecnologicamente. "É preciso que as pessoas entendam o mínimo de proteção para a não prospecção de dados, para que não sejam portais para exposição e contaminação por intermédio de Phishing (forma popular de crime cibernético por meio de e-mail, mensagens e links). Uma sociedade educada e com noção do que é a rede mundial de computadores evitaria a maioria dos golpes, crimes e fraudes", disse.
O especialista acredita ainda que não há meios seguros para uso de redes sociais em idade precoce. "A criança fica exposta a conteúdos que são denominados 'temporários' ou bomba, que somem logo em seguida a abertura do link/video/foto. Com isso pode ter acesso a tais mensagens e automaticamente se coloca em situação de risco, por medo, vergonha e manipulação", relatou.
Importância do diálogo
De acordo com a psicóloga Janice Linhares, a principal forma de prevenir golpes pela Internet são os pais abrirem espaço para um diálogo frequente com seus filhos.
A psicóloga relata que é fundamental explicar para esse público que existe pessoas ruins e má intencionadas. Ela considera importante também avaliar a faixa etária da criança ou adolescente antes de fornecer acesso a redes sociais.
"Devemos avaliar a maturidade das nossas crianças, será que eles têm condição de lidar com isso (rede social)? De fazer um bom uso? Isso tem que ser avaliado. Além disso, também precisamos avaliar o tempo nas telas, que eles usem depois de fazer seus afazeres", enumerou.
A especialista reforçou também que é importante estabelecer um vínculo para que não haja segredos e fazer um monitoramento do que os filhos estão fazendo, assistindo ou com quem estão conversando.
"As crianças e os adolescentes ainda não têm maturidade ou capacidade de entender as consequência dos seus atos. Isso porque o cérebro ainda está passando por uma reorganização. O adolescente busca o prazer e a recompensa como adulto, mas ele ainda não está maduro o suficiente para lidar com as consequências. Se não houver um espaço de diálogo, é capaz da gente não saber o que está acontecendo com eles", finalizou.
Crianças nas redes sociais
De acordo com a última pesquisa do TIC Kids Online Brasil, publicada em agosto do ano passado, cerca de 78% dos usuários de Internet com idades de 9 a 17 anos acessaram as redes sociais. Para a coordenadora do projeto Luísa Adib, a internet pode trazer benefícios para crianças e adolescentes se os pais mantiverem um acompanhamento do uso dos celulares ou computadores.
"A gente sabe que participação online cria uma série de oportunidades para entretenimento e socialização, então existem sim um benefício que vem a partir da participação de um ambiente online. Mas claro que elas estão expostas a uma série de riscos, como contato a conteúdos sensíveis e pessoas desconhecidas. Por isso o uso tem que se acompanhado, tanto por pais e responsáveis quanto por educadores", explicou.
Vigilância não é punição
A psicóloga Angela Donato Oliva, do Instituto de Psicologia da Uerj, explica a diferença entre monitorar, vigiar e punir. Ela alertou que a punição de forma rigorosa não ajuda na proteção.
"Não é só punir a criança e dizer: 'Não faça isso'. É se fazer presente, é conversar, essa vigilância não é sinônimo de punição, é necessário criar diálogos, porque quanto mais proíbe, mais elas fazem e podem até querer fugir de casa. É preciso criar alternativas, por exemplo: 'Olha, você ajuda a mamãe a não cair em um golpe e a gente te ajuda'. É deixar ela com liberdade para contar caso aconteça algo", diz.
Angela também falou sobre o controle que os pais devem ter com o que os filhos fazem nas redes sociais.
A especialista informou ainda que as pessoas precisam entender que a infância é longa e que é preciso um acompanhamento muito próximo a um monitoramento.
Principais crimes
A adolescente estudava na Escola Municipal Ginásio Professor Neemias Rodrigues de Mello, em Sepetiba. Segundo a família, ela saiu de casa, por volta das 6h30, da última segunda-feira (6), usando o uniforme e a mochila, mas não retornou. A direção da unidade escolar comunicou aos responsáveis que a aluna não participou das aulas. Conforme familiares, a adolescente foi vista, pela última vez, conversando com um homem desconhecido nos arredores do colégio.
Além do uniforme, a adolescente também levava na mochila um vestido rosa e um tênis novo. O aparelho celular da estudante foi desligado. De acordo com relatos da família, uma colega da escola confirmou que a adolescente estava se relacionando de forma virtual com um rapaz, que pretendia ir com ele para Minas Gerais, mas não imaginava que tomaria uma atitude tão arriscada.
Uma foto enviada pelo celular da menina a uma prima um dia depois do desaparecimento, levantou suspeitas. Na imagem, encaminhada um dia depois do seu paradeiro, a adolescente aparece com óculos de grau, dentro de um carro e com o olhar triste. A foto foi enviada com uma mensagem de texto supostamente escrita pela própria menina.
Sequestrador preso
O suspeito pelo sequestro, Eduardo da Silva Noronha, 25 anos, foi preso na última terça (16) quando a menina foi resgatada. Ela foi encontrada em uma quitinete sozinha, enquanto ele estava trabalhando.
Segundo investigações, eles teriam ido em um carro de aplicativo que foi contratado pelo suspeito por R$ 4 mil. A viagem dura cerca de 43 horas. O que ajudou a descobrir o paradeiro da menina foi que ela conseguiu fazer contato com a irmã 4 dias depois do sequestro após entrar em uma loja e acessar o wifi. A Polícia Civil do Maranhão ainda divulgou imagens do local onde a encontraram.
De acordo com o delegado Marcone Matos, ao realizar contato com a família, a menina disse estar arrependida de ter embarcado na viagem e chorava muito dizendo que queria voltar para casa.
Homem admite beijo em adolescente
O delegado contou ainda que em depoimento, o homem admitiu que teria beijado a adolescente.
Em relação ao crime de estupro de vulnerável, Matos informou que o caso está sob segredo de Justiça, mas detalhou sobre os crimes que Eduardo pode responder.
"A princípio, ele foi autuado por cárcere privado com agravante da vítima ser menor de 18 anos, mas se ele fez algum documento falso pra ela nesse processo também pode ser autuado por isso e por fim, se for comprovado, por estupro de vulnerável. Em depoimento, ele disse que a beijou e se mostrou surpreso com a prisão", finalizou.
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