Tapumes foram colocados na altura do posto 7 após recomendação do MPF por interrupção de obrasMarcos Porto/ Agência O DIA

Rio - Os danos provocados por ressacas no calçadão da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, devem ser reparados por manutenções periódicas e pela recuperação de dunas e vegetação de restinga na praia. É o que explicam especialistas ouvidos por O DIA, após obras consideradas irregulares no local serem suspensas por recomendação do Ministério Público Federal (MPF).
Originalmente, explica o professor da faculdade de Oceanografia da Uerj, Marcelo Sperle, a praia se prolongava até onde hoje em dia ficam os prédios da Avenida Lúcio Costa. A areia e a vegetação de restinga cumprem o papel de absorver a energia das ondas mais fortes. O especialista frisa que não há problema de erosão na praia da Barra, mas sim a característica da região ter episódios de ressacas ao longo dos anos.
"O que tem que ser feito é muito simples: recompor o calçadão e retificar a duna. Basta isso. Nós não queremos retirar nem as vias expressas, nem o calçadão, nem os prédios. O preço que se paga de ter invadido a praia é esse: quando o mar vem, em vez de encontrar areia e vegetação, se choca com essas estruturas. A recomendação é evitar construir além da faixa da praia, mas em casos de grandes cidades, onde esse processo já aconteceu, é preciso conviver com manutenções na orla", afirma.

A professora da faculdade de Geografia da UFRJ Flavia Moraes Lins de Barros concorda. "As ressacas causam problemas de danos nos calçadões uma vez que historicamente a gente retirou a proteção natural da praia que eram as dunas e restingas e continuamos fazendo isso. Quanto mais a gente tirar barreiras naturais, mais problema com erosão causada por ressacas a gente vai ter. Essa orla toda é exposta a ressacas", completa.

A natureza da região exige um planejamento para recuperação periódica do calçadão. Marcelo Sperle compara a situação com uma infiltração em casa. É preciso reparar para que a situação não se agrave. "Esse calçadão está destruído há anos. Tem que haver manutenção, como quando temos infiltração em casa. Ali no calçadão houve uma ressaca grande em 2015, e depois várias outras foram ampliando os danos ali na altura do posto 7", explica o professor da Uerj.

Para de fato reduzir os danos provocados pelas ondas, a orientação é recolocar dunas no local. "Para melhorar a situação é necessário realizar um estudo, mesmo que rápido, que possa considerar a recuperação dessas dunas e talvez um pouco mais elevadas do que existe hoje, recriando essa proteção natural que se perdeu", afirmou Flavia Moraes. A professora da UFRJ também indica outras soluções.
"A recomendação é de recuo, e não de avanço de construções na praia. Utilizar palafitas, que permitam a passagem das ondas, a recomposição de restinga e de dunas diminuiriam ainda mais os efeitos da ressaca. A criação de passarelas suspensas para evitar causar erosão no acesso às praias também pode ser pensada", exemplifica.

O que os cientistas refutaram foi a utilização de concreto sob a areia. "Há uma série de possibilidades que não seja uma obra rígida de concreto na areia. Aquela obra aumentaria os danos que a gente está vendo hoje", explica Flavia. O professor da Uerj Marcelo Sperle diz que a obra que foi considerada irregular pelo MPF utiliza a técnica de contenção de encostas de morro e não é recomendada para problemas de erosão costeira", finaliza.

A Prefeitura do Rio de Janeiro acolheu no último dia 14 a recomendação do Ministério Público Federal (MPF) e desistiu das obras que colocavam uma manta de concreto na faixa de areia entre os postos 8 e 3 da orla e que provocou a mobilização de cientistas especializados em oceanografia e geografia de diversas universidades do estado.
Questionada, a Secretaria Municipal de Infraestrutura informou que as obras na orla da Barra visavam recuperar a urbanização de trecho de calçadão e ciclovia destruídos pelas ressacas. Segundo o órgão, a intervenção tinha ainda a preocupação ambiental do replantio da vegetação de restinga. A secretaria completou que, no momento, responde aos questionamentos do MPF e que as obras estão paralisadas desde o dia 1º de fevereiro.