O Instituto de Química, da UFRRJ, fica em Seropédica, na Baixada FluminenseDivulgação
Após ameaças na Rural, diretores falam sobre importância da conscientização contra violência
Suspeito propagou mensagens de cunho racista, homofóbico e sexista contra estudantes; criminoso foi preso nesta quarta-feira
Rio - A ameaça de um massacre contra alunos da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), em Seropédica, na Baixada Fluminense, marcado para a próxima segunda-feira (10), mobilizou toda a comunidade acadêmica da instituição e, em especial, os integrantes do Instituto de Química, onde as vítimas estudam. O suspeito de enviar mensagens aterrorizando estudantes foi preso nesta quarta-feira (5). Ele era aluno da Rural.
De acordo com imagens divulgadas na Internet, as postagens enviadas pelo criminoso têm conteúdo racista, homofóbico, machista e sexual. As ameaças foram feitas entre a noite de domingo (2) e a madrugada de segunda-feira (3). Além disso, em uma das conversas, o suspeito, utilizando a imagem de um estudante, que é inocente, mostra uma arma e munições para reforçar a intimidação aos alunos.
Em conversa com o DIA, nesta quarta-feira, o diretor do Instituto de Química da Rural, Cristiano Riger, disse que o fato gerou um pânico na comunidade acadêmica, mas o caso foi administrado em conjunto com as autoridades policiais e os próprios membros da Casa.
"A atuação da direção é de auxiliar as investigações e tentar, de alguma forma, apresentar para a comunidade do Instituto de Química o que estava sendo feito e acalmar um pouco o medo. Esse crime foi cometido de domingo para segunda e, desde então, a Polícia Civil, auxiliada por pessoas do próprio Instituto apurou o caso. Quero dar os parabéns à instituição da Polícia Civil, à 48 DP (Seropédica), que sempre nos tratou bem e nos deixou a par do caso. Rapidamente concluíram essas apurações que culminaram na prisão desse autor. Também faço um agradecimento especial aos alunos que contribuíram para tratar o problema como ele deveria", disse o diretor.
Cristiano contou que houve um pedido dos estudantes para adiar o início das aulas. A possibilidade está sendo analisada internamente. O diretor aproveitou para chamar a atenção sobre o papel das universidades e dos institutos na conscientização dos alunos sobre casos como esse. De acordo com ele, os adolescentes e as crianças foram influenciadas nos últimos anos a pensarem que tais formas de agressões e ameaças contra outras classes são possíveis, mesmo sendo crimes que podem ser denunciados.
"Nós passamos, nos últimos anos, como universidade e instituição de ensino, sendo atacados de todas as formas. Com sexismo, por xenofóbicos, entre outras formas. Pessoas que faziam isso de forma pensada tiveram voz nesses ataques. De muitas formas, isso criou um modus operandi para que pessoas ainda em formação, como adolescentes e crianças, entenderem que algumas formas de ataque são possíveis. Mesmo sendo crimes, ilegais, e prejudicando a vida de alguém ou de um grupo de pessoas. Cabe à universidade e aos institutos conscientizarem os seus discentes sobre como agir em uma situação como essa. Às vezes muitos se calam e pensam que é uma brincadeira de mal gosto, mas não é. É crime. Nesse sentido, acho que nossos alunos colaboraram bastante", analisou Cristiano.
O diretor ainda revelou que a Rural, agora, vive uma mistura de sentimentos em relação à prisão do suspeito. Uma parte está aliviada, porque a ameaça deixou a comunidade acadêmica tensa desde quando foram divulgadas as mensagens. Já outra parte está triste, pois o autor é um aluno ainda em formação continuada, profissional e social.
Autor usou perfil de outra pessoa
O suspeito de realizar as ameaças enviou mensagens aos alunos se passando como um outro estudante da universidade. Ele criou um perfil falso através do WhatsApp com a foto de uma das vítimas e começou a ameaçar outros integrantes da comunidade acadêmica como se fosse essa pessoa.
A vice-diretora do Instituto de Química, Clarissa Silva, destacou que o suspeito de realizar as ameaças conseguiu o contato das vítimas através de um grupo criado por estudantes no aplicativo de mensagens em 2016, cujo possui o link de acesso aberto. Com isso, ele se passava por uma segunda pessoa, que também é vítima do crime, para ameaçar outros estudantes.
"O integrante, como nós suspeitávamos, identificou algumas pessoas e dirigiu os ataques aos alunos. Só que ele usou fotografias de integrantes do grupo para construir o perfil falso. Às vezes essas imagens são divulgadas como a imagem de um aluno nosso que já está sendo vítima do ataque e agora passa a ser vítima de uma acusação infundada de ser quem está causando o ataque. É necessário que haja mediadores e administradores desses links públicos de acesso e que eles sejam refeitos periodicamente. Isso impede que você acesse o link antigo e principalmente há o controle da entrada. O que acontece nesses grupos de alunos nos afeta. É muito importante que as pessoas tenham a noção que às vezes o rosto que está sendo mostrado não é de quem está causando o ataque", disse Clarissa.
A professora, que exerce a profissão há 21 anos em universidades públicas, complementou que foi a primeira vez que sentiu uma profunda angústia sobre uma situação com um aluno. Segundo Clarissa, há um alívio porque houve a identificação do suspeito que gerou terror à comunidade, porém também há um sentimento de pesar por ver o que aconteceu com um ingressante na instituição.
"Eu tenho 21 anos de exercício de profissão como professora de universidade pública e é a primeira vez que eu me sinto profundamente angustiada por ter que emitir para um ingressante o primeiro documento dele sendo um boletim de ocorrência. Ele causou uma enorme desestruturação das nossas equipes no sentido de pensar a recepção dos calouros e um novo período. Ele trouxe ingredientes completamente estranhos, alheios e adversos à vida acadêmica e universitária. A universidade tem o papel de formar o cidadão profissionalmente e ele não nos deu essa chance. É muito frustrante, mas a polícia e a Justiça vão se incumbir disso", completou a vice-diretora.
Vítima mostra preocupação
Um das vítimas que teve sua foto usada pelo suspeito ficou muito preocupada com o alcance que o fato poderia gerar, já que para pessoas que não o conhecem, ele seria o autor das ameaças. Ao DIA, a vítima, que teve sua identificação preservada, contou que passou a semana com receio sobre o que poderia acontecer.
"Quando eu fiquei sabendo do uso da minha imagem pelo autor do crime, eu fiquei preocupado. A minha maior preocupação é que ele poderia usar isso também para ameaçar outras pessoas de fora do Instituto que não me conheçam. No caso, eu estiver saindo de casa e alguém me encontrar na rua e me tirar para Cristo por exemplo. Ontem (terça) de manhã eu saí de Seropédica para vir pro Rio e achei mais seguro voltar para cá do que ficar por lá. No percurso todo, eu fiquei preocupado. Eu fiquei mais preocupado ainda quando surgiu uma matéria que saiu a circulação. Ainda hoje continuo preocupado, mas um pouco mais tranquilo. Foi um alívio demais a prisão. Não só por mim, mas pelos outros amigos meus", explicou.
O aluno ressaltou que viu o suspeito utilizando fotos de outras pessoas, mas que não eram conhecidas. Quando a vítima foi denunciar o fato ao WhatsApp, o criminoso já tinha mudado a foto e o nome de perfil.
Nota da redação
Ao contrário do que foi publicado no site do jornal O DIA, na tarde desta terça-feira (4), o print que mostraria o rosto do suposto autor das ameaças e que circulou em grupos de WhatsApp de estudantes da Universidade, não era do criminoso, e sim de um dos alunos vítima. Pelo erro, pedimos desculpas ao estudante, à direção e a todos os demais membros da comunidade da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).
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