O caso foi registrado da 15ª DP (Gávea)Reprodução

Rio - Uma mulher acusou mãe e filha de terem pegado seu celular em um mercado na Gávea, na Zona Sul do Rio, nesta sexta-feira (7). Segundo as vítimas, a acusação foi feita por conta do racismo.

Joana Serafim e a mãe dela, Francisca Serafim, estavam na fila do caixa do estabelecimento quando uma outra cliente saiu para pegar um item e foi até a seção de ovos. Na volta, passou a dizer que tinha deixado seu celular no local e que o aparelho havia sumido.
"Como ela estava gritando, o mercado inteiro ficou nos olhando, uma cena constrangedora. Eu sem entender que tudo aquilo ela estava fazendo era porque somos uma família preta", lamentou.

Ormezinda das Dores Fagundes, que acusou as duas, chegou a pegar a bolsa de Francisca Serafim em busca do aparelho, mas não o encontrou.

Segundo relato de Joana, ela ainda se ofereceu para fazer ligações para o número da mulher e encontrar o celular perdido. A vítima ainda contou que a mulher gritava, mesmo com ela dizendo que nada havia sido deixado na fila.

"Era pra ser apenas uma sexta feira santa como todos os anos, nós nos reunimos na casa da minha mãe. A senhora Ormezinda, que estava na nossa frente na fila do mercado e já tinha passado suas compras, solicitou hostilmente que a gente esvaziasse nosso carrinho para dar para ela. Em seguida, ela saiu e foi pegar os ovos que havia esquecido de comprar. Ela voltou gritando que tinha esquecido o celular e a carteira no caixa onde nos estávamos. Nos dissemos que não havia nada lá, quando colocamos nossas sacolas. Ela continuou insistindo que estava nas nossas sacolas e começou a meter a mão e revirar nossas compras, até que minha mãe, contra a vontade dela, começou a tirar as coisas da sacola", explicou.

Após o início da confusão, uma funcionária do mercado passou a ajudar a localizar o aparelho e o encontrou na seção de ovos. Ainda de acordo com a vítima, ela ia deixar o caso passar, apesar de se sentir constrangida com toda a situação que passou ao lado da mãe, mas decidiu não deixar a agressora impune.

"Eu só queria ir embora, foi quando a minha filha de 11 anos falou que eu deveria não deixar ela impune, já que dá mesma forma que ela fez com a gente, poderia fazer com outras pessoas. Então liguei para o 190 chamei a policia", contou.

Joana e a mãe registraram o caso na 15ª DP (Gávea) como injúria por preconceito, prevista na nova lei do racismo, contra Ormezinda Fagundes. Porém, a acusada não esperou a chegada da polícia e foi embora do mercado. Segundo a vítima, a agressora já foi intimada a depor.
"Minha mãe não dormiu essa noite, passando muito mal fisicamente pela dificuldade de expressar o que sente. Já eu estou me sentindo mal, por demorar a perceber o que estava acontecendo, e como sempre vivi em uma ambiente muito branco, estudando em escolas particulares, passei por várias situações que me causaram muita dor e constrangimento e não sabia dar nome ( racismo) o quanto isso me tornou hoje uma mulher insegura, com auto estima baixa. E chorei muito por saber que ainda vou passar muito por isso que essa luta está só no começo e que tirei coragem dos olhos da minha filha pra seguir em diante em busca de justiça", desabafou.

A Polícia Civil informou que as vítimas prestaram depoimento e os agentes requisitaram as imagens das câmeras do estabelecimento. Outras diligências estão em andamento para esclarecer os fatos.
Procurada, a assessoria do Supermarket não respondeu aos questionamentos feitos pela reportagem. O espaço segue aberto para um posicionamento.