O entregador Max Ângelo esteve na delegacia, acompanhado do advogado Joabe Gama de SouzaMarcos Porto/Agencia O Dia
Defesa apresenta atestado médico e depoimento de mulher que atacou entregadores é adiado
Advogado alegou que Sandra Mathias Corrêa de Sá não compareceu à delegacia por conta de lesões. Condomínio pede que ex-jogadora deixe apartamento onde mora
Rio - A nutricionista e ex-jogadora de vôlei Sandra Mathias Corrêa de Sá não compareceu à delegacia para prestar depoimento, nesta quarta-feira (12), sobre as agressões físicas e ofensas racistas que fez contra entregadores, no último domingo (9), em São Conrado, na Zona Sul do Rio. A defesa dela esteve na 15ª DP (Gávea) e apresentou um atestado médico para justicar a ausência da mulher, que é investigada pelos crimes de lesão corporal e injúria por preconceito.
De acordo com o advogado Roberto Duarte Butter, Sandra não pôde ir depor porque está com lesões. Entretanto, ele não deu detalhes sobre os machucados da ex-jogadora e como teriam acontecido, já que nos vídeos em que foi flagrada atacando os entregadores Max Ângelo dos Santos e Viviane Maria de Souza, nenhum dos trabalhadores revida às agressões. Ele se limitou a dizer apenas que "vocês vão se surpreender depois".
Segundo Max, que também esteve na 15ª DP nesta quarta-feira, o crime aconteceu depois que Sandra teria se revoltado com a presença de entregadores sentados na porta de uma loja, na Estrada da Gávea, próximo ao número 847. Ela passeava com o cachorro e, ao se deparar com o grupo, cuspiu no chão, na frente dele, e seguiu andando com animal. Ao voltar, Viviane questionou o motivo da raiva da ex-jogadora, que se alterou e passou a ofender e agredir os trabalhadores.
As agressões começaram contra Viviane. Em imagens que circulam nas redes sociais, a nutricionista aparece discutindo com a entregadora e depois morde sua perna, enquanto ela se pendura em uma grade. A vítima consegue escapar, mas é perseguida pela ex-jogadora por alguns metros. Max relata que para evitar que as duas se machucassem, interferiu nas agressões, momento em que passou a ser alvo dos ataques da ex-jogadora.
Em outras imagens, é possível ver a mulher puxando e agredindo o entregador, que é negro. Ela dá um soco nele, o agarra pela roupa e, em seguida, ele se esquiva e se afasta. Sandra então, diz: "Tu (sic) não vai embora não, filha da p...". O vídeo continua e mostra a suspeita tirar a guia de um cachorro. Ela pega o objeto e parte para cima da vítima, que fala: "Teu caô não é comigo não. Tu vai me agredir? Vai me agredir?". A nutricionista retruca: "Não é contigo, não?" e, logo na sequência, atinge o homem com a coleira.
"Eu fico triste, porque eu nunca imaginava, nunca passou pela minha cabeça que ela fosse tirar a coleira do cachorro para me agredir. Acho que não passou pela cabeça de ninguém que ela teria a coragem de fazer isso, porque eu digo para vocês, acho que nem animal é tratado desse jeito. Qual direito ela tem? Porque ela paga um IPTU em São Conrado, porque ela paga os impostos dela? Eu também pago, não é porque eu moro na comunidade que eu não pago os meus impostos. Eu sou um trabalhador, eu saio cedo todo dia", lamentou Max, que afirmou ainda que a mulher tem um histórico de problemas com trabalhadores da região.
"Relatos de outros entregadores de que ela já agrediu verbalmente e alguns, até fisicamente, só que não levaram para frente. Enquanto for assim, isso nunca vai parar. Tem um relato de um rapaz que guarda carros em frente ao supermercado, do qual ela foi parar duas vezes na delegacia. Então, a gente sabe que não é um fato isolado, já tem outras ocorrências. Ela achou que eu não ia levar para frente, porque outras pessoas que sofreram o mesmo abuso, não levaram", afirmou o entregador, que voltou a reforçar seu pedido por justiça.
"Eu estou aqui hoje, vou dar o meu depoimento, vou dizer tudo o que aconteceu para a polícia, porque é o correto a se fazer e eu espero que ela seja punida e pague pelos atos dela. Ela não está lidando com animal, não está lidando com cachorro, ela está lidando com ser humano que sangra como ela, que se morrer, vai para o mesmo buraco que ela, então, eu quero justiça e eu vou até as últimas instâncias para conseguir".
Além de Max e Butter, o advogado do Edifício Estrada da Gávea, onde Sandra mora e que fica próximo ao local do crime, esteve na distrital na manhã de hoje. Ele entregou imagens de câmeras de segurança que podem ter registrado o início da briga entre a ex-atleta e os entregadores, dias antes, quando ocorreu uma discussão com alguns dos trabalhadores.
Segundo Homero Pacheco Fernandes, há relatos também de que Sandra já agrediu e xingou moradores do condomínio. Por conta do episódio do último domingo, a administração do local pediu que a nutricionista deixe o apartamento onde mora, que é alugado. "O condomínio notificou a administradora da qual administra o apartamento (e pede) providências no sentido de tirá-la do edifício", afirmou o advogado.
Sandra é dona de uma escola de vôlei de praia no Leblon, Zona Sul. Nesta terça-feira (11), a Secretaria Municipal de Esportes e Lazer (Smel) informou que suspendeu a renovação do alvará de funcionamento do estabelecimento. A licença venceu em dezembro de 2022 e estava em processo de renovação. Entretanto, diante do caso, a pasta destacou que não concederá até que todos os fatos sejam esclarecidos pela Justiça.
A secretária municipal de Meio Ambiente, Tainá de Paula, usou as redes sociais para comentar o caso. Ela destacou que Sandra já tinha outras anotações criminais, uma delas por ligação irregular de energia, na Praia do Leblon, e prestou solidariedade aos entregadores atacados. "É inadmissível que essa mulher siga livremente cometendo esse tipo de crime. Que seja responsabilizada urgentemente. Racistas não passarão!", escreveu a titular da pasta.
Também nesta quarta-feira, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) negou que Sandra tenha atuado em qualquer cargo na entidade e ressaltou que a ex-atleta nunca fez parte do seu quadro de colaboradores. A informação desmente descrição usada por ela em suas redes sociais, onde menciona ter feito parte da equipe do comitê no ano passado, atuando como supervisora de produção. "Jamais atuou na entidade", diz nota do comitê.
O Conselho Regional de Nutrição do Rio de Janeiro também emitiu uma nota de repúdio à conduta da mulher. O órgão afirmou que "repudia qualquer forma de preconceito, discriminação e violação aos direitos humanos" e que vai abrir um processo administrativo contra Sandra. "O Nutricionista como profissional de saúde é norteado por um Código de Ética e Conduta e deve assumir compromisso e responsabilidade técnica, social, ética e política na defesa do direito à saúde e demais direitos constitucionais", diz a entidade.
*Colaborou Marcos Porto
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