Feliz daquele que tem companhias como eu tive, na hora de encarar rotas que pareciam intransponíveisArte: Kiko

O outono surgiu e, finalmente, realizei o desejo de fazer um piquenique. Estava esperando passar o verão justamente por conta das altas temperaturas no Rio. A ideia era curtir umas horas em um gramado sem que o sol castigasse a pele logo nos primeiros minutos de exposição. Com a nova estação, chegou a hora de sair de Caxias, na Baixada, rumo ao Bosque da Barra, que, como o nome já diz, fica no bairro da Zona Oeste da capital. Já havia estado lá há alguns anos, com a turma do pilates. Eu me lembro da área verde, em que realizamos o nosso aulão, mas não me recordo de como chegamos até lá. A vida é bem assim: em determinados momentos, quando duvidamos dos nossos próprios passos, confiamos nas companhias que nos acolhem. Era assim naquela época.
Desta vez, prestei muita atenção no caminho até o lago. Havia algumas bifurcações, que exigiam uma escolha: para esse ou para aquele lado? Afinal, por onde seguir? Mesmo acompanhada, participei também da decisão, com a orientação de placas pelo caminho. Em diversos momentos, o cenário se transformava numa metáfora perfeita da nossa trajetória, com possibilidades que se ramificam e nos exigem uma decisão. Por diversas vezes, a vida é como aquele parque: é preciso abrir mão de um lado para ir pelo outro.
Voltei para casa pensando sobre as rotas que percorremos em momentos marcantes e as parcerias que nos acompanham nesses percursos. Nessa rotatória de lembranças, guardo dois momentos especiais no coração. Um deles, ao lado de um amigo que é amante das corridas e com quem eu me arrisquei, há alguns anos, em algumas provas de rua. Eu intercalava caminhadas com pequenas corridinhas para completar 5km enquanto ele, muito mais veloz, disparava no pelotão lá na frente. Afinal, quantas pessoas se dispõem a estar ao lado de alguém que não está no seu mesmo ritmo? E foi assim, dando uns trotes, cansando, andando e pegando no tranco novamente, que eu segui. Até ter confiança para outros rumos.
Em outro momento, tentei pular o Carnaval ao lado da minha amiga mais foliã de todas. De metrô, saímos de Botafogo, onde ela mora, em direção à estação da Carioca. Descemos ali e começamos a maratona num bloco perto do Terminal Rodoviário Menezes Côrtes, no Centro. Lembro que, a cada instante, chegava um amigo de um amigo. E, assim, quando estávamos perto do Aeroporto Santos Dumont, a turma já era grande, com direito a foliões em pernas de pau. Naquele momento, era nítido que eu ainda tentava me equilibrar com a minha introspeção. Mas eu queria andar por novos ares e, felizmente, fui acolhida.
Feliz daquele que tem companhias como eu tive, na hora de encarar rotas que pareciam intransponíveis. Na verdade, eram trajetos muito maiores do que os 5km de asfalto numa corrida de rua ou do que a maratona de um dia atrás de blocos no Carnaval carioca. E é muito bom quando alguém nos ajuda a acreditar que é possível enfrentar essa grande caminhada, cheia de bifurcações e também de curvas. É bem parecida com a do parque na Barra, mas pode chamá-la de vida.