Comerciantes e feirantes se reuniram contra a privatização da Feira de São CristóvãoDivulgação

Rio - Comerciantes e feirantes do Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, em São Cristóvão, na Zona Norte, fizeram uma manifestação contra a privatização do espaço nesta terça-feira (25). O edital de licitação para realizar a concessão à iniciativa privada do tradicional polo nordestino foi publicado pela Prefeitura do Rio na quinta-feira passada (20). Segundo os manifestantes, eles não foram consultados para a realização do processo, que para eles exclui a cultura, tradições e os costumes da feira.

O empreendedor Flávio Fárney da Silva Xavier, 61 anos, do Conexão Mandacaru, restaurante nordestino do local, teme pela construção de um shopping com a privatização.

"Estamos fazendo uma manifestação ordeira pra chamar atenção do público porque esse é um processo injusto, autoritário, que não ouviu a opinião dos empreendedores. Essa licitação exclui a cultura, as tradições e os costumes. Em um futuro próximo é capaz de construir um shopping aqui, porque a empresa vai cobrar taxas altíssimas dos feirantes e a gente não vai conseguir sobreviver", explicou.
Flávio reforçou ainda que são os comerciantes que mantém o local. "O feirante está ficando esquecido, é a gente que preserva a cultura nordestina, que trabalha sua gastronomia, sua música, seu artesanato, através dos seus modos, costumes, tradições, e agora estamos correndo sério risco de perder nossa casa, nosso abrigo natural", lamentou.

Outro comerciante, Carlos Henrique, 31 anos, que administra a loja Cactus, contou que todos foram pegos de surpresa com a licitação.

"Essa informação pegou todo mundo de surpresa. Para quem está na ponta, pouca coisa chega. A gente fica sabendo por informações que circulam e nem sempre são confiáveis. Sabemos que existe uma empresa que pode assumir o controle da feira. Mas o que passa para a gente é que tudo vai cair", exemplifica.

Nesta segunda (24) em entrevista ao DIA, alguns comerciantes chegaram a relatar que a feira precisa de reparos, mas se mostraram contrários a privatização.

"Nós não somos contra a licitação, nem contra a terceirização ou privatização. Mas temos graves objeções pela forma que foi concebida. Nossa história não pode ser apagada em nome da modernização", complementou Flávio, que também é CEO da CIiaNÊ (Companhia Nordestina de Empreendedores).
A manifestação desta terça-feira (25) reuniu mais de 500 pessoas e contou com panelaços e muito barulho em frente ao Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, em São Cristóvão.
Questionada sobre o que os manifestantes disseram, a Companhia Carioca de Parcerias e Investimentos (CCPar) afirmou que foi realizado um censo com os feirantes para cadastramento, além de duas reuniões com representantes dos comerciantes e artistas.
O órgão ressaltou que o edital prevê uma série de obrigações ao concessionário como: a prioridade de manutenção das atividades dos trabalhadores da feira; a montagem de um esquema que possibilite a continuação do trabalho, que são a fonte de renda dessas pessoas, durante o período de obras; e, claro, a obrigação que toda atividade realizada no local deverá ser relacionada à tradição nordestina.

Investimento

De acordo com o secretário municipal de coordenação governamental do Rio, Jorge Arraes, a intenção é investir na feira para torná-la uma âncora cultural que integre o bairro ao Porto Maravilha.

O vencedor deverá investir R$ 97 milhões em intervenções durante dois anos e meio para renovar a estrutura do imóvel, o estacionamento e a praça em que está localizado. Ao todo serão 82 mil m² de área revitalizada com investimento privado. A empresa será responsável pela gestão da Feira de São Cristóvão por 35 anos.