Teatro Serrador foi reformado e municipalizado em 2016Arquivo pessoal/ Agência O DIA

Rio - Após a Zona Sul perder um de seus mais importantes palcos, com o fechamento do Teatro do Leblon, que virou igreja, a Cinelândia também corre o risco de perder um espaço histórico dedicado às artes. Construído em 1940, o Teatro Serrador, na Rua Senador Dantas, tem futuro incerto.
Fechado no Carnaval de 2019 durante o governo Marcelo Crivella, anos após ter sido incorporado à rede municipal de teatros, a casa nunca mais reabriu. Foi devolvido meses depois à proprietária, a atriz e empresária Brigitte Blair, mas com a estrutura bastante comprometida. "O teatro está fechado desde 2019 sem condição de nada. Quero reabrir, mas não dá. Não posso trabalhar, não recebo aluguel nem bilheteria. A primeira igreja que aparecer vou ter que vender. É desesperador. Não queria, mas há 50 anos mantenho teatros com recursos próprios, acho que merecia algum respeito", desabafa Brigitte.


No interior do espaço, a administradora do teatro, Patricia Blair, filha de Brigitte, encontrou poltronas e aparelhos de ar condicionado saqueados. Os buracos destampados levaram a infiltrações que culminaram com a queda de pedaços do teto de gesso, no imóvel de quatro andares. O teatro havia sido reformado e municipalizado em 2016 pelo prefeito Eduardo Paes e o secretário de Cultura, Marcelo Calero.

Brigitte conta que não faltam produtores com projetos para o espaço, mas que não há condições de abri-lo. "O meu primeiro desejo é que o teatro volte a funcionar. Reabrir o Serrador com os meus espetáculos é meu sonho. Mas não está funcionando porque está inoperante. Aluguei para a prefeitura, detonaram o espaço e não querem consertar. Estou perdendo desde 2019. Até hoje não foi aberto", critica a atriz.

Integrante do corredor cultural da Cinelândia, o Serrador está na mesma região de outros símbolos do Rio, como os teatros Municipal, Rival e Riachuelo (antigo Cine Passeio). Antes de ser municipalizado, em 2016, ele havia ficado fechado por três anos, até ser arrendado pelo poder público. 
Naquele época, a revitalização da Secretaria Municipal de Cultura custou R$ 600 mil, durou seis meses, e reformou o palco, camarins, poltronas, banheiros e piso, além da impermeabilização da laje. O teatro passou a ter 285 lugares, novos aparelhos de ar condicionado e acessibilidade.

O contrato com a prefeitura vencia em junho de 2019. Passado o Carnaval daquele ano, o local permaneceu fechado. Segundo Patricia Blair, Brigitte enfrentou dificuldades para reaver as chaves do teatro e só as conseguiu em fevereiro de 2020, oito meses depois do fim do contrato.

"Nesses oito meses não foram pagas contas de aluguel, IPTU, luz e não devolviam as chaves. Ele estava destruído. Roubaram poltronas, (ar condicionado) splits nos camarins. A água da chuva foi amolecendo o teto da plateia. Está tudo desmoronado", conta Patricia, que iniciou uma campanha nas redes sociais para tentar mobilizar a classe artística em prol da reabertura.

Desde 2019, Brigitte Blair tenta resolver o problema com a Prefeitura do Rio, para que o espaço seja restaurado. "A gente não pede que arrendem. Só quer que devolvam como receberam", explica Patricia. Em 1984, o Serrador foi adquirido por Brigitte, que deu seu nome à sala. Ela também é dona do histórico teatro em Copacabana que leva o seu nome e foi reaberto em 2022.

No palco do Serrador estreou a lendária atriz Bibi Ferreira, em 1941. A artista, que morreu em 13 de fevereiro de 2019, aos 96 anos, se apresentou na reabertura da sala, em 2016, aos 93 anos. A primeira sessão do Serrador, em março de 1940, foi uma comédia, "Maria Cachucha", produzida pela companhia do pai da atriz, Procópio Ferreira (1898-1979).

"Que esse teatro tenha muita sorte, muitas bilheterias esgotadas. E que tenha muitas gargalhadas também, assim como o meu pai fez no dia em que estreou neste teatro", disse Bibi Ferreira, ao abrir o show de 2016.

A família Blair quer que o Serrador volte a fazer parte da rede da prefeitura, mas pede que, pelo menos, seja entregue operante para que possa ser utilizado em produções. Brigitte conta que, apesar de lamentar a perda de um teatro, cogita vender o imóvel a uma academia diante dos prejuízos e faltas de perspectiva com o Serrador.
"Se não quiserem reformar, deviam me liberar desse decreto para que eu possa vender para outro tipo de negócio", afirmou a proprietária, citando lei municipal que impede que o teatro seja comprado para funcionar com outro tipo de atividade.
Procurada por O DIA, a ex-secretária municipal de Cultura do Rio, Nilcemar Nogueira, que ocupou o cargo entre 2017 e 2019, afirmou que sua gestão cumpriu com os compromissos relativos ao teatro. A reportagem também procurou a assessoria do ex-prefeito Marcelo Crivella, que pediu mais tempo para responder a demanda. Tão logo a resposta seja publicada, será incluída na matéria.
A Prefeitura do Rio não retornou até a publicação da reportagem. O espaço segue aberto para manifestação.