Moradores do Jacarezinho, na Zona Norte, realizaram uma manifestação na manhã desta terça-feira (16) contra os sucessivos confrontos que ocorrem na comunidade desde o último fim de semana. A ação ocorreu na Avenida Dom Hélder Câmara, esquina com Avenida dos Democráticos, com o levantamento de faixas e gritos que pediam paz na comunidade.Reginaldo Pimenta / Agencia O Dia

Rio - Moradores do Jacarezinho, na Zona Norte, realizaram uma manifestação na manhã desta terça-feira (16) contra os sucessivos confrontos que ocorrem na comunidade desde o último fim de semana. A ação ocorreu na Avenida Dom Hélder Câmara, esquina com Avenida dos Democráticos, com faixas e gritos que pediam paz na comunidade.

“A voz do povo é a voz de Deus, nós queremos viver tranquilos, poder ir e vir, só queremos paz, chega de guerra”, disse a moradora Maura Martins.

Durante a noite desta segunda (15) houve registro de mais tiroteio na região, que se estendeu até o início da manhã desta terça. Na ação, um homem, identificado como Ruan Campos da Silva, 25 anos, morreu após ser baleado. Na última sexta (12) dois suspeitos também foram mortos.


A autônoma Maura Martins, que esteve na manifestação fez um desabafo sobre os conflitos entre criminosos e PMs. “Eu tenho uma família, moro na beira do rio do Jacarezinho, onde estamos passando por muitas coisas ruins, nós só queremos paz, queremos trabalhar. Tenho quatro filhos que hoje não foram para escola. Eles (os policiais) já chegam atirando. Nós estamos cansados, todo mundo fala que a gente fecha com bandido, mas nós temos família. Bandido não nos sustenta, polícia não nos sustenta. Ninguém bate na nossa porta para perguntar se temos conta ou não”, criticou.

Segundo a manifestante, durante a manhã, policiais ainda jogaram spray de pimenta nos moradores. “Eu tenho um filho especial, tenho neto, eles estão jogando spray de pimenta dentro dos becos, dentro das casa, e não tem ninguém. Que loucura é essa?”, contou.

Uma outra moradora também comentou o caso e relatou que o filho de 1 ano foi atingido por um jato do spray. “Tá complicado, eu tenho cinco filhos, o mais velho saiu com o pai. Estou aqui com as meninas e meu filho de 1 ano, que está chorando porque o olhinho dele está ardendo. A gente não tá conseguindo respirar! Se não fosse uma vizinha pra me ajudar eu não ia conseguir trazer ele pra tomar um ar, porque a minha casa está cheia de fumaça", lamentou.

Procurada, a Polícia Militar desmentiu e afirmou que as informações passadas pelos moradores não procedem.

Ainda na manifestação, uma mulher que não quis ser identificada, por medo de represálias, falou sobre a dificuldade de arrumar emprego devido aos constantes confrontos.

“Tem uma semana que consegui um trabalho de carteira assinada, e hoje fiquei sabendo que perdi o meu emprego por ontem não ter conseguido chegar ao trabalho devido a essa guerra que a gente vem passando, e com isso a gente volta a nossa rotina de viver apenas de bolsa família e aceitar tudo isso que está acontecendo por sermos moradores de favela, só que a gente não tem que aprender a conviver isso, a gente quer ter nossa dignidade, nossos direitos, ter nossa carteira assinada, poder criar nosso filhos bem, não temos nada a ver com essa guerra e acabamos sofrendo as consequências”, desabafou.
De acordo com a PM, nesta manhã há policiamento do Batalhão de Polícia de Choque (BPChq) na comunidade, que faz parte do programa Cidade Integrada, lançado no dia 22 de janeiro do ano passado pelo Governo do Estado, com a promessa de investimentos em forças de segurança e programas sociais relacionados à educação, emprego e saúde. 
Dias de tensão
O Jacarezinho registrou confrontos durante todo o fim de semana. Na noite de sexta-feira (12), equipes do Batalhão de Polícia de Choque (BPChq) tentaram abordar um grupo que estava em um local conhecido como ponto de venda de drogas. Os homens revidaram e houve confronto.
Após os disparos, os militares encontraram dois suspeitos baleados, que foram socorridos para o Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, também na Zona Norte, mas não resistiram. Com a dupla, foram apreendidos uma pistola, um revólver, uma granada, munição e drogas. O caso foi registrado na Delegacia de Homicídios da Capital (DHC).
O fim do Dia das Mães, no domingo (14), também foi marcado pela violência. Segundo relatos de moradores, os disparos começaram por volta das 21h e um veículo blindado da Polícia Militar foi visto circulando pela região. A corporação informou que não houve operação, mas que equipes do Batalhão de Polícia de Choque (BPChq) faziam um patrulhamento nas proximidades do Largo da XV, quando foram atacadas. Houve troca de tiros. Também no domingo moradores encontraram uma granada na Rua Darci Vargas.
Na segunda (15), houve uma confusão envolvendo policiais militares e moradores, durante a prisão de um suspeito, na Rua Padre Nelson. Na parte da noite, mais tiroteio foi registrado, e um homem morreu.