Moradores do Jacarezinho levaram cartazes pedindo melhorias na comunidade e o fim da violênciaCleber Mendes / Agência O Dia

Rio - Moradores do Jacarezinho, na Zona Norte do Rio, realizaram um protesto no início da noite desta sexta-feira (19) pedindo o fim da violência e cobrando melhorias para a comunidade. A região sofreu nesta semana com intensos confrontos durante ações policiais.
O ato aconteceu na Avenida Dom Hélder Câmara e contou com a presença de diversos manifestantes. Os presentes levaram cartazes pedindo investimentos nas áreas de educação e na qualificação profissional aumentando o número de creches e oportunidades de emprego para os moradores.
A atuação policial na comunidade também foi motivo de reclamação durante o ato desta sexta-feira (19). O professor universitário Carlos Alberto Reis, de 47 anos, questionou o motivo do trabalho em uma região que deveria estar ocupada pelo programa Cidade Integrada.
"O grande objetivo hoje foi a gente acordar a favela pelo o que está acontecendo por parte do governo. A população sofre e está abalada por causa da forma que a segurança pública ocupa a favela. A população tá cansada. No Dia das Mães, a polícia invade. Eles entram a esmo e não deixam as pessoas fazerem o seu churrasco. Não tinha ninguém armado. A população está acordando", contou o professor.
Morador da comunidade, o jovem Marcelo Lima Pereira, amigo de Ruan Campos da Silva, morto após ser baleado em um confronto nesta segunda-feira (15), aproveitou o protesto para pedir o fim da violência na região. 
"A comunidade do Jacaré pede paz. Não aguento mais essa violência porque aqui na comunidade não tem só jovens que são marginais. Tem jovens que tem objetivos e que pensam em crescer na vida. Eu já não aguento mais perder meus amigos para essa guerra que estamos vivendo dentro da comunidade. Eles nascido e criados comigo aqui dentro. É muito triste. Hoje a nossa comunidade pede paz", desabafou.
Policiais militares acompanharam o protesto que não causou interdição no trânsito. Não houve registro de trocas de tiros na região nesta sexta-feira (19). O Jacarezinho faz parte do programa Cidade Integrada, lançado no dia 22 de janeiro de 2022, com a promessa de investimentos em forças de segurança e programas sociais relacionados à educação, emprego e saúde.
Confrontos durante a semana
O Jacarezinho viveu dias de tensão nesta semana por conta dos constantes confrontos registrados desde a última sexta-feira (12), quando dois suspeitos morreram. Na ocasião, o Batalhão de Polícia de Choque (BPChq) tentou abordar um grupo que estava em um local conhecido por ser ponto de venda de drogas, quando foram atacados e houve troca de tiros, segundo a PM. Após os disparos, dois homens foram encontrados baleados e chegaram a ser socorridos para o Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, mas não resistiram.
O fim do Dia das Mães das famílias do Jacarezinho, no último domingo (14), também foi marcado pela violência. Segundo relatos de moradores, os tiros começaram por volta das 21h e um veículo blindado da Polícia Militar foi visto circulando pela região. A corporação informou que não houve operação, mas que equipes do Batalhão de Polícia de Choque (BPChq) faziam um patrulhamento nas proximidades do Largo da XV, quando foram atacados.
Já na noite de segunda-feira (15), um homem morreu após ser baleado durante um tiroteio nas imediações da Rua Quinze de Agosto. Ruan Campos da Silva, de 25 anos, conhecido como Girino, foi socorrido por moradores à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Manguinhos, mas não resistiu. A Polícia Militar informou que não foi acionada para a ocorrência e a Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) instaurou inquérito para apurar o caso. Na tarde do mesmo dia, houve ainda uma confusão envolvendo policiais militares e moradores, durante a prisão de um suspeito, na Rua Padre Nelson.
Por conta da violência na região, moradores já haviam realizado um protesto, na terça-feira (16), na Avenida Dom Hélder Câmara, esquina com Avenida dos Democráticos, com faixas e gritos que pediam paz na comunidade. Os manifestantes acusaram os policiais militares de jogarem spray de pimenta contra eles, em becos e dentro de casas, mas a corporação negou os ataques. Na manhã do mesmo dia, também houve registro de tiroteio.
Na noite desta quarta-feira (17) e madrugada de quinta-feira (18), disparos foram ouvidos na região do Jacarezinho pelo sexto dia consecutivo gerando mais um momento de tensão para os moradores. De acordo com a PM, uma equipe do Batalhão de Polícia de Choque (BPChq) realizava policiamento na comunidade, na noite de quarta-feira (17), quando foi atacada a tiros, mas não teria revidado. Após os disparos, os criminosos fugiram e não houve registro de prisões, apreensões ou feridos.