Sepultamente aconteceu no Cemitério do CajuCléber Mendes/Agência O DIA

Rio - "Eu só quero justiça pelo meu irmão. Eles o assassinaram e acharam que era cachorro sem dono, mas não era, não. Ele era trabalhador, ninguém via ele brigando com ninguém. Era a melhor fase da vida dele". O relato é de Érica da Conceição, 27 anos, irmã de Maurício da Conceição, 32, morto na última sexta-feira (16), após levar um tiro de um policial militar durante uma briga familiar em São Cristóvão, na Zona Norte do Rio. O corpo do pedreiro foi sepultado no Cemitério do Cajú, na tarde desta terça-feira (20).
A família vive em Itajaí, em Santa Catarina, de onde Maurício saiu em busca de trabalho e melhores condições de vida. Érica, no entanto, é vocalista e veio diretamente da Bahia – onde iria fazer cinco apresentações – para liberar o corpo da vítima. "Estão falando que ele estava armado, mas meu irmão nunca andou armado na vida. Ele era um menino muito bom, trabalhador, saiu da nossa cidade para procurar uma vida melhor aqui. Ele encontrou a minha cunhada, estava com uma vida maravilhosa", contou a familiar.
O DIA apurou que Daiana Leandra, de 23 anos, namorada do PM Gustavo Evangelista Ferreira, se desentendeu com a mãe na frente do restaurante que administra, na Rua Alves Montes. Durante a briga, o militar, que é lotado no Quartel General da PM, bateu na própria sogra e Maurício foi defendê-la. Em seguida, o pedreiro foi baleado na perna direita. Ele chegou a ser levado para o Hospital Municipal Souza Aguiar, mas não resistiu aos ferimentos.
"Essa menina está inventando tanta coisa, ela não é a vítima, é a minha cunhada. Meu irmão que está ali no caixão. Ela tirou a vida dele, isso foi totalmente armado. O policial atirou para matar meu irmão, não tem legítima defesa, meu irmão estava sem nada e foi apenas defender a esposa com as próprias mãos. Se fosse pra fazer susto e apartar, ele atirava pra cima, pro lado, pro chão, mas foi direto. Ele atirou para matar", continuou Érica.
Ainda de acordo com a irmã da vítima, a família tem medo de represálias por parte de Gustavo e Daiana. "Minha mãe está desesperada, ela quer que eu vá embora ainda hoje. Ela está com medo de que façam alguma coisa comigo também. Eu vou voltar para minha cidade, em Itajaí, mas em agosto eu volto para participar da audiência. Tem câmeras ali, antes de ir embora eu vou na delegacia e vou querer as câmeras para provar que meu irmão nunca roubou e matou ninguém", finalizou.
Policial atingiu perna de pedreiro
Maurício foi morto ao tentar defender sua mulher, que havia sido agredida pelo genro. O pedreiro foi baleado na perna pelo rapaz, que é policial militar. Segundo uma testemunha, o crime aconteceu após uma confusão entre mãe e filha. "Foi por volta de 22h20. A mãe entrou em luta corporal com a filha e parece que o namorado da menina, que é PM, tentou separar e deu um tapa no rosto da 'sogra'. Nisso, o marido da mãe foi pra cima dele e, então, o militar sacou a arma e deu um tiro no homem", relatou.
O pedreiro é natural de São Paulo, foi criado em Pernambuco e vivia em Itajaí, em Santa Catarina. Morava no Rio de Janeiro há dois anos. Segundo familiares, ele se mudou para procurar oportunidades de emprego e, desde então, trabalhava como pedreiro. O corpo dele foi para IML do Centro e só foi liberado após 72h, com a chegada de Érica da Conceição.
O caso está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), onde Gustavo se apresentou espontaneamente e prestou depoimento. De acordo com o delegado Leandro Costa, titular da especializada, há indícios de legítima defesa e o suspeito foi liberado, mas teve a arma apreendida. A 1ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar, unidade subordinada à Corregedoria Geral da Polícia Militar, acompanha o caso.
*Colaborou Cléber Mendes.