Morte de idosa e agressões contra médica aconteceram no Hospital Municipal Francisco da Silva Telles, em IrajáDivulgação

Rio - O Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ) aceitou um habeas corpus e concedeu liberdade, nesta sexta-feira (11), a Samara Kiffini do Nascimento Soares, presa no dia 16 de julho, junto com seu pai, após agressão a uma médica no Hospital Municipal Francisco da Silva Telles, em Irajá, na Zona Norte do Rio. Durante a confusão, a idosa Arlene Marques da Silva, de 82 anos, que tinha quadro de saúde gravíssimo, ficou sem acompanhamento médico e morreu na unidade.
Samara foi denunciada pelo Ministério Público do Rio pelo crime de homicídio doloso, em relação à morte da idosa, por destruir partes do hospital e por ameaçar a médica agredida Sandra Lúcia Bouyer Rodrigues e outros funcionários da unidade.
O advogado Cláudio Rodrigues, responsável pela defesa da acusada, entrou com um habeas corpus dizendo que Samara teria tentado impedir a confusão, segurando seu pai, André Luiz do Nascimento Soares, para que a briga não prosseguisse.
A defesa ainda alegou que a mulher chegou a cair no chão, junto com a filha, enquanto tentava impedir o tumulto. Filmagens mostrariam que ela teria tentado apaziguar os ânimos e teria sido empurrada pelo próprio pai.
O desembargador Cairo Ítalo França David aceitou o pedido nesta quinta-feira (11). O juiz entende que há indícios da atuação de Samara no crime, mas que estes não são veementes. O magistrado ainda considerou que a mulher é ré primária, não possui maus antecedentes e é mãe de duas crianças de 5 e 1 ano.
A decisão de David tem como base uma determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), de 2018, que concede habeas corpus coletivo para determinar a substituição da prisão preventiva por domiciliar de gestantes, lactantes e mães de crianças de até 12 anos ou de pessoas com deficiência, em todo o território nacional.
Com a sua liberdade, Samara terá que cumprir medidas cautelares como comparecer em juízo, até o dia 10 de cada mês, assinando presença no livro próprio; comparecer em juízo sempre que receber intimação; proibida de mudar de endereço ou de se afastar da comarca onde reside, por mais de oito dias, sem expressa autorização judicial.
A expectativa da defesa é que a mulher deixe o Instituto Penal Santo Expedito, em Bangu, na Zona Oeste do Rio, neste sábado (12). Já o homem continua preso. 
Relembre o caso
Samara e o pai, André Soares, foram presos em flagrante por homicídio doloso no dia 16 de julho. Na ocasião, segundo testemunhas, o homem chegou ao hospital com um corte no dedo, sem gravidade, acompanhado da filha. A confusão teria se iniciado após funcionários pedirem que os dois aguardassem porque outros pacientes mais graves estavam sendo atendidos.
Insatisfeitos com a demora, pai e filha foram vistos quebrando vidros de portas e janelas do hospital e o homem agrediu a médica Sandra Lúcia com um soco. A vítima sofreu um corte na parte interna da boca e precisou receber cinco pontos.
Relatos afirmaram ainda que André, que dizia estar armado, e Samara também invadiram a sala vermelha, onde ficam os pacientes com quadros de saúde mais graves. Um deles, com infarto agudo do miocárdio, saiu do local com a coluna de soro para se esconder no banheiro.
Por conta das agressões, a idosa Arlene Marques da Silva, de 82 anos, que estava em estado gravíssimo, ficou sem acompanhamento e acabou morrendo. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), a paciente entrou em parada cardiorrespiratória às 4h e a equipe tentou reverter o quadro, mas não teve sucesso. Ela foi enterrada no Cemitério de Irajá, Zona Norte do Rio, no dia 17 de julho.
Ainda em julho, o juiz Diego Fernandes Silva Santos converteu a prisão em flagrante de ambos para preventiva. Em sua decisão, o magistrado entendeu que ambos influenciaram diretamente na morte de Arlene enquanto agrediam a médica, além de causarem danos ao hospital. Tais delitos são extremamente graves, de acordo com o juiz.
Médica volta a trabalhar
Sandra Lúcia Bouyer Rodrigues voltou a trabalhar no Hospital Municipal Francisco da Silva Telles no dia 31 de julho. Duas semanas depois de ter sido espancada, a médica contou ao 'Bom Dia Rio', da TV Globo, que está trabalhando mesmo ainda sentindo as dores causadas pelas agressões.
"Eu tenho uma dor muito grande na base da coluna, onde foi acertado o chute. É uma área que tem muitas terminações nervosas, então tenho muita dificuldade para me sentar, me levantar, me movimentar de forma rápida. Tenho que andar parecendo que está puxando a perna um pouco", disse.
O laudo do exame de corpo de delito da Polícia Civil apontou que a médica sofreu cinco lesões em diferentes regiões do corpo, sendo identificadas no tórax; na coxa esquerda; nos antebraços esquerdo e direito; na boca; e na orelha direita. Em um desabafo sobre o episódio em suas redes sociais, a médica afirmou que prestava atendimento para mais de 60 pacientes internados, sem o suporte de nenhum segurança e se descreveu como "vítima da precariedade e insegurança".