Para-brisa dianteiro do carro em que a vítima estava foi destruído pelos tirosReginaldo Pimenta/Agência O Dia

Rio - O ministro da Justiça e Segurança Pública cobrou providências sobre a ação da Polícia Rodoviária Federal (PRF) que deixou uma menina de 3 anos baleada, nesta quinta-feira (7). Em uma publicação em suas redes sociais, nesta sexta-feira (8), Flávio Dino descreveu o caso como trágedia e afirmou que está esperando por uma resposta dos órgãos de direção da instituição. H. dos S. S. foi atingida quando passava com a família pelo Arco Metropolitano e o carro em que estavam foi alvo de tiros dos policiais. 
Na publicação, o ministro informou que mandou acelerar a revisão da doutrina policial e manuais de procedimento da PRF. A determinação havia sido feita no ano passado, após a morte de Genivaldo Santos, ao ser morto por agentes da instituição, no estado de Sergipe. "Sobre a tragédia com uma criança de 3 anos no Rio de Janeiro, já solicitei esclarecimentos e providências aos órgãos de direção da PRF naquele Estado. Estou aguardando a resposta, que será comunicada imediatamente. Outras medidas serão informadas em breve". 
Segundo o pai da criança, o carro foi alvejado por volta das 20h, quando ele, a filha, a mãe, a irmã de 8 anos e uma tia dela passavam por Seropédica, na Baixada Fluminense, voltando da casa dos avós, em Itaguaí, na Região Metropolitana. William Silva relatou que eles passaram por uma viatura parada em um cruzamento e que não houve ordem de parada, mas os agentes passaram a seguir e a ficar muito próximos ao veículo. Ele então decidiu dar seta para encostar e, quando já estava no acostamento, quase parando, o automóvel foi alvo de mais de quatro disparos. 
"Primeiro, a minha reação foi sair de dentro do carro logo, levantar as mãos para eles pararem de atirar e verem que não tem nenhum 'vagabundo', nem nada de errado. Saiu todo mundo, só a H. que não saiu. Foi nessa hora que até os policiais entraram em desespero, que eles viram que a gente 'era' pessoas do bem e prestaram o socorro para a gente", relatou o pai. A menina deu entrada no Hospital Municipalizado Adão Pereira Nunes (HMAPN), às 21h07, vítima de perfuração por arma de fogo de crânio (cerebelo), cervical e escápula, segundo a Secretaria Municipal de Saúde de Duque de Caxias.
De acordo com a pasta, a vítima chegou à unidade com rebaixamento de nível de consciência, sangramento ativo no couro cabeludo e precisou ser sedada e entubada. A paciente foi avaliada pelas equipes de cirurgia pediátrica, neurocirurgia e pediatria, com exames de imagem e laboratório, e encaminhada ao centro cirúrgico. A menina está no Centro de Terapia Intensiva (CTI) e seu quadro de saúde é considerado grave.  Os médicos relataram à família que o procedimento foi bem-sucedido. Segundo parentes, o procedimento foi para a retirada de estilhaços e não houve perda de massa encefálica ou complicações. 
William contou ainda que existe uma denúncia de roubo vinculada à placa do veículo em que eles estavam. O crime teria acontecido no ano passado, mas a família adquiriu o carro há dois meses. O homem relatou que o então proprietário, que ainda tem seu nome no documento, afirmou que esse registro nunca constou e se comprometeu a prestar os esclarecimentos sobre a situação, junto com o vendedor do automóvel.
A PRF afastou preventivamente os três policiais envolvidos na ação das funções operacionas, "inclusive para atendimento e avaliação psicológica". A arma do agente que atirou também foi apreendida e vai passar por perícia. A instituição disse que as circunstâncias da ação estão em apuração pela Corregedoria e que colabora com as investigações da polícia judiciária para o esclarecimento dos fatos. "A PRF expressa seu mais profundo pesar e solidariza-se com os familiares da vítima, assim como está em contato para prestar apoio institucional". O caso foi registrado na 48ª DP (Seropédica), para onde foi levado o carro, que ficou com diversas marcas de tiros na lataria e nos para-brisas dianteiro e traseiro, mas será investigado pela Polícia Federal.
Caso Genivaldo
Em 25 de maio de 2022, Genivaldo de Jesus dos Santos, de 38 anos, foi morto pela Polícia Rodoviária Federal, em Umbaúba, Sergipe, após ser trancado por cerca de 11 minutos no porta-malas de uma viatura, onde agentes jogaram gás tóxico. Imagens veiculadas nas redes sociais flagraram a ação, que aconteceu porque a vítima estava trafegando de motocicleta sem capacete. O vídeo mostra o homem se debatendo com as pernas para fora, enquanto um policial mantem a tampa abaixada, impedindo-o de sair ou respirar. À época, a instituição afirmou que a conduta da equipe foi um ato isolado e que a corporação se compromete em aperfeiçoar os padrões de abordagem.
Segundo o IML de estado, o homem morreu de insuficiência aguda secundária a asfixia. Os três policiais envolvidos foram afastados das atividades, presos e respondem pelos crimes de tortura e homicídio triplamente qualificado. Um ano após a morte, a PRF anunciou o Projeto Estratégico Bodycams, que prevê o uso de câmeras corporais nos uniformes, a partir de abril de 2024, com cerca de 6 mil agentes usando os equipamentos. Os testes práticos começam em novembro de 2023. Em 14 de agosto deste ano, o ministro Flávio Dino demitiu os acusados.