De acordo com Willian Silva, o encontro foi organizado para que o assunto não seja deixado de lado. "A situação está bem complicada, a gente não pode deixar o assunto morrer. A minha vinda aqui hoje é pra falar sobre o caso da minha filha. Foi uma situação que acabou com a nossa família, nada que eu faça vai trazer ela de volta, mas vou lutar até o final. É muito triste a gente ver a vida de uma criança de 3 anos acabar por um despreparo de quem, no mínimo, estudou bastante para poder estar ali", ressaltou.
Abalada com a morte da pequena, a mãe Alana dos Santos Silva, não pôde comparecer à reunião. "Minha esposa não está conseguindo falar, não se alimenta e minha filha de 8 anos está na mesma situação. Ela falou que queria virar uma estrelinha também para poder brincar com a irmã. Está sendo muito difícil porque nossa filha era luz dentro de casa. Agora, sem ela, parece não ter ninguém. Papai do céu faz tudo da forma correta, quem sou eu pra questionar ele, mas a justiça precisa ser feita", afirmou Willian.
O encontro contou com a presença de representantes da Defensoria Pública do Rio de Janeiro e da Comissão de Direitos Humanos da OAB. "Estamos diante de um caso doloroso, pela morte de uma criança, e delicado, por envolver forças policiais e muitas versões para um mesmo fato. Será uma oportunidade de acolhimento e de escuta, fundamentalmente, para que se entenda as circunstâncias e o que é possível fazer para atender à justa reivindicação desses pais por justiça", disse a presidente da CDDHC, deputada Dani Monteiro (Psol).
A vereadora Mônica Cunha (Psol), que também participou da reunião, afirmou que o objetivo é tentar diminuir o sofrimento "causado pelo sistema cotidianamente". "A partir do que ele falar, nós vamos agir. Isso é para tentar diminuir esse sofrimento. Além disso, ter um representante do Núcleo de Direitos Humanos da PRF aqui é fruto da nossa luta, militância e cobrança ao Estado para que não mate mais da forma que está matando" explicou.
"A pior coisa que o Estado pode fazer é matar uma criança e o Estado matou mais uma criança. Se o Willian tivesse sozinho no carro, hoje a gente estaria com a família dele defendendo a memória dele porque ainda seria acusado de ser bandido, não temos dúvida disso. Mas, não tem como acusar a Heloísa de ser bandido. O que aconteceu é que viram a placa do carro, se sentiram a vontade de fazer execução sumária de quem estava no carro, acontece que quem estava no carro era uma família", afirmou o procurador da Comissão de Direitos Humanos da OAB, Rodrigo Mondego, durante a reunião.
No encontro, o advogado da família, Jorge Beck, ressaltou o trabalho do Ministério Público Federal (MPF) nas investigações. "Eles estão se dedicando para trazer a solução do fato. Eles estão trabalhando 24 horas, eu sei porque eu estou diretamente com eles. Queria agradecer a toda equipe do MP pelo o que eles estão fazendo nesse caso. É uma situação que também comoveu a eles, mas infelizmente a justiça ainda não fez valer", disse.
Relembre o caso
A morte da menina foi confirmada na manhã do último sábado (16). Ela estava internada havia oito dias no Hospital Municipalizado Adão Pereira Nunes (HMAPN), em Duque de Caxias. Willian contou que o carro em que ele e a família estavam foi alvo de tiros que partiram de uma viatura da PRF quando eles passavam pelo Arco Metropolitano, na altura de Seropédica, depois de visitarem parentes em Itaguaí.
O policial que atirou contra o veículo onde ela estava relatou que ouviu barulho de tiro vindo do carro e que o mesmo era roubado. No entanto, William relatou que o então proprietário, que ainda tem seu nome no documento, teria apresentado o recibo de compra e venda do veículo (CRV) no processo da compra do carro. O vendedor do automóvel teria realizado uma consulta da placa no sistema do Detran e enviado a ele, portanto, não imaginava que havia registro de roubo ao veículo no ano anterior.
A criança foi alvo de um tiro que atingiu sua cabeça e pescoço. A mãe, Alana dos Santos Silva, prestou depoimento no Ministério Público Federal (MPF), na terça-feira (19), e pediu a responsabilização dos policiais envolvidos na ação. O órgão, assim como a Corregedoria da PRF e a Polícia Federal, abriu uma investigação própria sobre o caso.
A Justiça Federal do Rio de Janeiro, por meio da 1ª Vara Federal, negou o pedido do MPF de prisão dos três agentes da PRF envolvidos na morte da menina. Na decisão, o juiz acatou outras medidas cautelares solicitadas pelo órgão.
Os policiais Fabiano Menacho Ferreira, autor dos disparos que atingiu a criança, Matheus Domicioli Soares Viegas Pinheiro e Wesley Santos da Silva terão que usar tornozeleira eletrônica e estão afastados das funções policiais com o recolhimento das armas.
Além disso, estão proibidos de se aproximar da família da vítima e do carro em que H.S.S foi baleada. Os agentes também não poderão sair de casa à noite e nos dias de folga.
Após a negação do pedido, o MPF afirmou que pretende recorrer da decisão. O órgão disse estar convicto que a prisão preventiva dos policiais é a medida mais adequada neste caso.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.