Parte da equipe do projeto Favela In da RocinhaDivulgação

Rio - Criado na Rocinha em 2020, o Favela In começou com o objetivo de integrar iniciativas desenvolvidas por empreendedores que buscavam uma forma de continuar mantendo seus negócios de pé no meio da pandemia. A missão principal era acolher pessoas e realizar iniciativas de impacto socioambiental e cultural positivo na favela, levando inspiração para os jovens e contribuindo para o desenvolvimento local.

Além disso, a dentista Branca Milidiu se juntou ao idealizador do projeto e morador da Rocinha, Vinícius Carvalho, e implantou uma Odonto Clínica Comunitária. Com o tempo, pessoas ligadas à arte e cultura se uniram ao projeto e, após isso, surgiram oportunidades para atuar de forma colaborativa na elaboração de projetos e captação de recursos. O primeiro projeto da Prefeitura não foi aprovado, mas eles não desistiram.

"Nossa equipe cresceu e a partir daí surgiu a necessidade de atuar em outras áreas, onde cada um traz sua visão técnica, enriquecendo os projetos, aumentando o impacto das nossas ações.", explica Branca.

"Além disso, nos especializamos e disseminamos conhecimento sobre ESG/ASG (governança ambiental, social e corporativa) e a Agenda 2030 da ONU e seus objetivos de desenvolvimento sustentável, pois entendemos a importância dessa linguagem contemporânea que vai de encontro a cultura colaborativa da nossa equipe multidisciplinar", complementa.
 


Atualmente, a equipe do Favela In é composta majoritariamente por mulheres, e dentre as especialidades estão: dentista, psicóloga, assistente social, pedagoga, designer, socióloga, administradora, engenheira, arquiteto, jornalista, filósofo e publicitário. "Destes, a maioria tem pós-graduação e a educação continuada é algo que o Favela In estimula. Atualmente, temos membros que estudam administração pública, mestrado em pedagogia, MBA em responsabilidade social no terceiro setor e MBA em economia e gestão da sustentabilidade".

O projeto cresceu e agora é uma Tecnologia Social que atua em quatro núcleos: Saúde, Educação, Negócios e Cultura. "O Favela In busca, através destes núcleos, ser referência como modelo de gestão colaborativa, desenvolvimento de talentos, habilidades e competências, projetos e empreendimentos, adequados ao nosso tempo e comprometidos com as causas faveladas, promovendo a diminuição da desigualdade social e contribuindo para o entendimento e conscientização das pessoas da favela sobre suas potencialidades e possibilidades de inserção social", explica Vinicius.

Negócio e Educação

Os núcleos que mais recebem interesse da comunidade são os de Negócios e Educação. Todos os projetos têm como objetivo principal a geração de renda, através da qualificação e acesso ao conhecimento.

O Projeto Nau Favela prepara jovens da Rocinha para a entrada no Mercado de Trabalho, através do desenvolvimento de habilidades socioemocionais, que estão alinhadas com o que preconiza o Fórum Mundial de Economia e a Agenda 2023 da ONU.

O Circuito CriaAtivo promove um espaço, através de encontros mensais, para que crias da comunidade que atuam com iniciativas e empreendedorismo no território, possam trocar ideia e pensar, de forma coletiva e colaborativa, em soluções para desenvolvimento do território.

"O Circuito CriaAtivo vem gerando interesse pela possibilidade de articulação em rede e a possibilidade de criar parcerias e fortalecimento das iniciativas, sejam elas já existentes ou ainda na fase de ideação", explica Branca.

Equipe formada por 80% de moradores da Rocinha

Segundo a dentista, uma das características e diferenciais do Favela In, é que a equipe é composta por mais de 80% de pessoas que moram ou tem raízes na Rocinha.

"Com alto nível de escolaridade, sendo graduados e pós-graduados nas mais renomadas faculdades do Rio, como UFRJ, UERJ, UNIRIO e PUC-Rio. Consideramos gratificante poder valorizar, dentro da Rocinha, profissionais extremamente qualificados, que buscam transformação social na base dentro do território ao qual pertencem".

O Favela In busca e estimula a educação continuada tanto para os jovens que frequentam seus projetos, quanto para a equipe. "Para que estejamos sempre à frente do nosso tempo e alinhados com o mundo globalizado. Trazer esperança e mostrar para nossos jovens que é possível 'vencer' e ser reconhecido profissionalmente dentro do território é muito gratificante", completa.

É o caso do estudante Alexandre Alvarenga, 20 anos, que passou pelo projeto Nau onde pode trabalhar suas habilidades socioemocionais, vencer sua timidez e se colocar em público. Atualmente, o jovem cursa Nutrição na PUC-Rio e deseja ser influenciador digital.

"Nos treinamentos tive a oportunidade de melhorar minha comunicação social, habilidade na qual eu tinha um pouco de dificuldade, além de me ajudar muito no meu desenvolvimento pessoal. Aprendi bastante sobre o mercado de trabalho, a fazer um excelente currículo entre muitas outras atividades", conta Alexandre.

Outros dois bons exemplos de que a oportunidade de participar do projeto pode mudar a vida das pessoas são os casos de Tamara Alves, 20 anos, e Mary Gomes, 20 anos. A primeira passou pelo projeto Nau e esteve por 6 meses na incubação de uma iniciativa desenvolvida ao longo do tempo. Atualmente ela cursa Biblioteconomia na UNIRIO.

Já Mary teve a oportunidade de desenvolver seu autoconhecimento. Apaixonada por crianças, hoje trabalha numa creche na Rocinha e sonha em cursar Enfermagem.
De recursos próprios a apoio financeiro

O Favela In começou sendo financiado pelos recursos próprios, oriundos da Odonto clínica que oferecia tratamento a preços populares. Em 2021, foi contemplado no edital da FAPERJ (Fundação de Auxílio à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro) e passou a receber a verba em 2022 por 12 meses no desenvolvimento do projeto de educação Nau Favela, atualmente patrocinado pelo Instituto SEB.

"A sustentabilidade do Coletivo Favela In como um todo ainda é um desafio, conta com o trabalho voluntário de boa parte dos seus membros na geração de negócios de impacto que assegurem a perpetuidade do movimento e as ações no território", explica Branca.

Raízes com a Rocinha

Branca foi acolhida pela comunidade desde 2016 e vivencia a rotina diária, das suas alegrias e dores desde então. "Trago meu olhar de fora pra dentro da comunidade e após esses sete anos trabalhando diariamente na Rocinha, trago também um olhar de quem vivencia a comunidade".

Já Vinícius é cria da favela. "Minha família está aqui há cerca de 70 anos. Além da vida inteira como morador, há 8 anos também agrego a experiência como empreendedor".