Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio, tem aumento na criminalidadeMarcos Porto/ Agência O Dia

Rio - O indicador estratégico Letalidade Violenta mais que dobrou desde 2022 no Recreio dos Bandeirantes, Barra de Guaratiba, Camorim, Grumari, Vargem Grande e Vargem Pequena, na Zona Oeste. Os bairros compõem a Circunscrição Integrada de Segurança Pública (Cisp) 42, área de apuração de indicadores de criminalidade do Instituto de Segurança Pública do Rio (ISP).

Os crimes homicídio doloso, roubo seguido de morte (latrocínio), lesão corporal seguida de morte e morte por intervenção de agente do estado formam o indicador Letalidade Violenta. Este ano, segundo o instituto, foram 51 ocorrências desse tipo registradas até setembro. Só no mês de setembro foram 10 casos. São 35 casos a mais do que o mesmo período de 2022, um aumento de 218,8%. De janeiro a setembro de 2022, foram 16 vítimas de letalidade violenta na região e em todo ano passado foram 22 casos.

Os roubos de rua e de veículos também aumentaram respectivamente 38,8% e 14% em comparação com o ano passado. Foram 504 casos de roubo de rua e 106 de veículo de janeiro a setembro deste ano. Já os roubos a transeuntes tiveram aumento de 62,4% em um ano. Foram 128 casos a mais, formando 333 registros até setembro passado.

Os crimes de extorsão aumentaram em 60%. Foram de 50 nos nove primeiros meses de 2022 para 80 de janeiro a setembro de 2023. 52 pessoas ficaram desaparecidas, aumento de 57,6% em relação ao período de 2023, quando houve registro de 33 desaparecidos. Já os casos de estupro diminuíram de 46 para 39 no período de 2022 em comparação com 2023. Queda de 7%.

O Mapa dos Grupos Armados, parceria do Instituto Fogo Cruzado com o Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos, da Universidade Federal Fluminense (GENI-UFF), apresenta a existência de grupos de milícia e das facções de tráfico de drogas Comando Vermelho e ADA no Recreio dos Bandeirantes. Em Vargem Pequena há ocupação pelo CV e pela Milícia. Em Vargem Grande, há incidência da milícia, segundo o instituto.

Há registro de ação de milícias nos sub-bairros do Recreio, Pontal, às margens do Parque Chico Mendes, na comunidade do Terreirão, na Nova Barra, na Gleba Finch, entre outros. Já o CV atua no sub-bairro Village Maependi, segundo o mapa.
Confira imagem abaixo
Mapa interativo feito pelo Instituto Fogo Cruzado mostra incidência da milícia no Recreio, Zona Oeste do Rio - Reprodução/ Mapa Histórico dos Grupos Armados do Rio de Janeiro
Mapa interativo feito pelo Instituto Fogo Cruzado mostra incidência da milícia no Recreio, Zona Oeste do RioReprodução/ Mapa Histórico dos Grupos Armados do Rio de Janeiro


Mortes mais do que dobraram na Zona Oeste em um ano

Um levantamento feito pelo Instituto Fogo Cruzado e o GENI-UFF mostrou aumento de 127% nas mortes na Zona Oeste em um ano. O crescimento da violência armada se deu em meio às disputas territoriais após a morte do miliciano Ecko, em 2021. Entre janeiro de 2022 e outubro deste ano, os tiroteios cresceram 55,16%.

Wellington da Silva Braga, o Ecko, era tio de Matheus Resende, o "Faustão", morto durante uma operação da Polícia Civil, na segunda-feira (23). Zinho, irmão de Ecko, é o miliciano mais procurado da cidade. Após a morte de "Faustão", apontado como número 2 da milícia, foram destruídos 35 ônibus, sendo 20 da frota municipal, cinco articulados do BRT, e outros 10 de turismo e fretamento. Em apenas um dia, a cidade teve o maior número de ônibus queimados de sua história, segundo o Rio Ônibus.
Entre os pontos de incêndio, estavam um BRT na Avenida Benvindo de Morais, em que passageiros tiveram que desembarcar enquanto criminosos ateavam fogo ao veículo, e outro na Estação Notre Dame. Dois episódios reveladores da ação de milicianos na região do Recreio. 
O levantamento do GENI-UFF e do Instituto Fogo Cruzado também identificou em um recorte histórico de 2006 a 2021, que em 16 anos, as áreas dominadas pelas milícias cresceram 387%. Agora, 10% de toda área territorial do Grande Rio está sob domínio desses grupos criminosos.

O mapeamento mostra que o poderio deste grupo é maior que o de todas as facções juntas, quando analisada a extensão territorial. "São 686,75 km2, equivalente a 57,5% do território da capital, nas mãos da milícia. Comando Vermelho, Terceiro Comando, e ADA têm, respectivamente, 11,4%; 3,7% e 0,3% desse domínio. Pouco mais de um quarto do território (25,2%) ainda está em disputa", informa o documento.

Os dados mostram que as milícias controlam 74,2% das áreas ocupadas por grupos armados na capital. E três em cada quatro áreas controladas por criminosos no município está sob o domínio deste grupo paramilitar criminoso. Mesmo sem o ano de 2023 ter acabado, o número de mortes na Zona Oeste mais do que dobrou em relação ao início de 2022.