Rio - A mãe de Jeff Machado, Maria das Dores Machado, e o investigador chefe da Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA), Igor Rodrigues Bello, foram os primeiros a serem ouvidos na primeira audiência de instrução e julgamento dos réus pela morte do ator, nesta sexta-feira (27). A sessão teve início na 1ª Vara Criminal da Capital por volta das 13h30. São réus no processo o produtor Bruno de Souza Rodrigues, que responde por oito crimes, e o garoto de programa Jeander Vinicius da Silva Braga, que responde por três infrações.
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O investigador da DDPA prestou depoimento por cerca de quatro horas. Em juízo, ele deu detalhes sobre a fase de buscas pelo corpo de Jeff e também sobre as buscas por Bruno. Segundo Igor Bello, Bruno no início das investigações se mostrou solicito para colaborar com a polícia. A personalidade duvidosa do produtor também foi observada durante a sua estadia em um hostel no Morro do Vidigal, na Zona Sul do Rio.
Segundo o investigador, Bruno conversava diariamente com o dono do hostel e também com comerciantes e hóspedes. Ele estaria convencido que não seria descoberto.
Investigação provou a premeditação do crime
Em seu depoimento, o investigador também contou todas as etapas da investigação, que começou como um caso de desaparecimento. O ponto de virada foi o depoimento de um taxi dog que foi contratado para levar os oito cachorros de Jeff para um centro de umbanda desativado. Ao depor na polícia, o taxista afirmou que no dia 31 de janeiro, Jeff – que na verdade já estava morto - fez contato com ele através do WhatsApp, mas quem apareceu para acompanhá-lo no transporte dos cães foi Bruno. O taxi dog procurou espontaneamente a polícia, após ver postagens nas redes sociais sobre cachorros da mesma raça que estavam perambulando pela Zona Oeste do Rio. A investigação concluiu que Bruno se passou por Jeff não apenas nessa, mas em diversas ocasiões após o crime.
A premeditação, de acordo com o inspetor, ficou demonstrada por dois fatos: no final de 2022, Bruno começou a visitar revendedores de veículos na Zona Oeste, dizendo que levaria o carro de um amigo para vender. Ele teria voltado após a morte de Jeff, porém não conseguiu vender o carro do ator, do qual ele possuía as chaves, por não ter encontrado os documentos do veículo.
O outro fato foi a compra da casa onde o corpo de Jeff foi encontrado realizada meses antes do crime. Os réus fizeram uma obra nesta casa, levantando um muro, ocasião em que teriam feito também o buraco onde enterraram o baú contendo o corpo.
Durante toda a investigação, Bruno manteve a história, tanto para a família do ator quanto para a polícia, de que Jeff Machado havia conseguido uma chance de trabalho em São Paulo, e por isso deixara sua casa, seu carro para que ele os vendesse e seus cachorros para que ele tomasse conta.
Segunda a prestar depoimento, Maria das Dores, mãe de Jefferson, falou sem a presença dos acusados. Ela contou sobre sua relação próxima com o filho, relatando que se falavam diariamente. Por isso ela começou a desconfiar quando começou a receber mensagens incomuns de Jefferson, quando tentou falar com ele após o dia 23 de janeiro, quando ele foi morto. “Percebi que as mensagens não eram do meu filho, pois ele escrevia muito bem e as expressões postadas nas mensagens eram com termos que meu filho não usava”, disse.
Maria das Dores também falou das transferências de dinheiro que fez a pedido do filho, que explicou que seriam destinadas ao Bruno que o estava ajudando a conseguir encaixa-lo no elenco de uma novela na TV Globo.
Ao final do seu depoimento ela fez um desabafo contra o acusado Breno: “Eu quero que ele diga a verdade para mim, na minha cara! É o mínimo que ele pode fazer. É contar a verdade. Por que matou o Jefferson? Eu preciso disso para limpar a minha alma. Eu sei que vou escutar isso desse monstro!”.
Terceiro e último a depor, o irmão de Jefferson, Diego também disse que se comunicava com o irmão diariamente, pelo telefone, mensagens de áudio ou vídeo. Disse que, quando começou a desconfiar as mensagens recebidas não eram do irmão, mandou uma postagem para o celular dele afirmando que se ele não ligasse, entraria em contato com a polícia.
“Imediatamente, após essa mensagem, o Bruno, com quem eu nunca tinha falado, me ligou. Disse que meu irmão tinha viajado para São Paulo e que não tinha dado mais notícias. Daí, já achando estranho, eu combinei com o Bruno de vir ao Rio e combinei de encontra-lo para irmos à casa do meu irmão”, disse.
Diego revelou, também, que, ao chegar na casa do irmão, achou estranho a forma como Bruno se referia ao irmão, sempre utilizando o tempo verbal no passado, como se ele já não estivesse mais vivo.
“Além disso, encontrei a casa toda revirada, senti falta de alguns pertences do meu irmão, como notebook, celular, TV, e me pareceu muito claro que o Jefferson não tinha viajado para São Paulo, como o Bruno informou. As malas, toalha, escova de dentes do meu irmão estavam na casa, demonstrando que alguma coisa tinha acontecido”.
Ao todo, foram convocadas 19 testemunhas, sendo 18 delas pelo Ministério Público do Rio (MPRJ), das quais quatro não foram localizadas, e outra indicada pela defesa, Igor Bello, responsável pelas investigações do caso. A expectativa é de que 10 pessoas sejam ouvidas na primeira audiência.
A próxima audiência de instrução e julgamento está prevista para acontecer no próximo dia 11 de dezembro.
Relembre o caso
O inquérito da morte de Jeff foi concluído em julho pela DDPA e indiciou Bruno por homicídio triplamente qualificado por motivo fútil, asfixia e por impossibilidade de defesa da vítima; ocultação de cadáver; estelionato e tentativa de estelionato; furto; invasão de dispositivo informático; maus-tratos a animais e falsa identidade. Já Jeander por homicídio triplamente qualificado por motivo fútil, asfixia e por impossibilidade de defesa da vítima; ocultação de cadáver e maus-tratos a animais.
De acordo com as investigações da especializada, o ator foi morto em 23 de janeiro e, no dia 27 seguinte, seu desaparecimento foi registrado, depois que familiares e amigos estranharam a falta de informações e contatos feitos por ele. A Polícia Civil conseguiu identificar a participação do produtor e do garoto de programa no crime e, junto com o MPRJ representaram pelas prisões, que foram decretadas pela Justiça do Rio e cumpridas em junho.
O inquérito apontou que o acusado dizia ser produtor de uma emissora de televisão e prometeu um papel em uma novela para Jeff, que pagou R$ 25 mil para conseguir a vaga. O ator não percebeu que estava sendo enganado e, por não conseguir mais manter a farsa, ele decidiu matá-lo. Segundo a DDPA, a vítima foi morta por motivo fútil, estrangulada com um fio de telefone, após ser dopada e asfixiada. O corpo foi transportado por Jeander para uma casa em Campo Grande, alugada por Bruno em dezembro de 2022, exclusivamente para ocultar o cadáver da vítima.
Ainda de acordo com as investigações, o corpo foi colocado em um baú do próprio ator, enterrado a dois metros de profundidade e coberto de concreto. Jeander também foi o responsável por abrir o buraco onde o objeto com o cadáver foi sepultado. Para encobrir o assassinato, Bruno usou o celular do artista e se passou por ele para manter contato com a mãe e amigos, além de ter feito publicações falsas em suas redes sociais.
Após o assassinato, os oito cachorros de Jeff foram levados para um centro espírita, no bairro Palmares, em Santa Cruz, na Zona Oeste, onde ficaram em condições de maus-tratos físicos e psicológicos. Depois, os animais foram abandonados na rua, o que despertou atenção dos parentes e amigos da vítima. O responsável pelo local é o terceiro indiciado no inquérito e não foi preso. Bruno tentou vender o carro de Jeff e fez compras com seu cartões, no total de R$ 7 mil. O produtor e o garoto de programa ainda furtaram telefones, notebook, jaquetas de couro e uma televisão do ator.
Jeander foi preso em 2 de junho, em Santíssimo, na Zona Oeste, durante uma ação da Delegacia de Descoberta de Paradeiros que tentou prender os então suspeitos pelo crime. Já Bruno permaneceu foragido até o dia 15 do mesmo mês, quando foi preso pela Polícia Militar, em um hostel no Morro do Vidigal, Zona Sul, em uma operação conjunta com a Polícia Civil. O produtor ficou escondido no local por cinco dias, usando nome falso, e se preparava para fugir mais uma vez, ao perceber a movimentação dos agentes.
Após a audiência de custódia, a Justiça decidiu manter a prisão dos dois autores.
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