Segunda edição do Festival Comida de Favela começa amanhã, com os pratos variando entre R$ 2,50 e R$ 30,00Divulgação

Rio - As 16 comunidades do Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio, receberão, a partir desta sexta-feira (3), o Festival Comida de Favela. A segunda edição do evento gastronômico acontece até 2 de dezembro, e reunirá 17 estabelecimentos que possuem a tradição e identidade da região.

Com os pratos variando entre R$ 2,50 a R$ 30,00, os visitantes poderão conhecer as comidas típicas e votar nos seus preferidos. Os vencedores do concurso serão premiados com recursos para investimento, nos valores de três a dez mil reais, separados nas categorias “Melhor Comida de Bar, Restaurante ou Pensão” e “Melhor Comida de Rua”.

Com a iguaria de maior valor, o Bar e Chopperia Esperança terá como aposta para o festival uma coxinha de massa de abóbora com recheio de carne seca. O gerente, Marco Sales, de 49 anos, explicou sobre o processo de escolha do prato. “Fizemos um concurso interno, levamos a ideia pro pessoal da cozinha criar alguma coisa, e quem se destacasse levaria o prêmio de mil reais. Chamamos um júri popular de fora para votar, e nossos oito principais cozinheiros participaram. O vencedor dividiu o valor com o resto do pessoal”, ressaltou.

Marco também contou que a equipe do bar é formada por moradores da comunidade ou quem migra do Nordeste. “A criação do bar é nordestina. O Rondinele, dono do Esperança, veio do Ceará, e eu também. Depois da pandemia, aumentamos de 8 para 148 funcionários, ajudamos muita gente, procuramos dar oportunidade a quem vem de lá ou quem mora aqui mesmo, para ajudar as pessoas e facilitar o dia a dia delas, de não ter que ir pra longe”, enfatizou ele.

Organizado pela ONG Redes da Maré, a festividade destaca o empreendedorismo no ramo da gastronomia nas comunidades, que foi influenciado por imigrantes nordestinos e negros/pardos. De acordo com o Censo Maré, de 2014, quase 40% do comércio nestas favelas é do ramo de comidas e bebidas.


Ao DIA, Mariana Aleixo, responsável pelo projeto e coordenadora da ONG, explicou mais sobre o evento. “O Festival é uma oportunidade cidadã da gente discutir direito à cidade, com a comida como esse mote central. A gente quer fortalecer esse território, temos mais de 140 mil habitantes, então ali já existem esses consumidores. E segundo, fazer com que as outras pessoas de outras partes da cidade também acessem esses empreendimentos”, disse.

Em 2015, na primeira edição, 5.000 pessoas votaram em seus pratos preferidos. Para 2023, é esperado que, pelo menos, o dobro deste número compareça. Segundo Mariana, os empreendimentos no complexo de favelas movimentam milhões de reais por ano.

“Estes muitos estabelecimentos movimentam 15 milhões de reais por ano. Então a gente quer dar visibilidade, olhar esse olhar econômico porque existe um recurso. Pelo dinheiro que é movimentado pelos moradores precisamos tentar fortalecer esses empreendimentos”, comentou ela.

Além disso, também serão ofertados quatro roteiros guiados, saindo de dois pontos diferentes da Maré, aos sábados e domingos, às 12h. Moradores selecionados atuarão como guias para percorrer os pontos do festival, apresentar a comunidade e contar sua história. Os locais de encontro são a Praça do Parque União e o ponto de ônibus da Vila do João, na esquina com a Av. Brasil.

Natália Lima, de 34 anos, dona da DN Burgueria, é cria da Maré e contou como sua lanchonete cresceu em pouco tempo. “Comecei na pandemia, na varanda de casa. Eu e meu marido compramos uma fritadeira de segunda mão e uma chapa. Com o sucesso, migramos para um trailer e agora estamos em uma casa alugada que foi transformada. Meus pratos são criação própria e acredito que isso foi o diferencial para crescermos”, contou a empreendedora.

A votação dos melhores estabelecimentos é composta metade por júri popular e a outra parte por meio da avaliação de 16 jurados, que serão jornalistas, moradores, chefes de cozinha, influenciadores, professores, cozinheiros e membros da coordenação. A revelação dos vencedores será no Parque União, onde cada categoria terá três escolhidos que serão premiados em dinheiro.
Maria do Amparo, de 58 anos, fundou o Bar da Amparo há 18 anos. Com sua clássica feijoada na disputa, ela já pensa no que fazer com o valor do prêmio. “Espero ganhar para poder melhorar a estrutura da casa, recebo muita gente aqui e é muito quente. Gostaria de poder ter um espaço mais agradável para os clientes”, enfatizou.

Entre maio e junho de 2023, 110 bares e restaurantes se inscreveram para o processo seletivo do festival. Um comitê escolheu 17 locais, que receberam uma consultoria profissional personalizada para se aperfeiçoar com novas técnicas e ferramentas para o negócio.

O Festival Comida de Favela é realizado pela Redes da Maré em parceria com a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro e Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro, ONS, RioGaleão e Boca Rosa Beauty. O projeto é fruto da experiência da iniciativa Maré de Sabores.
*Reportagem do estagiário Lucas Guimarães, sob supervisão de Iuri Corsini