Representantes do governo, escritores e familiares participam de encontro promovido pelo Ministério da CulturaJuliana Uepa / Ministério da Cultura
“Na história dessa casa tem também a história da primeira lei contra o racismo”, lembrou a ministra da Cultura, Margareth Menezes, em referência à Lei Afonso Arinos, primeira a apontar a prática como crime no país. “Por isso é ainda mais simbólico pra mim estar aqui hoje”, completou.
O presidente da FCRB, Alexandre Santini, agradeceu a interlocução do Planalto junto ao prefeito do Rio, Eduardo Paes. Após diálogo com o poder público municipal, a ideia de leiloar a casa foi abandonada. Em seguida, o imóvel foi colocado à disposição da Fundação para abrigar acervo literário. “Pelo tempo da vontade, do esforço e da convergência, aquilo se acelera e nós conseguimos ter resultados”, pontuou Santini.
Já Marco Lucchesi, presidente da Fundação Biblioteca Nacional, lembrou ainda que, em 2025, o Rio de Janeiro será a capital mundial do livro, título dado pela Unesco. Título que torna a retomada do uso do espaço Afonso Arinos pela Cultura ainda mais representativo. “É um momento lindíssimo da Cultura brasileira. Nós estamos construindo mais do que um Brasil, mais do que o Ministério da Cultura, é um espírito fraterno”, afirmou.
O secretário municipal de Cultura do Rio, Marcelo Calero, foi além. “Estamos todos nessa mesma tarefa, com vistas a essa mesma entrega, no mesmo contexto. Sobretudo, para pensarmos em valorizar e resguardar nossa democracia”.
Presidente da Academia Brasileira de Letras, Merval Pereira, celebrou a reunião e destacou o papel da instituição que representa em questões como a recuperação de espaços históricos como a Casa. “A Academia está sempre a favor da cultura, da diversidade. Estamos alargando a ideia de cultura para realmente colocar a Academia Brasileira de Letras no debate público, na ajuda à democracia e à cultura”, pontuou.
Gerações
“Toda vez que eu piso aqui, eu me emociono. É a gente atravessando a história, mas não pensando a memória como algo que é olhar pra trás, mas como algo que nos sustenta pra construir novos caminhos da brasilidade, de fortalecimento da nossa pluralidade, da nossa integração com outras culturas do mundo inteiro”, disse a deputada federal Jandira Feghali. A afirmação ganhou ainda mais peso com as presenças dos filhos e netos de importantes nomes da literatura brasileira. A exemplo de Pedro Drummond, neto de Carlos Drummond de Andrade.
“Temos a oportunidade de concretizar o sonho que alguns cidadãos conscientes que, unidos pela amizade, e por espírito pátrio, tiveram uma boa ideia, desde o colégio Arnaldo até as ruas do Rio de Janeiro, Afonso Arinos, Carlos [Drummond de Andrade], Plínio Doyle, e outros, seguirão sendo amigos para sempre. É nosso dever nos espelharmos nessa amizade e nessa cidadania”, falou.
Maria de Moraes, filha de Vinícius de Moraes, celebrou a recente conquista de um acervo digitalizado das obras do pai – tudo que suporte técnico da FCRB. Ferramenta importante de inclusão, segundo ela: “É uma alegria pensar que esse país tão desigual pode, sim, levar às pessoas uma maneira de acessar todo esse conhecimento”.
O filho da escritora Clarice Lispector, Paulo Gurgel, presenteou, simbolicamente, a ministra da Cultura com um exemplar do livro “Correspondências”. “E por quê? Porque grande parte [da obra] está depositada aqui, e isso possibilitou a publicação desse livro. A casa [Afonso Arinos] vive ideias, pensamentos, difusões, mas também tem coisas materiais aqui.”
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