Representantes do governo, escritores e familiares participam de encontro promovido pelo Ministério da CulturaJuliana Uepa / Ministério da Cultura

A importância da criação do Museu da Literatura Brasileira foi tema de um encontro promovido pelo Ministério da Cultura, por meio da Fundação Casa de Rui Barbosa, na tarde da última segunda-feira (13), no Rio. No centro do debate, a Casa Afonso Arinos, em Botafogo, que desde o final de setembro está livre da ameaça de ser leiloada e figura como aspirante a sede do espaço.
Parlamentares, representantes da administração pública, gestores do patrimônio municipal, escritores e familiares de importantes nomes da literatura brasileira participaram de um debate sobre o tema e, após uma vista às instalações, acompanharam a assinatura da chefe da Cultura no livro de autógrafos da Casa. Cesário Mello Franco, neto do autor que dá nome ao prédio, estava entre os presentes.

“Na história dessa casa tem também a história da primeira lei contra o racismo”, lembrou a ministra da Cultura, Margareth Menezes, em referência à Lei Afonso Arinos, primeira a apontar a prática como crime no país. “Por isso é ainda mais simbólico pra mim estar aqui hoje”, completou.



O presidente da FCRB, Alexandre Santini, agradeceu a interlocução do Planalto junto ao prefeito do Rio, Eduardo Paes. Após diálogo com o poder público municipal, a ideia de leiloar a casa foi abandonada. Em seguida, o imóvel foi colocado à disposição da Fundação para abrigar acervo literário. “Pelo tempo da vontade, do esforço e da convergência, aquilo se acelera e nós conseguimos ter resultados”, pontuou Santini.

Já Marco Lucchesi, presidente da Fundação Biblioteca Nacional, lembrou ainda que, em 2025, o Rio de Janeiro será a capital mundial do livro, título dado pela Unesco. Título que torna a retomada do uso do espaço Afonso Arinos pela Cultura ainda mais representativo. “É um momento lindíssimo da Cultura brasileira. Nós estamos construindo mais do que um Brasil, mais do que o Ministério da Cultura, é um espírito fraterno”, afirmou.

O secretário municipal de Cultura do Rio, Marcelo Calero, foi além. “Estamos todos nessa mesma tarefa, com vistas a essa mesma entrega, no mesmo contexto. Sobretudo, para pensarmos em valorizar e resguardar nossa democracia”.

Presidente da Academia Brasileira de Letras, Merval Pereira, celebrou a reunião e destacou o papel da instituição que representa em questões como a recuperação de espaços históricos como a Casa. “A Academia está sempre a favor da cultura, da diversidade. Estamos alargando a ideia de cultura para realmente colocar a Academia Brasileira de Letras no debate público, na ajuda à democracia e à cultura”, pontuou.

Gerações

“Toda vez que eu piso aqui, eu me emociono. É a gente atravessando a história, mas não pensando a memória como algo que é olhar pra trás, mas como algo que nos sustenta pra construir novos caminhos da brasilidade, de fortalecimento da nossa pluralidade, da nossa integração com outras culturas do mundo inteiro”, disse a deputada federal Jandira Feghali. A afirmação ganhou ainda mais peso com as presenças dos filhos e netos de importantes nomes da literatura brasileira. A exemplo de Pedro Drummond, neto de Carlos Drummond de Andrade.

“Temos a oportunidade de concretizar o sonho que alguns cidadãos conscientes que, unidos pela amizade, e por espírito pátrio, tiveram uma boa ideia, desde o colégio Arnaldo até as ruas do Rio de Janeiro, Afonso Arinos, Carlos [Drummond de Andrade], Plínio Doyle, e outros, seguirão sendo amigos para sempre. É nosso dever nos espelharmos nessa amizade e nessa cidadania”, falou.

Maria de Moraes, filha de Vinícius de Moraes, celebrou a recente conquista de um acervo digitalizado das obras do pai – tudo que suporte técnico da FCRB. Ferramenta importante de inclusão, segundo ela: “É uma alegria pensar que esse país tão desigual pode, sim, levar às pessoas uma maneira de acessar todo esse conhecimento”.

O filho da escritora Clarice Lispector, Paulo Gurgel, presenteou, simbolicamente, a ministra da Cultura com um exemplar do livro “Correspondências”. “E por quê? Porque grande parte [da obra] está depositada aqui, e isso possibilitou a publicação desse livro. A casa [Afonso Arinos] vive ideias, pensamentos, difusões, mas também tem coisas materiais aqui.”