O RJ é o segundo estado que mais mata pessoas negras em operações policiaisMarcos Porto/Arquivo/Agência O Dia
O estudo é baseado em dados coletados por meio das secretarias de segurança pública e suas correlatas em oito estados: Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Piauí, São Paulo e Rio de Janeiro.
Segundo o levantamento, em 2022, das 4.219 vítimas decorrentes de intervenção do Estado, 65,66% eram pessoas negras, totalizando 2.770. Nesse contexto, a Bahia, o estado mais enegrecido do país, assumiu o topo do ranking como a unidade federativa que mais mata, ultrapassando o Rio de Janeiro.
No relatório, os estudiosos citam ainda exemplos de violência no estado do Rio. Dentre elas, a megaoperação policial na Vila Cruzeiro, no bairro da Penha, na Zona Norte, que deixou 22 pessoas mortas, sendo uma moradora. Essa foi a segunda mais letal da cidade. A primeira foi a que resultou em 28 mortes no Jacarezinho, incluindo a de um policial civil.
Ainda no Rio, somente o 16ºBPM (Olaria), o 41ºBPM (Irajá) e o 14ºBPM (Bangu) concentram mais da metade das vítimas na capital (53,83%).
O estudo explica que os números altos de mortes decorrentes de intervenção policial, ano após ano, no Rio de Janeiro, é uma política de segurança determinada a lidar com grupos armados a partir de lógicas bélicas de confrontos e tiroteios. A maioria das vítimas tem idade de 18 a 29 anos.
Os seis municípios do Rio com mais mortes decorrentes de intervenção do estado são: Rio de Janeiro (Capital) 444; São Gonçalo 131; Duque de Caxias 129; Niterói 61; Japeri 60; Angra dos Reis 58.
BA x RJ
A população do estado baiano é composta por 80,80% de pessoas negras, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e a proporção de negros mortos decorrentes da intervenção do Estado foi de 94,76%, considerando somente as vítimas que tiveram cor ou raça identificadas.
Ainda segundo o estudo, a Bahia e o Rio de Janeiro são responsáveis por 66,23% do total dos óbitos; o Pará surge à frente de São Paulo com número expressivo de mortos; o Ceará segue negligenciando a informação sobre a raça/cor dos mortos por policiais; e o Maranhão, por mais um ano, despreza a transparência e negligencia a produção de informações.
Em 2022 foi a primeira vez que a Bahia registrou mais mortes cometidas por agentes de segurança do que o Rio de Janeiro. Já o Pará, com 631 mortes, registrou mais vítimas que São Paulo, estado com uma população quase cinco vezes maior.
Internamente, a Polícia Militar do Rio de Janeiro tem feito a sua parte para enfrentar o desafio do racismo estrutural ao longo de mais de dois séculos. Foi o primeiro órgão público a oferecer a pretos uma carreira de Estado e hoje mais de 40% do seu efetivo é composto por afrodescendentes.
A instituição orgulha-se também de seu pioneirismo em ter pretos no seu mais alto comando. O coronel PM negro Carlos Magno Nazareth Cerqueira comandou a Corporação durante duas gestões, nas décadas de 1980 e 1990, tornando-se uma referência filosófica para toda a tropa ao introduzir os conceitos de polícia cidadã e polícia de proximidade. No decorrer desses últimos 40 anos, outros oficiais negros ocuparam o cargo máximo da Corporação.
O estado do Rio, em setembro, obteve o menor índice de letalidade violenta (roubo seguido de morte, homicídio doloso, morte por intervenção de agente do estado e lesão corporal seguida de morte) dos últimos 32 anos. A redução foi de 8%. As mortes por intervenção de agente do estado também diminuíram 57% no mês e 29% no acumulado"
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