Vitrine da Galileu anuncia saldão com os últimos exemplares do estoque Raphael Perucci / Agência O Dia
Tradicional livraria no Largo do Machado encerra atividades após mais de 30 anos
‘O clima é de tristeza porque, além de perder nossos empregos, aqui somos todos amigos’, lamenta funcionário
Rio – Uma das livrarias mais tradicionais da cidade fechará as portas nos próximos dias. Após mais de 30 anos formando leitores de diferentes gerações, a Galileu, no Largo do Machado, na Zona Sul, vai encerrar as atividades.
Nos bastidores, a informação é de que o proprietário da loja, Edeir Carvalho, de 93 anos, resolveu parar o negócio. A decisão teria sido tomada depois do falecimento de um de seus filhos, o livreiro Antônio Carlos de Carvalho, em outubro de 2021. Antônio Carlos gerenciava a rede, fundada em 1991, que chegou a ter filiais em Ipanema e na Tijuca.
Funcionário da unidade do Largo do Machado há 11 anos, Demécio de Oliveira, 53, revela que o sentimento é de tristeza por parte dos funcionários e clientes. "Trinta anos não são trinta dias. Temos muitos clientes que são advogados, doutores e que foram formados na livraria. O clima é de tristeza porque, além de perder nossos empregos, aqui somos todos amigos", lamenta.
Ex-moradora do Catete, a designer de produtos Anna Beatriz Machado, 37, diz estar "arrasada" com a notícia. "Era um lugar que eu frequentava todo sábado com as crianças. Tinha uma área infantil muito legal, todos os presentes de aniversários a gente comprava lá. Os vendedores já conheciam a gente, era um lugar de refúgio", detalha Anna Beatriz, que tem dois filhos.
Atualmente vivendo em Laranjeiras, a designer revela, ainda, que fez questão de comprar um banquinho da loja para guardar de recordação. “[Antes] Eu morava na Tijuca, muito perto da Galileu também. Foi uma livraria que me acompanhou a vida inteira. Eu comprava livros de escola”, completa Anna Beatriz.
Para liquidar os últimos exemplares do estoque, a loja, na Rua do Catete, está fazendo um saldão com preços que variam entre R$ 5 e R$ 20. Boa parte das estantes já foi esvaziada e cercada com fitas.
Em dezembro do ano passado, a filial da Tijuca já havia fechado as portas. Em meados de 2022, a loja de Ipanema foi a primeira a acabar.
Presidente da Associação Estadual de Livrarias do Rio de Janeiro (AEL-RJ), Borgópio D'Oliveira também se manifestou: "Enorme sentimento de gratidão pela existência da Livraria Galileu. Insubstituível, assim como é cada livreiro fluminense".
O fim da Galileu é mais um triste capítulo para o setor, que vem sofrendo diversas perdas, como o fechamento da Cultura, no Centro, em 2018, e a falência da rede Saraiva, em outubro deste ano. Outra que anunciou recentemente o fim das atividades foi a Carga Nobre, na PUC-Rio, na Gávea, que fechará em dezembro após 35 anos.
*Reportagem de João Pedro Bellizzi, sob supervisão de Raphael Perucci
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.