Ação deixou um morto, três feridos e apreendeu armas, granadas e rádios transmissoresDivulgação/Polícia Militar

Rio - Um arquiteto denunciou um caso de homofobia no restaurante Adega Villas Boas, na Tijuca, na Zona Norte do Rio, durante a madrugada do último domingo (26). De acordo com a vítima, Franklin Quaresma, 31 anos, o garçom sugeriu que ele e seu companheiro fossem para os fundos do estabelecimento após uma demonstração de afeto entre o casal. O caso está sendo investigado pela 18ªDP (Praça dos Bandeirantes).

Ainda segundo Franklin, o que era pra ser apenas um encontro romântico se tornou um doloroso episódio de discriminação. "Ao escolhermos o bar, eu e meu companheiro buscávamos apenas um momento agradável. Contudo, ao nos abraçarmos e trocarmos um único beijo, fomos abordados pelo garçom. Com desdém, ele afirmou que o estabelecimento não tolerava esse tipo de comportamento e sugeriu que nos dirigíssemos ao fundo, longe dos olhos dos demais frequentadores", contou.

O arquiteto explicou também que não acreditou no que estava ouvindo e chegou a pedir para que o funcionário repetisse, o que foi feito, deixando o casal perplexo.

"Infelizmente, a confirmação veio, e a proibição era clara: não era permitido expressar afeto da mesma forma que os casais heterossexuais. É importante ressaltar que o restaurante estava repleto de outros casais, todos heterossexuais, desfrutando de sua noite sem interferências", lamentou.

Durante o episódio, o casal acionou a polícia e registrou o caso na delegacia. Franklin disse também que em nenhum momento foi assistido pelo gerente da casa ou qualquer outro funcionário, mas que após a chegada dos policiais foi persuadido para não formalizar a denúncia.
"Diante dessa flagrante discriminação, liguei imediatamente para o 190, solicitando auxilio policial. Uma viatura chegou prontamente, e somente com a presença dos policiais o gerente se manifestou, tentando persuadir-nos a não prosseguir com a denúncia. Recusamos e registramos formalmente a ocorrência. O que era para ser uma noite de diversão transformou-se em um ataque à nossa dignidade", disse.

Episódio provocou gatilhos emocionais
Para Fraklin, o episódio mexeu profundamente com suas feridas e trouxe muitos gatilhos emocionais. "A homofobia tem sido uma presença constante em minha vida desde que me entendo por gente. A jornada para me assumir como homossexual foi repleta de desafios devido ao preconceito enraizado em nossa sociedade. Mesmo após anos sendo abertamente gay, carrego ainda muitos traumas, e ser colocado novamente em uma situação de discriminação, além de humilhante e constrangedor, reacendeu inúmeros gatilhos emocionais", contou.

Apesar do desconforto da situação, ele reforça não poder ficar em silêncio, pois acredita que expondo o caso e, principalmente, denunciando, pode encorajar outras vítimas.

"Acredito que é fundamental que não baixemos nossas cabeças diante do preconceito. Devemos, de uma vez por todas, mostrar que merecemos respeito e que não nos submeteremos a tamanha ignorância", contou.

O arquiteto explicou também que está tendo uma rede de apoio que tem o ajudado a enfrentar tudo o que aconteceu.

"Atualmente, contar com uma rede de apoio está sendo crucial para conseguir dar continuidade à denúncia e enfrentar toda a exposição do caso. Espero que, de alguma forma, minha experiência encoraje outras vítimas a enfrentarem seus medos e denunciarem qualquer crime de injúria e discriminação que tenham sofrido", disse.

O que diz o restaurante?

Nas redes sociais, o Adega Villas Boas se manifestou sobre o caso e disse que afastou o garçom das suas atividades.

"Gostaríamos de expressar nossas sinceras desculpas diante do ocorrido recentemente em nosso restaurante. Lamentamos profundamente pela experiência desagradável causada por atitudes homofóbicas proferidas por um de nossos garçons. Informamos que assim que tivemos conhecimento do incidente, tomamos medidas imediatas, o referido garçom foi afastado de suas funções", disse.

Em outro trecho, o estabelecimento disse que não compactua com comportamentos discriminatórios. "Queremos deixar claro que o comportamento discriminatório não reflete os valores do nosso estabelecimento. Repudiamos veementemente qualquer forma de preconceito e estamos comprometidos em proporcionar um ambiente inclusivo e acolhedor para todos os nossos clientes. Reiteramos nossas desculpas a todos que foram afetados por essa situação e agradecemos pela compreensão. Estamos revisando nossos procedimentos internos para garantir que incidentes como esse não ocorram novamente no futuro", finalizou em nota.

No entanto, para Franklin, o afastamento do garçom, responsável pelo crime, é o mínimo que deveria ser feito. "O que mais me revolta é o fato de que, durante todo o acontecimento, ninguém se manifestou. Ninguém tentou contornar a situação ou se desculpar conosco. A nota lançada por eles, para mim, não representa o real posicionamento do Adega Villas Boas", disse.

O arquiteto acredita ainda que o pedido de desculpas em público só aconteceu após a exposição do caso. "É frustrante perceber que, se não estivéssemos expondo a situação, nos tornando vulneráveis, esse pedido de desculpas provavelmente não teria ocorrido, e talvez nem o afastamento do garçom. Isso evidencia uma postura reativa, em vez de uma abordagem proativa para lidar com casos tão sérios como este", complementou.
De acordo com a Polícia Civil, os envolvidos foram ouvidos e investigações estão em andamento para esclarecer todos os fatos.