Adutora rompe e provoca estragos em Nova IguaçuReginaldo Pimenta/Agência O DIA

Rio - Moradores da Rua das Tulipas, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, onde uma adutora rompeu e causou estragos em diversas casas da região, denunciam a existência de um vazamento de água que vinha ocorrendo por meses na rua e no quintal de uma das residências afetadas. Segundo a Águas do Rio, a causa do rompimento ainda está sendo investigada. 
De acordo com a Defesa Civil, até o momento, 30 imóveis foram atingidos, sendo que cinco deles apresentaram danos superficiais. Ao todo, cinco famílias, totalizando 13 pessoas, estão desalojadas. Uma das moradoras, Graziella Nascimento, 33 anos, conta que sentiu sua casa tremer com a força da água. O telhado dela foi arrancado e alguns móveis foram perdidos. Apesar do susto, ninguém se feriu.

"Parecia um redemoinho, molhou tudo e a água veio escorrendo para o primeiro andar. Guarda roupa tá todo molhado, geladeira deu curto, a cama está molhada, o ventilador foi perdido, uniforme de escola, tênis, muita coisa… Fora o trauma que minha filha tá, ela olha pra casa e da vontade de chorar, ela só tem 7 anos. Meu tio é acamado, meu vizinho que veio desesperado me ajudar a colocar ele na cadeira de rodas pra gente conseguir sair de casa", contou.

Graziela explicou ainda que um vazamento 'estranho' acontecia na casa de um dos vizinhos há quase dois meses e que equipes da concessionária chegaram a ir ao local algumas vezes, mas que não resolveram o problema.

"Já tem uns dois meses que no quintal do vizinho tinha água vazando, a Águas do Rio vinha, olhava, tirava foto e não fazia nada. A água saia debaixo da terra, borbulhando", contou.

Outro morador, Marlon Souza da Silva, 19 anos, disse que acordou com água caindo em seu rosto e que saiu pelos fundos com os irmãos, a mãe e o padrasto no momento do vazamento.

"Perdi tudo, cama, armário, geladeira, ventilador, telefone. Quando foi umas 4h teve um estrondo enorme, acordei com água jorrando na minha cara. Foi perda total, pegamos as crianças e saímos pela parte de trás da casa. Aqui a água não chegou a subir muito mas ali na frente está um caos", explicou.

Sobre o vazamento, ele citou que também acontecia na rua e reforçou que o problema é antigo, além de citar outras vezes que outra adutora rompeu.

"Eles vinham aqui, tiravam fotos, não faziam mais nada e a água ficava vazando, até acontecer essa situação. Virando a esquina já aconteceu isso também. E olha que dessa vez foi o cano menor que estourou. Aqui está um caos!", lamentou.

Outro morador, Vinicius Soares Figueiredo, 38 anos, conta que ele e a mulher também perderam quase tudo. "Foi na base de 4h/4h30, minha esposa acordou com um barulho na janela, a gente achou até que seria chuva, tempestade, porque tinha muita rajada de água e de vento. Quando eu fui lá fora, vi que não era chuva, mas que o cano tinha estourado. A água estava imensa, aí nesse momento começou a correria dentro de casa pra tentar salvar alguma coisa, mas não deu tempo, em cinco minutos a água já estava na cintura", contou.
Após o rompimento, a Prefeitura de Nova Iguaçu informou que a Defesa Civil segue fazendo vistorias nos locais afetados. Além disso, equipes da Secretaria Municipal de Assistência Social, do CRAS Águas do Guandu, estão no local fazendo o cadastramento dos moradores que foram afetados pelo problema para a distribuição de kits limpeza e colchonetes.

"Nossa equipe está lá para verificar se houve algum problema estrutural para ver se essas famílias podem voltar para suas casas. Como não teve vítimas, os danos até o momento são materiais, em que a Águas do Rio vai arcar. Vamos ver se há risco para as pessoas permanecerem nesses imóveis, não havendo riscos, as pessoas voltam. No momento, só tem um trecho interditado, que é onde uma equipe trabalha”, explicou o secretário municipal de Defesa Civil, Jorge Ribeiro Lopes.
O que diz a Águas do Rio?

De acordo com o diretor executivo da Águas do Rio, Felipe Esteves, ainda não há informações sobre os vazamentos anteriores e a prioridade é atuar para minimizar os impactos causados pelo vazamento. "Assim que tivermos a causa isso vai ser esclarecido", disse.

Felipe informou ainda que as equipes da concessionária já iniciaram o reparo na tubulação. "Já estamos com nosso efetivo de responsabilidade social atuando para fazer o cadastramento e verificar quais os danos aconteceram. A gente tem a Defensoria Pública que está acompanhando nosso trabalho. Estamos fazendo a limpeza das vias e o reparo na maior brevidade possível para minimizar o impacto do desabastecimento que vai impactar grande parte da Zona Norte, São João de Meriti e Nilópolis", explicou.
Em nota, a concessionária informou que, às 4h da manhã desta terça-feira (28), identificou o rompimento de uma adutora na Baixada Fluminense, no trecho que passa pelo bairro de Prados Verdes, em Nova Iguaçu, e iniciou uma mobilização imediata, como a suspensão do abastecimento, evitando maiores danos causados pela pressão da água. No momento, 120 profissionais da empresa estão no local. Equipes operacionais atuam no conserto da tubulação e profissionais da área de Responsabilidade Social da concessionária prestam apoio aos moradores da região.

Em relação aos relatos mencionados, a Águas do Rio informa que tratavam-se de vazamentos nas redes de abastecimento de pequeno porte, e não de vazamentos na adutora que abastece a região. Um rompimento em adutora gera uma pressão muito maior, causando danos como os que ocorreram nesta terça-feira (28). A causa do rompimento e a extensão do impacto da água nas casas no entorno estão sendo avaliadas, assim como o levantamento dos danos. Com essas informações definidas, os moradores impactados serão indenizados.

Para realizar o reparo, a Águas do Rio precisou reduzir o fornecimento de água dos municípios de Nilópolis e São João de Meriti, na Baixada Fluminense, e partes da Zona Norte da capital. A normalização do abastecimento deve acontecer até a manhã de quarta-feira (29)

Os bairros do Rio de Janeiro afetados são: Guadalupe; Marechal Hermes; Honório Gurgel; Rocha Miranda; Colégio; Vicente de Carvalho; Irajá; Vila Kosmos; Complexo Do Alemão; Engenho da Rainha; Engenho de Dentro; Manguinhos; Bonsucesso; Ramos; Del Castilho; Tomás Coelho; Cavalcante; Higienópolis; Jacarezinho; Jacaré; Ilha do Governador (Ressalva Cidade Universitária); Barros Filho; Coelho Neto; Acari; Pavuna e Parque Columbia.
Possíveis causas do rompimento
Para o Professor Associado do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UERJ, Adacto Ottoni, as possíveis causas desses incidentes são a falta de manutenção e conservação do sistema. Apesar disso, ele acredita ser necessário uma perícia para que a causa seja esclarecida.

"Possivelmente quando ocorre esses problemas as causas estão relacionadas com deficiência da manutenção e conservação do sistema, porque qualquer sistema hidráulico sanitário tem que ter manutenção e conservação, quando isso não é feito adequadamente, aumenta o risco desses acidentes", disse.

Além disso, o professor deu algumas sugestões de outros fatores que podem ter ocasionado o rompimento. "Uma causa possível pode ser uma tubulação velha, com incrustação, que vai diminuindo a espessura e pode gerar o rompimento. Outra causa são pressões muito altas, e a conjunção desses fatores, que pode agravar o risco de rompimento. Além disso pode haver problemas pontuais de sobrecarga sobre o terreno, um caminhão que passa por cima da adutora, alguma falta de manutenção, mas tudo isso deve ser investigado", explicou.
Outros casos
Essa não foi a primeira vez que uma adutora rompeu na região, em junho deste ano houve um rompimento em um terreno próximo à Rua Santa Maria, no bairro km 32, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Diversas casas da região foram invadidas pela água. Na ocasião, cerca de 50 famílias foram atingidas. Em 2022, outro caso aconteceu na mesma região.
Em março deste ano, uma outra adutora estourou na Estrada do Lameirão, em Santíssimo, na Zona Oeste do Rio, e causou inundação em diversas ruas do entorno. Diversas casas ficaram alagadas e moradores chegaram a receber indenizações da Rio+Saneamento, responsável pela adutora.
Na ocasião, a Secretaria de Assistência Social que atuou no auxílio, cadastramento e no acolhimento das vítimas contabilizou 114 famílias que precisaram de atendimento, totalizando 261 pessoas afetadas, sendo 185 adultos, 36 idosos, 31 crianças, oito adolescentes e uma lactante. Além disso, mais 28 famílias ficaram desalojadas.
Defensoria move ação contra Águas do Rio
A Defensoria Pública do Rio de Janeiro entrou com uma nova ação civil contra a empresa Águas do Rio e a Companhia Estadual de Águas e Esgotos (CEDAE) após o rompimento da adutora no bairro Prados Verdes, em Nova Iguaçu. Na última semana, a instituição já havia ingressado com um pedido para que medidas emergenciais fossem adotadas para prevenir tragédias como essa.

De acordo com um levantamento feito pelo 5º Núcleo Regional de Tutela Coletiva (NTC) da DPRJ, mais de mil pessoas que residem na região já foram prejudicadas com pelo menos sete rompimentos de adutoras entre 2015 e maio deste ano. A Defensoria tem atuado, por meio de ações e acordos coletivos, para preservar os direitos dos moradores que perderam bens e tiveram seus imóveis danificados nos acidentes.

Na ação protocolada na semana passada, a Defensoria pede que a empresa Águas do Rio seja obrigada a apresentar um plano com medidas emergenciais nas adutoras localizadas na região, sem a retirada das famílias, a fim de promover maior segurança na prestação do serviço público essencial e evitar que novos acidentes ocorram.
A DPRJ requer, ainda, a concessão de uma liminar que obrigue a concessionária a apresentar um manual de operação e manutenção corretiva e preventiva, além de realizar fiscalização diária e permanente da integridade das adutoras. Foi pedido também um plano de ação detalhado, com cronograma, das obras emergenciais necessárias para prevenir novos rompimentos em até 90 dias.

Por fim, a Defensoria pede a condenação da Águas do Rio e da Cedae ao pagamento de R$ 5 milhões por danos morais coletivos a serem revertidos em desconto nas contas de consumo de água dos moradores.