Antônio Carlos Nascimento Lima, 35, foi morto a tiros no Morro da CovancaReprodução/Redes Sociais
Mototaxista mandou mensagem para mulher antes de ser morto a tiros no Morro da Covanca
Familiares afirmam que Antônio Carlos Nascimento Lima, 35, foi baleado por PMs quando tirava foto de encomenda
Rio - O mototaxista morto a tiros no Morro do Covanca, em Jacarepaguá, na Zona Oeste, enviou mensagens para a mulher falando sobre o confronto, pouco antes de ser baleado. O caso aconteceu na tarde desta segunda-feira (4), quando Antônio Carlos Nascimento Lima, de 35 anos, fazia uma entrega na comunidade. Parentes da vítima estiveram nesta terça-feira (5) no Instituto Médico Legal (IML) Afrânio Peixoto, no Centro do Rio, para liberar o corpo.
A troca de mensagens entre o casal aconteceu entre 12h17 e 12h29, quando Antônio diz que está no Morro da Covanca e que "a bala 'tá' comendo". Paola Nascimento então pede que o marido saia do local e em seguida ele lhe envia uma foto de uma viatura da Polícia Militar, dizendo que sairá. A mulher então pede que ele tenha cuidado e, pouco depois, pergunta se ele vai para casa almoçar. Dez minutos depois, ela pergunta se ele já deixou a comunidade e há uma ligação de dois minutos, sem mais conversas entre eles.
De acordo com uma tia que afirma ter criado o mototaxista desde que ele tinha 6 anos e veio de Salvador, na Bahia, para o Rio de Janeiro, ele mora em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, trabalhava para um aplicativo de entregas e aceitou levar uma encomenda para o Morro da Covanca. Segundo Telma Conceição Lima, 60, o sobrinho foi baleado por policiais militares no momento em que fotografava uma encomenda para a plataforma, sem ter sido abordado.
"Foi um baque. Eu tinha acabado de chegar do trabalho quando fiquei sabendo da tragédia. Ele foi levar a encomenda, desceu com a encomenda, estava tirando foto para mostrar no aplicativo do Uber, quando aconteceu. Quando ele virou para a polícia, a polícia atirou nele. Foi covardia, podia ter chegado nele, perguntado do que estava tirando foto para ver, não fazer o que fizeram. Foi muita covardia, deixou um filho de 6 anos. Quatro meses trabalhando nessa porcaria de Uber e quatro meses e eu briguei com ele. Foi covardia e infelizmente vai ficar por isso, porque não vão resolver nada. Por mais que a gente 'dê parte', vai ficar por isso mesmo", desabafou a tia.
Segundo o sogro, Antônio Carlos costumava a realizar corridas apenas na Baixada Fluminense mas, desempregado há três meses, tentava juntar dinheiro para a formatura do filho, na próxima sexta-feira (8). Wagner José de Freitas, de 62 anos, relatou que após perder o emprego como manobrista em um hotel de Nova Iguaçu, a vítima comprou uma motocicleta, que ainda estava pagando, para trabalhar no aplicativo de corridas. Ele teria aceitado fazer a entrega para a Zona Oeste por conta do valor mais alto.
"Eu acho que ele fez essa corrida porque o netinho da minha esposa ia fazer uma formatura e ele estava precisando de dinheiro e por isso, a gente acredita que ele foi lá para pegar esse dinheiro, porque era uma viagem mais longa, para poder ajudar na formutara do filho dele e, infelizmente, aconteceu isso (...) A gente não está culpando ninguém, polícia ou bandido, eu sei que ele tomou um tiro e a gente não sabe de onde veio, quem foi. Eu acho que Justiça tem que descobrir, ir a fundo para descobrir o que, de fato, aconteceu".
A Polícia Militar informou que o 18º BPM (Jacarepaguá) foi verificar denúncias na comunidade e, durante as buscas, as equipes foram atacadas a tiros por criminosos e houve confronto. Na troca de tiros, quatro suspeitos foram baleados e socorridos para o Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca. Posteriormente, os PMs foram acionados para a Estrada da Covanca, onde um homem morto foi encontrado. A ação apreendeu três fuzis, uma granada, um rádio comunicador e drogas. Os outros baleados também morreram.
Em nota, a Polícia Civil informou que a Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) investiga a morte de quatro homens, ainda não identificados, durante confronto com policiais militares, além de Antônio Carlos. "A perícia foi realizada no local e diligências estão em andamento para apurar a autoria do crime". Procurada, a Uber afirmou que "lamenta profundamente que cidadãos sejam vítimas da violência urbana que permeia nossa sociedade" e que prestam toda a solidariedade à família. "A empresa segue à disposição das autoridades, nos termos da lei."
O mototaxista deixa a esposa, com quem era casado há cerca de oito anos, além de um filho de 6 anos e uma enteada de 13. Ainda não há informações sobre o horário e local do sepultamento da vítima, que foi descrita como trabalhadora por familiares.
"Ele vai deixar saudades, porque ele era um rapaz muito bom. Ele vivia do trabalho para casa. Não era nem aquele rapaz de estar pelas ruas, ficava em casa, jogava videogame, via futebol. Para mim, era um excelente genro, exemplar, trabalhador, sustentava a família (...) Isso é muito triste porque a pessoa luta tanto para viver honestamente, para trabalhar, sai para trabalhar e não sabe se vai voltar, não tem segurança nenhuma", afirmou Wagner. "Era um genro muito bom, trabalhador. Era de casa para o trabalho, do trabalho para casa. Jogava videogame com meu neto, porque meu neto adorava", lamentou a sogra, Viviane Souza.
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