Exposição imersiva conta a trajetória do músico Moraes Moreira, fundador do grupo Novos BaianosCaio Lírio
O baiano da cidade de Ituaçu, na Chapada Diamantina, é um dos mais importantes nomes da música brasileira e fundador do lendário grupo Novos Baianos. Ao longo de sua história ao lado do grupo e depois em sua carreira solo, o músico foi responsável por álbuns icônicos da MPB, como 'Acabou Chorare', de 1972, segundo disco da banda, e 'Dê um Rolê' e 'Brasil Pandeiro', algumas de suas clássicas composições. Moraes faleceu em 2020, aos 72 anos, na Gávea, Zona Sul, vítima de um infarto agudo do miocárdio.
Agora, a sua trajetória adentra museus e a eternidade de ouvidos atentos à boa música. Após a estreia em Salvador, capital da Bahia, a exposição 'Mancha de Dendê não sai – Moraes Moreira' chega ao Rio, neste domingo (10), para uma temporada no Museu Histórico da Cidade, e fica em cartaz até 12 de fevereiro. O lançamento oficial será no domingo, às 12h30, com show do cantor Pedro Miranda com participação de Davi Moraes, o filho de Moraes Moreira.
Trata-se de uma imersão sensorial na história da música popular e da cultura brasileira por meio da vida e da obra de um dos artistas mais relevantes do país. Também apresenta uma retrospectiva abrangente de sua carreira, destacando sua versatilidade como compositor, suas parcerias musicais, suas incursões na literatura e suas raízes profundamente conectadas à Bahia.
Uma das salas é dedicada aos Novos Baianos, com projeções de partidas de futebol do grupo, em que o visitante pisa na mesma terra do campinho de futebol da Bahia.
Em um outro espaço, um jardim de alto-falantes foi montado para contar sobre a estreia de Moraes nos trios elétricos de Salvador, e o público ouve algumas das suas músicas em copos de liquidificador. Uma instalação sonora simula a passagem do trio pelo ambiente.
A ideia da exposição partiu do próprio Moraes Moreira, há seis anos. O desejo do artista era ter um lugar para falar sobre poesia e música, e também proporcionar momentos com o público: "Inicialmente, a mostra teria encontros presenciais, pois a história de Moraes é marcada por encontros, ele gostava de estar junto fisicamente. Por isso, tínhamos criado um espaço para este fim. Porém, no processo de concretização do projeto, perdemos o Moraes", conta Renata Mota, de 44 anos, curadora da apresentação, referindo-se à morte do artista.
O projeto seria desenvolvido para comemorar os 75 anos do músico, que começou a se apresentar aos 12, tocando sanfona em festas regionais da Bahia. Em 1966, Moraes Moreira saiu de Ituaçu e foi morar na capital, Salvador. Na cidade, conseguiu um emprego em um banco para se manter em uma pensão enquanto sonhava com em cursar medicina. No pensionato, conheceu Paulinho Boca de Cantor e Luiz Galvão com quem, mais tarde, junto com Baby Consuelo, formou os Novos Baianos.
Mesmo a mostra perdendo o seu objetivo principal, comemorar os 75 anos de Moraes, a família decidiu levar o projeto adiante, que estava sendo idealizado com a produtora cultural Fernanda Bezerra. Buscaram captação de recursos em editais de cultura e, ao serem contemplados, adaptaram a ideia, mas mantendo a essência inicial: ser um espaço de tributo à poesia, música e cultura nordestina.
"A exposição é uma imersão poética. Moraes era pura poesia, antes mesmo de ser músico ele era poeta. Ele contava a sua história através da poesia e da música. Assim, a exposição não poderia ser diferente, foi uma forma que a gente fez de ele se tornar ainda mais vivo na nossa história. Criar experiências para que as pessoas possam, de formas diferentes, ouvir seus poemas e músicas e entender o contexto em que viveu e tudo o que percorreu em sua trajetória", afirma Renata.
A família e a curadoria da exposição elegeram o disco "Mancha de Dendê não sai", de 1984, para nomear a mostra, a fim de dar luz ao trabalho, que não teve o reconhecimento adequado à época, reforçar a origem de Moraes, vindo do sertão da Bahia, e também a personalidade firme e forte do músico: "Ele lutou muito pelo o que acreditava, com destaque para a democratização do Carnaval de Salvador, indo contra as cordas dos trios elétricos. O nome do disco fala justamente sobre persistência", finaliza Renata.
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