Fábio Raposo Barbos prestou depoimento durante o julgamentoLucas Cardoso / Agência O Dia

Rio - Réu pela morte do cinegrafista Santiago Andrade, Fábio Raposo Barbosa prestou depoimento durante o julgamento, nesta terça-feira (12). O acusado disse que apenas entregou o rojão para Caio Silva de Souza, que também responde pelo homicídio, mas não chegou a ver o momento em que o explosivo foi acionado.
Fábio caiu em contradição em seu primeiro depoimento sobre o caso, quando alegou que não sabia do que se tratava o objeto que entregou a Caio. O réu alegou que, à época, seu advogado de defesa o orientou para que ele mentisse como forma de estratégia.
"Eu estava na praça e encontrei um objeto preto no chão, veio uma outra pessoa, me pediu. Essa pessoa foi para distante e eu não sei o que aconteceu. Não me recordo. Estava com os olhos muito ardidos. Tinha muito gás lacrimogênio. Eu não vi exatamente o que ele fez com o rojão. Escutei ele explodir, só não sei como que o Caio fez. Ele me pediu e eu entreguei para ele, não tinha nenhum objetivo", disse.
Santiago morreu após ser atingido pelo rojão na cabeça durante uma manifestação no Centro do Rio, em fevereiro de 2014. Durante a fala de Fábio, familiares do cinegrafista balançaram a cabeça, em sinal de inconformidade com as afirmações do acusado. 
"Ele [rojão] aparentava estar quebrado. Eu nem estava frequentando as manifestações na época, estava afastado. Eu estava ali apenas com o intuito de me manifestar, sem qualquer intenção de machucar ninguém. Eu soube quando fui para a Cinelândia. As pessoas estavam falando que a polícia tinha atingido um cinegrafista. Tarde da noite que concluí que o rojão passou por mim. Um amigo meu, que morava em Nova York, disse que tinha me visto na televisão. Essa imagem era o momento que passei o rojão", afirmou Fábio.
Audiência
Antes de Caio e Fábio, cinco testemunhas depuseram nesta terça-feira, sendo as três primeiras de acusação e as outras duas de defesa. O delegado Maurício Luciano, responsável pelo inquérito inicial do caso, foi o primeiro a falar no julgamento. Ele relatou que, durante as investigações, chegou a encontrar símbolos na casa de Caio que indicavam uma suposta ligação com "Black Blocks".
A defesa do acusado tentou desqualificar o depoimento, afirmando que o policial civil apresentou diversas contradições na sua fala. Em certo momento, o advogado Antônio Pedro Melchior chegou a acusar Maurício de falso testemunho.
Em seguida, foi a vez de Eduardo Fazulo, agente do Esquadrão Antibombas que realizou perícia no local do crime. A defesa dos acusados alegou que não era possível que os dois tivessem ciência da trajetória do artefato, versão que foi corroborada pela resposta do policial.
A terceira testemunha foi o fotógrafo Domingos Peixoto, que cobria a manifestação e tirou uma foto do momento do incidente. Ele relatou que a pessoa que acendeu o explosivo não prestou socorro à vítima. 
"Quando levantei a câmera para fazer as imagens, ele já estava correndo de costas para o artefato. Quando eu faço a sequência, o rojão sai e atinge o companheiro Santiago", disse Domingos.
Na sequência, foram ouvidas duas pessoas ligadas à comissão de Direitos Humanos da Ordem de Advogados do Brasil (OAB). O membro Luiz Rodolfo falou sobre a evolução das manifestações e a atuação da comissão. Ele foi questionado se a organização teria procurado a família de Santiago, mas não soube dizer. Familiares do cinegrafista que estavam presentes na audiência negaram: "Nunca. Nunca fomos procurados", disse Vanessa Andrade, filha da vítima.
Marcelo Chalel, que presidia a comissão na época do caso, depôs e questionou o fato de profissionais da imprensa não utilizarem Equipamentos de Proteção Individual (EPI).
"Perguntei se ele estava usando EPI, porque muitos estavam acompanhando sem qualquer equipamento e, inclusive, sem a identificação. Isso foi até pontuado em uma das reuniões que tivemos com a PM. Perguntei e a pessoa disse que não. Depois cheguei até a comentar com o pessoal da imprensa que estava lá : 'Está vendo, a manifestação esta acontecendo e vocês estão aqui sem equipamento de proteção'", relatou.

A juíza, então, questionou se ele também utilizava EPIs enquanto acompanhava os atos.

"Nosso uniforme é o terno. Também ficávamos em uma posição mais distante", justificou o ex-presidente da comissão.
Relembre o caso
O cinegrafista Santiago Andrade, de 49 anos, morreu depois de ser atingido na cabeça por um rojão enquanto cobria manifestação no Centro do Rio, em fevereiro de 2014. Caio Silva de Souza e Fábio Raposo foram acusados de soltar o explosivo e denunciados pelo MP por homicídio doloso triplamente qualificado (motivo torpe, impossibilidade de defesa da vítima e uso de explosivo).

Após ser atingido pelo rojão, Santiago ficou internado no Hospital Souza Aguiar por quatro dias e morreu em decorrência dos ferimentos. A explosão lhe causou afundamento no crânio.

Segundo a denúncia do MP, Fábio teria entregado o rojão para Caio "com a finalidade, previamente, de direcioná-lo ao local onde havia uma multidão, inclusive composta por policiais militares". Na época, os dois afirmaram que já se conheciam de outras manifestações e agiam juntos.