Lúcia Helena de Amaral Pinto, a Lucinha, do PSDDivulgação

Rio - A denúncia do Ministério Público do Rio (MPRJ) contra a deputada estadual Lucinha (PSD) mostra uma suposta conversa entre a parlamentar e um integrante da milícia chefiada por Luis Antônio da Silva Braga, o 'Zinho'. Em mensagens trocadas há cerca de dois anos, a deputada teria dito: " (sic) hoje longe. Mas, ontem, eu fiz minha parte. Acho que ajudei em tudo".
Em seguida, Lucinha, identificada como 'Madrinha' pelos criminosos, afirma que vai quebrar o celular e pede para que o miliciano apague toda a conversa e fotos. O contexto seria a liberação de dois homens que haviam sido detidos na Zona Oeste.
O MPRJ afirma que a deputada e a assessora Ariane Afonso Lima teriam ligações com Domício Barbosa de Souza, conhecido como 'Dom', que ocupa alto cargo na milícia de Zinho, atuante no reduto eleitoral da parlamentar.
Na denúncia são narrados cinco episódios nos quais Lucinha teria interferido para beneficiar a organização paramilitar, tanto para favorecer os interesses do grupo quanto para protegê-los de operações de autoridades policiais.
A primeira situação aconteceu em julho de 2021. O órgão teve acesso a uma conversa entre 'Dom' e Ariane, na qual a assessora informa sobre a data que o prefeito Eduardo Paes estaria na Zona Oeste. A investigação aponta que essa informação permitiu que o miliciano se programasse para "retirar das ruas sua tropa armada", impedindo a identificação e prisão de integrantes do grupo.
O segundo caso ocorreu entre os dias 9 e 14 de setembro de 2021. Conversas entre os três envolvidos apontam que Lucinha atuou diretamente para defender a "brecha da P5". O termo se refere ao transporte de vans nos bairros da Zona Oeste, maior fonte de recursos da milícia. Com isso, ela teria atuado para facilitar o esquema de vans ilegais na região.
O terceiro episódio é registrado entre setembro e novembro de 2021. Lucinha, utilizando o prestígio político, teria fornecido à Ariane informações sobre a investigação do homicídio do empresário Alberto César Romano Junior, que desapareceu em setembro. O veículo dele foi encontrado em Santa Cruz, na Zona Oeste.
Na conversa, Domício fala sobre a ligação do empresário com a organização criminosa e sugere que o homicídio foi realizado por uma milícia rival com o objetivo de incriminar o grupo de Zinho. A informação teria sido repassada à Lucinha para que ela informasse as autoridades policiais que investigavam o caso.
Em outro momento, Dom menciona o desejo de que seja realizada uma operação policial contra o grupo rival. O miliciano pede à Ariane que solicite à Lucinha para falar com o "presidente" na intenção de intervir em uma ação que estaria sendo adiada pelo "Doutor Amim", identificado como o delegado Marcos Amim, que foi titular da Delegacia de Combates às Drogas.
Já em novembro de 2021, outro integrante da milícia encaminha mensagens para Dom, afirmando que um homem teria levado "dinheiro alto" a várias delegacias da Polícia Civil com objetivo de "comprar" uma "mega operação". O nome de Lucinha é citado e os investigadores acreditam que os criminosos teriam intenção de que ela levasse as informações para uma pessoa não identificada.
O quarto acontecimento foi em novembro de 2021, quando a deputada foi acionada por Dom para que atuasse em favor dos milicianos que haviam sido presos em flagrante na posse de armas e fardas. O suspeito pede que Lucinha auxilie na soltura dos detidos.
Pouco tempo depois, a parlamentar encaminha uma mensagem de que a ocorrência estava sendo encaminhada à 35ª DP (Campo Grande) sem presos, apenas com as apreensões. No dia seguinte, a deputada afirma que "fez sua parte" e que "quebraria o telefone", orientando Dom a apagar as mensagens.
O último episódio constatado pelo MPRJ aconteceu entre novembro e dezembro de 2021. A deputada teria pedido trocas de comando no 27º BPM (Santa Cruz) após diversas solicitações feitas pela organização.
Por fim, a denúncia afirma que, somente no ano de 2021, Lucinha teria se encontrado pessoalmente com integrantes da milícia de Zinho em, pelo menos, 15 oportunidades.
A parlamentar prestou depoimento por cerca de duas horas na  Superintendência da Polícia Federal e foi liberada. Ela foi afastada por tempo indeterminado das atividades como deputada. 
Na casa da suspeita, alvo da Operação Batismo, a PF apreendeu duas pistolas calibre 22 e R$ 148 mil em dinheiro. Já no gabinete, os agentes confiscaram documentos e computadores.
O que dizem os envolvidos
O PSD, partido da deputada estadual, disse que acompanha pela imprensa, desde as primeiras horas do dia, a busca e apreensão e o afastamento do mandato da deputada Lucinha.
"A Constituição Federal garante o direito à ampla defesa, ao contraditório e à presunção de inocência. Nos últimos anos, vários foram os casos em que o pré-julgamento causou enormes danos aos envolvidos em investigações. Assim, o partido aguardará o acesso aos autos para emitir posicionamentos adicionais. O PSD reitera seu compromisso com a ética e a transparência em todas as esferas", disse em comunicado.
A Alerj informou que ainda não recebeu o comunicado do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro sobre a deputada Lucinha. "Assim que for informada, oficialmente, a Casa tomará as providências cabíveis com base na decisão judicial", disse em nota.
A reportagem tenta contato com a defesa da deputada Lucinha. O espaço está aberto para manifestações.