Caso está sendo investigado pela 5ª DP (Mem de Sá)Arquivo / Agência O Dia
Polícia investiga agressão contra mulheres trans na Lapa
Testemunhas afirmam que as moças foram espancadas por seguranças de uma casa de show. Estabelecimento diz ser alvo de fake news e nega qualquer agressão
Rio - A Polícia Civil investiga as agressões contra duas mulheres trans após um show de samba no Casarão do Firmino, na Lapa, na madrugada desta sexta-feira (19). Testemunhas afirmam que as vítimas foram espancadas por seguranças do estabelecimento após uma confusão na saída. A casa, no entanto, nega qualquer agressão por parte dos funcionários e afirma que eles foram atingidos por garrafas de vidro.
Em entrevista ao DIA, um motorista de aplicativo relatou que trabalhava no momento que uma garrafa de vidro danificou seu carro em frente ao estabelecimento. Ele saiu do veículo para gravar a cena com objetivo de acionar o seguro. A filmagem mostra que uma mulher tenta tirar seu celular e, em seguida, ele aparece com um ferimento no rosto. O homem afirmou que levou um soco e se sentiu acuado. No meio da confusão, uma garrafa de vidro atingiu o braço de um dos seguranças do estabelecimento.
De acordo com uma testemunha que preferiu não se identificar, o funcionário disse: "Achei que fosse mulher. Se eu soubesse, ia para cima". Nisso, o companheiro respondeu: "Depois leva porrada e diz que é homofobia".
"Até então, era um apaziguamento de uma briga e só se tornou um cenário de violência gratuita quando os seguranças identificaram que as mulheres eram trans. Ou seja, a violência foi motivada por transfobia. O papel de segurança não é agredir ninguém, qualquer gênero, raça... É garantir a segurança e, no máximo, chamar reforços. Não é a primeira situação de transfobia que aconteceu lá, mas é a primeira que vi que chegou a esse nível de violência", disse a testemunha.
Segundo os relatos de pessoas presentes, os funcionários da casa de shows passaram a agredir violentamente as duas mulheres trans que se envolveram na confusão com o motorista de aplicativo.
Um grupo, então, conseguiu fazer com que as duas entrassem em um táxi para que fossem embora. No entanto, o motorista não conseguiu deixar o local e as agressões continuaram.
"Os seguranças do estabelecimento estavam espancando as duas mulheres. Eram muitos seguranças e eles bateram muito nelas. Entramos no meio, tentamos segurar eles. Foi uma cena de muita covardia, tinha muitos seguranças. Uns sete ou oito em cima delas. Conseguimos separar e colocamos elas dentro de um táxi, mas eles continuaram as espancado dentro do carro. Uma delas estava completamente ensanguentada. Nunca tinha visto, foi muito doido. Caí, ralei meu joelho, mas não fui agredida por eles. Eu entrei no meio e não fui agredida, então identifico transfobia nessa ação truculenta", disse Laura Alves, de 34 anos, que presenciou a briga.
Laura afirmou ainda que este não foi o primeiro episódio de violência que viveu no Casarão do Firmino. "No sábado passado, por volta de meia-noite, estive lá. Na fila para entrar, uma menina caiu no meu pé. Estava acontecendo o mesmo que aconteceu ontem. Ela estava sendo espancada por uma segurança que, inclusive, está envolvida no espancamento de ontem. Eles operam assim: na porrada e no ódio", contou.
Mesmo com as mulheres no interior do táxi, os seguranças teriam pegado a chave do carro e feito uma barreira para impedir a saída. Além disso, testemunhas afirmam que alguns deles continuaram agredindo as duas dentro do veículo.
"Eu fiquei estarrecido: as meninas entraram num táxi e um dos seguranças tirou a chave do carro para que não saíssem de lá. Agrediram as meninas pelas janelas com vários socos, inclusive no rosto. Também escutei os seguranças comentando para aguardarem elas irem para esquina, pois ali não havia registro das câmeras do estabelecimento", relatou um homem que presenciou as agressões e preferiu não se identificar.
"Durante toda a agressão, foram proferidas falas transfóbicas. Diziam assim: 'a gente não ia fazer nada porque achamos que era mulher'. Ficamos preocupados porque eram muitos e chegaram a falar para esperar que elas fossem a uma rua onde não havia câmeras. A gente não sabia o que poderia acontecer. Pelo que me falaram, os seguranças removeram elas do estabelecimento e uma delas arremessou uma garrafa lá para dentro, atingindo um dos seguranças. Isso não justifica que elas fossem espancadas do jeito que foi", disse uma quarta testemunha que também preferiu o anonimato.
Em nota, o Casarão do Firmino afirmou que está sendo alvo de fake news. "O samba havia terminado quando um grupo, já do lado de fora, começou a arremessar garrafas em direção à grade onde ficam os colaboradores. Dois seguranças foram atingidos e, mesmo feridos, prestaram depoimento em sede policial, sendo encaminhados em seguida para exame de corpo de delito", comunicou o estabelecimento.
"O Casarão do Firmino, que é um espaço de resistência, alegria e amor, repudia com veemência todos os tipos de violência. Com a mesma força, combate qualquer mentira criada para ocultar os verdadeiros provocadores e culpados dessa confusão", concluiu.
Após as agressões, um grupo conseguiu levar as moças para a Rua Gomes Freire, onde uma viatura da Policia Militar foi acionada. Segundo pessoas que as acompanharam, os agentes teriam respondido de forma grosseira e sugerido que elas procurassem o Samu e não a polícia.
Após uma conversa, as duas foram encaminhadas à 5ª DP (Mem de Sá), onde o caso foi registrado. Em nota, a Polícia Civil informou que "os envolvidos foram ouvidos e os agentes buscam testemunhas e imagens de câmeras de segurança da região". As mulheres, os seguranças e o motorista de aplicativo prestaram depoimento na distrital.
O DIA tenta contato com a PM, mas, até o momento, não obteve resposta.
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