Entrada do Casarão do Firmino, na LapaReprodução / Google Street View
O vídeo apresenta três momentos: no primeiro, as mulheres não conseguem entrar no carro de aplicativo no canto inferior esquerdo da imagem. No segundo momento, enquanto o relógio marca 2h07, é possível ver o táxi ao fundo, no canto superior direito. Ele é cercado por homens até desaparecer às 2h08. Por fim, a imagem mostra que após o táxi deixar o local, uma aglomeração permanece onde aconteceram as agressões.
A deputada Renata Souza (Psol) colocou a Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Assembleia Legislativo do Rio (Alerj) à disposição das jovens. A vereadora Luciana Boiteaux (Psol) se solidarizou com as vítimas e afirmou que está à disposição para cobrar apuração do caso por parte das autoridades. A depurada federal Erika Hilton (Psol-SP) também ofereceu apoio às mulheres agredidas.
Segundo uma das vítimas, a confusão teve início na saída do show, quando uma delas foi empurrada por um homem em uma fila e a modelo o empurrou de volta. Nesse momento, as três, que estavam com outra amiga, foram levadas para fora à força por seguranças. Do lado de fora, uma discussão teve início. Quando as irmãs tentaram embarcar no carro de aplicativo que haviam pedido para ir embora, o motorista teria se recusado a levá-las, por estarem envolvidas na briga. Conforme o relato, o motorista, posteriormente, passou a filmar a confusão. Uma das mulheres, então, agrediu o homem, que, junto com os seguranças e vendedores ambulantes, teriam passado a incitar a violência contra o trio e as chamaram de "vagabundas".
Em entrevista ao DIA, o motorista de aplicativo relatou que trabalhava no momento que uma garrafa de vidro danificou seu veículo, em frente ao estabelecimento. Ele saiu do automóvel para gravar a cena com objetivo de acionar o seguro. A filmagem mostra que uma mulher tenta tirar seu celular e, em seguida, ele aparece com um ferimento no rosto. O homem disse que levou um soco e se sentiu acuado.
As três caminharam até a esquina do Casarão, ainda sendo alvo dos xingamentos. Um ambulante se aproximou delas e disse que só pouparia de agressões a mulher cisgênero. "Eu não bato em mulher, em homem eu bato", teria dito, mas acabou a agredindo com socos quando ela o chamou de covarde, momentos em que as irmãs tentaram contê-lo.
A modelo acrescentou que outros homens, entre os seguranças do estabelecimento e ambulantes, apareceram e a briga se tornou generalizada. "Pode espancar que é tudo homem", um deles teria falado.
Durante a confusão, a modelo acabou caindo e continuou recebendo chutes de diversos homens. Algumas mulheres chegaram perto delas e conseguiram as colocar dentro de um táxi, mas o grupo as seguiu e impediu que o veículo saísse, tirando a chave da ignição. Depois de alguns minutos, elas desistiram de ir embora no táxi e foram levadas pelas mulheres até uma viatura da Polícia Militar próxima. Com uma das irmãs desacordadas, a modelo abriu a porta da viatura e a colocou no banco de trás, mas os policiais teriam gritado para ela sair e chegaram a apontar as armas. Somente após elas explicarem a situação, eles disseram que se elas estavam feridas deveriam ligar para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e que só poderiam levá-las para a delegacia, o que foi aceito pelo trio.
Na delegacia, segundo a mulher, mais momentos de violência ocorreram. "Quando as pessoa veem duas travestis negras pedindo ajuda, elas entram em todos os estereótipos possíveis para poder deturpar a história e fazer com que (falem): 'Elas fizeram alguma coisa, elas causaram isso'. Toda hora a escrivã tentava deturpar, colocar que a gente estava em casa noturna, mas a gente estava no samba, colocar alguma conotação de que nós éramos prostitutas. Toda hora ela colocava em dúvida as coisas que a gente estava falando", desabafou.
Dois seguranças do Casarão e o motorista de aplicativo também foram ouvidos na distrital e as vítimas passaram por exame de corpo de delito. Uma delas teve o nariz quebrado, outra fraturou a costela. Para a mulher, o trio foi vítima do machismo e da violência de gênero.
A Polícia Civil informou na sexta-feira que "os envolvidos foram ouvidos e os agentes buscam testemunhas e imagens de câmeras de segurança da região". No entanto, a 5ª DP não atualizou mais o caso e não respondeu se conseguiu analisar imagens.
Queremos assegurar que somos comprometidos em promover um ambiente seguro e acolhedor no Casarão. A segurança e o bem-estar dos nossos frequentadores são sempre a nossa prioridade.
Estamos à disposição das mulheres envolvidas no caso para acolhimento, apoio e apuração dos fatos, assim como das autoridades competentes para o esclarecimento da lamentável ocorrência.
Desde já, o Casarão do Firmino se compromete a reforçar o treinamento de todos os nossos colaboradores, com o objetivo de garantir o respeito às diversidades - em especial ao público LGBTQIAP+, bem como racial e étnica - à dignidade humana e à liberdade de pensamento e de ideologia política.
Inaugurado em Setembro de 2022, o Casarão do Firmino já foi palco para mais de 200 shows e se tornou um espaço conhecido publicamente por seu ambiente de união e alegria, além de respeito à diversidade de seu público. Isto se reflete na escolha dos artistas que se apresentam na casa e dos profissionais dedicados ao atendimento ao público. O Casarão abraça e seguirá abraçando todos os tipos de públicos, tratando a nossa comunidade de forma isonômica e respeitosa, sem espaço ao racismo, misoginia, LGBTQIAP+fobia e xenofobia em nosso acolhedor ambiente."
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