Na foto, a comerciante Eva, que denunciou ter sofrido racismo na unidade do mercado Extra, do Largo do MachadoReprodução/Redes Sociais

Rio - Em depoimento na 9ª DP (Catete), o gerente do mercado Extra, no Largo do Machado, na Zona Sul, confirmou que dois funcionárias abordaram a comerciante Eva Moema Nascimento Oliveira, 41 anos, acusada de furto, no meio da rua. A defesa da vítima ressalta que a abordagem dos colaboradores na área externa causou grande constrangimento a ela, com uma atitude semelhante a de policiais militares.
Segundo o relato, ao qual O DIA teve acesso, o gerente disse que tudo começou após um dos encarregados de mercadoria da loja ter dado falta de caixas de leite em uma prateleira e apontado a mulher como suspeita.
No documento, o gerente afirmou que suspeitou de Eva devido ao carrinho de feira que ela levava, já que, segundo ele, o objeto seria muito utilizado como ferramenta para realizar furtos. Questionado sobre a abordagem do lado de fora da loja, o responsável pelo mercado afirmou que a atitude só foi tomada após conversar com uma vigilante da loja, que informou ter reconhecido a comerciante como uma cliente que já teria causado problemas anteriormente.
Ainda de acordo com ele, a abordagem teria sido respeitosa, não ofendendo a honra ou a etnia da comerciante. No depoimento, não foi mencionado o momento em que, segundo a vítima, funcionários teriam tentado convencê-la a não registrar o caso, oferecendo produtos em troca.
Ao DIA, o advogado de Eva, Rogério Gomes, afirmou que a atitude foi de responsabilidade do gerente, que respondia pela filial naquele momento, o que tornaria a situação muito mais grave, já que partiu dele a orientação aos colaboradores sobre a abordagem.
"Como ficou provada a orientação do gerente, é incontroverso a responsabilidade do mercado Extra no caso, já que ele responde pela filial", explicou.
O advogado ainda ressaltou que a abordagem na rua causou grande constrangimento a comerciante, que foi parada como se estivesse sendo questionada por policiais militares.
Na próxima segunda-feira (5), uma nova testemunha de acusação deve prestar depoimento. O caso continua em investigação na 9ª DP (Catete).
A tipificação do crime foi registrada inicialmente como 'fato atípico', mas acabou sendo mudada para injúria. O objetivo final da defesa é mudar a tipificação definitivamente por calúnia agravado por racismo.
Relembre o caso

Eva disse ao DIA que entrou no mercado para ver se encontrava camarão e após encontrar o produto, resolveu comprá-lo quando passasse novamente pela unidade para que o alimento não descongelasse. "Quando eu estava do lado de fora, veio um segurança e dois homens correndo atrás de mim na rua. Me perguntaram: 'senhora, não esqueceu de pagar nada não?'. Eu falei que não e pediram para abrir minha bolsa porque viram eu furtar um leite. Eu falei que eles não iam abrir minha bolsa e liguei para o meu advogado", contou.

A comerciante ainda revelou que nenhum supervisor ou gerente foi acionado para suporte e que os funcionários envolvidos no episódio teriam tentado convencê-la a não registrar o caso, oferecendo produtos que ela quisesse levar para casa.

Na delegacia, Eva contou também que um inspetor foi resistente em registrar o caso. "Eu só consegui fazer o boletim de ocorrência quando o meu advogado chegou. Ele perguntou: 'Cadê as outras partes envolvidas?'. Ninguém tinha encaminhado ninguém. Isso ia se declarar um flagrante de racismo e falsa acusação de roubo. Meu advogado conseguiu registrar o boletim de ocorrência, mas o inspetor colocou como fato atípico", completou.

Eva tem uma loja de quentinhas e também trabalha há mais de 13 anos vendendo acarajé no Renascença Clube, no Andaraí, na Zona Norte.