Rio - Buscando conciliar o amor por cortar cabelo e o sonho de ser cantor, o barbeiro Paulo Rodrigues, de 29 anos, decidiu deixar o estabelecimento onde trabalhava e montar seu próprio negócio há cerca de quatro meses. Ele estava insatisfeito com a falta de liberdade para poder se apresentar, já que nem sempre seus chefes o deixavam trocar o salão de beleza pelos palcos. Com isso, juntou um dinheiro para comprar um antigo carrinho de açaí, fez algumas reformas e o levou para a Praia do Pontal, no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste. Nesta terça-feira (6), ele conversou com o DIA após cortar o cabelo de um cliente.
"Às vezes, eu tinha que sair para fazer um show em algum lugar e eu não conseguia porque meus patrões não deixavam. Tive que bolar uma ideia para poder trabalhar para mim. Esse carrinho de açaí estava jogado, então eu vi e pensei: 'será que vai dar certo se eu colocar um espelho, pintar e levar para a praia'. Está dando muito certo! Todo mundo que passa elogia, fala que é legal, que nunca viram… Os gringos tiram fotos, sentam, cortam cabelo… O pessoal está gostando muito da ideia", disse.
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Já com alguns clientes fixos conquistados ao longo de seus 14 anos de profissão, Paulo explicou que muitos banhistas curiosos se aproximam e acabam cortando o cabelo. Com isso, o número de interessados varia de acordo com o público na praia.
"A maioria dos clientes gostam. Já chegam de sunga, pedem uma água de coco, mergulham… Tem dias que eu atendo quatro, outros que atendo oito… Depende muito. Nesse início de fevereiro, ficou um pouco fraco. Já no Natal e Ano Novo, eu atendi bastante. Geralmente, chego às 9h e vou embora por volta das 18h, quando o sol já está sumindo", comentou.
O barbeiro ainda explica que a quantidade de clientes cresce quando há turistas no Rio. Recentemente, houve um festival de surfe na Praia do Pontal e Paulo aproveitou para angariar clientes internacionais.
"Vieram pessoas de diferentes países, como Dinamarca, Escócia e Estados Unidos. Todos passavam comentando, cortei cabelo de muitos 'gringos'. Eles tiram fotos, mandam pros amigos lá de fora. Então é bem legal. Os gringos chegam com cabelo grande e pedem alguns cortes que quase não cortam. Teve um com cabelo imenso que pediu para aparar as pontas", relata o barbeiro.
"A maioria dos cortes são os populares aqui no Brasil, como o disfarçado, máquina zero, cortes com desenho, nevou, reflexo… Faço de tudo. Tem gente que pinta o cabelo e aí fica sentado na areia, bebendo e comendo com tinta na cabeça", complementou.
Entre alguns cortes, Paulo também aproveita para soltar a voz. Ele conta com mais de 30 mil seguidores em seu perfil na plataforma Instagram, onde publica alguns vídeos de suas apresentações. Com o dinheiro que tem feito com a barbearia móvel, ele tem investido na sua carreira como cantor.
"Cheguei com o sonho de ser cantor, já passei muita fome. Dias que eu não comia nada por conta do sonho de ser cantor. Trabalhei em um salão de beleza dentro da Cidade de Deus. Chegando lá, eu não ganhava dinheiro, passei aperto. Arrumei um outro salão para trabalhar perto da estação Gilka Machado, onde consegui alguns clientes e juntei um dinheirinho para comprar a barraquinha. Hoje em dia, está dando certo porque já passei por muita coisa. Deus viu minha luta, minha história, então tenho fé que Ele está me abençoando", disse.
Apesar de investir em sua carreira como cantor, Paulo não pensa em deixar a barbearia de lado. Inclusive, ele já está até pensando em comprar uma nova barraca.
"Além de ser cantor, eu também gosto muito de cortar cabelo. Então, também tenho o sonho de montar uma franquia de barbearia. Já estou querendo comprar outro carrinho para colocar em outro ponto da praia. Estou vendo que está dando certo, que o pessoal está curtindo a ideia. Para o futuro, meus planos são de montar uma franquia de barbearia para também fazer meu sonho na música acontecer. Cortando os cabelos, eu consigo investir na música", contou.
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